Publicado em 11/03/2014 | Instituto Telecom | Nossa Opinião

É lugar comum dizer que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. Mas nas telecomunicações, 16 anos depois da privatização do Sistema Telebras, esse começo ainda não aconteceu. Ao contrário. Temos hoje as tarifas mais caras do mundo na telefonia fixa. Uma rede celular que tem o menor tráfego, qualidade sofrível e uma cobertura que deixa a desejar. Uma banda larga, que não é larga segundo parâmetros europeus ou norte-americanos. Um sucateamento da rede pública, com telefones públicos quebrados e sem manutenção.

E o problema não está só nos serviços. Estudos do Ipea mostram que “em 1997 os fornecimentos por empresas brasileiras do setor de telecomunicações para o mercado nacional atingiam cerca de 42%. Em 2008 esses fornecimentos só chegavam a cerca de 3%, fruto das importações empreendidas pelas prestadoras de serviços multinacionais que dominam os fornecimentos para o setor. Nossa indústria eletroeletrônica representa atualmente cerca de 4% do PIB, enquanto em países desenvolvidos atinge cerca de 12%. A Telebrás tem tentado incentivar a produção nacional com compras preferenciais aos produtos desenvolvidos localmente. No entanto, o reflexo no déficit da balança comercial é crescente já atingindo a casa das dezenas de bilhões de dólares”.

Os trabalhadores sofrem com os descalabros das operadoras. Terceirização em massa, salários aviltantes, condições de trabalho absurdas. Isto num setor que tem a principal infraestrutura, a banda larga, para fomentar  a educação, segurança, saúde.

É urgente a elaboração de um plano de resgate das telecomunicações brasileiras. Nada melhor que um ano em que teremos o debate sobre a renovação dos contratos de concessão da telefonia fixa, a Copa do Mundo no país, eleições para o Congresso Nacional e para a presidência da República ocorrendo ao mesmo tempo.

O Instituto Telecom e o Clube de Engenharia estão elaborando um projeto para ser encaminhado a todos os candidatos às Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado e presidência.  Vamos cobrar e divulgar quem é a favor ou contra o renascimento das telecomunicações públicas universalizadas, com tarifa/preço módicos e de qualidade. Uma política industrial que incentive a pesquisa, desenvolvimento e a cadeia produtiva nacional se faz urgente para reverter um processo que, antes da privatização do setor, tinha exatamente o sentido contrário, o superávit das exportações e uma indústria em crescimento.

O ano das telecomunicações tem que começar. Mesmo que seja com atraso de 16 anos.

 

*o artigo conta com conteúdo do Clube de Engenharia

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