Diante de tanta inovação tecnológica e de mudanças cotidianas nos modos de fazer e de criar novas técnicas, como se coloca o engenheiro do século XXI? O tema, que tem despertado reflexões na área de engenharia, foi questão central do evento realizado nos dias 7 e 8 de novembro no Clube de Engenharia. Com a presença de grandes nomes das áreas acadêmica, técnica e empresarial, o encontro traçou perspectivas de desenvolvimento e apontou problemas no que se refere à modernização da profissão do engenheiro.

As linhas de debate foram: formação do engenheiro, qualificação de mão de obra, o impacto da chegada de estrangeiros no Brasil, pesquisa e desenvolvimento nas áreas de construção, energia e logística, além de reflexões sobre as matrizes educacionais nas instituições de ensino brasileiras. A parceria entre o Clube de Engenharia, a Universidade Estácio de Sá e o Conselho Nacional das Associações de Técnicos Industriais (Contae) contribuiu para que o evento fosse sucesso de público, gerando debates profundos entre a plateia e os membros das mesas. O secretário estadual de Ciência e Tecnologia, engenheiro Luiz Edmundo Costa Leite, falou sobre a importância da engenharia para o desenvolvimento do país, e, portanto, da necessidade de discutir amplamente o assunto. “Os engenheiros do passado tiveram papel importante para o desenvolvimento do país, hoje isso não é diferente. Mas destaco aqui os engenheiros militares, que foram fundamentais para a consolidação da república. Hoje o nosso papel está diluído entre outras profissões, mas engenheiros já chegaram a ocupar cargos que não são da área de engenharia, demonstrando a capacidade desses profissionais”, disse Luiz Edmundo, abrindo os debates.

Sobre as instituições de ensino, o engenheiro militar General Rodrigo Balloussier Ratton explicou a origem da Escola Nacional de Engenharia, que foi a primeira das Américas e a terceira do mundo. “Em 1810 foi criada a Academia Real Militar, que substituiu a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Depois, ela tornou-se a famosa Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, posteriormente chamada de Escola Nacional de Engenharia, Hoje, ela é a Escola de Politécnica da UFRJ”, contou. Para o General Ratton  é importante que os dirigentes de instituições de ensino saibam o que estão pensando os outros setores da sociedade. “Precisamos saber o que a sociedade precisa para fazermos os ajustes necessários na formação do engenheiro. Só assim a engenharia pode contemplar as necessidades da nação”, defendeu.

Na mesa também estavam o diretor do Clube, Jaques Sherique, que ressaltou a importância de se discutir as questões da engenharia contemporânea para que isso gere frutos e riquezas para o Brasil; o Capitão de Mar e Guerra Ivan Taveira Martins; o professor Harvey Cosenza; e a diretora de ensino do Grupo Estácio de Sá, Paula Caleffi. O Capitão Ivan Taveira abordou os programas da Marinha do Brasil para o desenvolvimento da engenharia nacional. Segundo ele, os programas são feitos com investimento de longo prazo, como acontece com submarinos e com o programa nuclear brasileiro.

Uma palestra sobre telecomunicações ministrada pelo Diretor Técnico do Clube, Marcio Patusco, deu continuidade ao primeiro dia do evento. Patusco falou sobre o papel das telecomunicações no desenvolvimento tecnológico brasileiro e sobre os desafios na área. Muito crítico aos serviços de telecomunicações brasileiro, o engenheiro falou sobre a Agência Nacional de Telecomunicações e seu importante papel para a garantia de serviços de qualidade. Patusco encerrou o debate falando sobre a presença de engenheiros estrangeiros no Brasil.

Dedicado às palestras técnicas, no segundo dia do evento um dos assuntos mais abordados foi o comportamento dos estudantes e profissionais em formação. Para o professor João Clavio, o poder do questionamento em sala de aula é inegável. “Não podemos nos formar na universidade com dúvidas, o medo de pesquisar novos assuntos, perguntar o que nos intriga não deve nos impedir de questionar. O engenheiro precisa ter noção de proporção, números, de onde é possível chegar. Ninguém pode chegar a esse patamar sem questionamentos”, afirmou. João Clavio encerrou dizendo que a capacidade de mostrar que as coisas são viáveis e de dominar tecnologias deve ser um dos objetivos do engenheiro do século XXI.

Sobre energia, o pesquisador Fernando Dart explicou a atual situação do país. Em fase de construção, um grande Laboratório de Medidas Eletro-Eletrônicas no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) significa o maior investimento no setor de energia atualmente e promete desenvolver a área de energia nacional. “Projetos da década de 70 eram copiados da Europa e dos EUA porque não se tinha confiança para desenvolver no Brasil. Hoje o desafio é nosso. Existem poucos laboratórios como esse em atividade no mundo. Esse é o único do hemisfério sul e o único país que tem outro desses é a China”, destacou.

Para encerrar, o engenheiro e ex-presidente do Clube de Engenharia, Raymundo de Oliveira falou sobre o programa Ciência sem Fronteiras e levantou a necessidade de desenvolver tecnologia própria no Brasil. “Desenvolvendo projetos aqui, teremos domínio para avançar cada vez mais. É fundamental criar, pesquisar e executar projetos de tecnologia no Brasil, coisas nossas, que nós dominamos e sabemos como mexer. Esse é um passo a ser dado”, concluiu.

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