No dia 9 de maio, em evento organizado pela Divisão Técnica de Recursos Minerais, chefiada pelo geólogo Benedicto Humberto Rodrigues Francisco, a memória de um grande profissional dividiu espaço com um dos debates mais relevantes no que diz respeito ao posicionamento estratégico do país na área da mineração. Francisco Eduardo Lapido Loureiro, falecido em novembro de 2012, fez parte de um grupo de geólogos que se uniu no esforço de criar uma cadeia produtiva para as Terras Raras no Brasil, em momento conturbado no qual a grande fornecedora mundial, a China, passou a usar os insumos ao invés de exportar.

Ronaldo Luiz Correa dos Santos, Coordenador de Processos Metalúrgicos e Ambientais do Centro de Tecnologia Mineral do Ministério de Ciência e Tecnologia apresentou os esforços realizados pelo Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), mais especificamente pelo professor Lapido, para que fosse instalada uma cadeia produtiva de elementos de terras raras no Brasil e, ainda, aspectos geopolíticos e econômicos relacionados à escassez de elementos de terras raras. Segundo Ronaldo, até os anos 90, o preço da mineração de Terras-Raras no mundo não era compatível com o dos produtos e  insumos, o que causou o desinteresse mundial. Em 2010, os preços saltaram e surgiram dificuldades no fornecimento de materiais de Terras Raras, concentrados e intermediários, quando a China deixa de exportar. “A projeção do desabastecimento de Terras Raras trazia consequências para a indústria de tecnologia e militar. Isso representou mudança de paradigmas para países que tiveram que buscar soluções próprias”, explica.

Enquanto o mundo via problemas, o Brasil viu oportunidades. A dependência da China no que diz respeito aos elementos de Terras Raras era grande e o desabastecimento, um cenário provável em curto prazo em todo o mundo. Por isso, a retomada da exportação das Terras Raras voltou à agenda governamental e o CETEM foi chamado a cooperar. “Tivemos a honra de trabalhar com Lapido, um dos geólogos que mais conhece Terras Raras no mundo. Ele trabalhou na tarefa de fornecer subsídios ao Ministério de Ciência e Tecnologia no sentido da viabilização de uma cadeia produtiva no país”, conta. Ronaldo falou também do livro lançado por Lapido. “Ele retrata toda a fase de turbulência e exigiu de Lapido um esforço muito grande de compilação de dados, atualização de informações e busca de veracidade”, declarou. Mediadora do evento, Maria Glícia da Nóbrega, geóloga do CPRM e conselheira do Clube, destacou a importância do tema e a necessidade de que ele seja discutido com maior frequência: "Nós, que trabalhamos com a geologia, sabemos da importância de encontros como esse para falar das Terras Raras, algo tão relevante para uma estratégia de país. Nessa área, é indiscutível o trabalho de Francisco Lapido Loureiro".

O potencial do Nióbio

O professor Edson Monteiro, conselheiro do Clube de Engenharia, ao proferir a palestra “O efeito do nióbio nas estruturas cristalinas ferrosas de baixo carbono – fato notável para a siderurgia brasileira” falou sobre o primeiro contato que teve com o Nióbio, ao se deparar com artigo de uma publicação científica americana que falava das experiências japonesas feitas a partir de um minério brasileiro que transformaria completamente a história da metalurgia, da indústria naval, e mudaria todos os parâmetros da indústria petrolífera. "Daí em diante o jovem professor passou a guardar e a estudar tudo o que lia e ouvia sobre aquele minério", lembra.

Embora tenha destacado a importância do Nióbio para o país e evidenciado que “toda colocação técnica guarda uma associação com aspectos ideológicos”, o professor preferiu se ater ao viés técnico. “É inevitável que, à medida que tomamos conhecimento dos aspectos científicos, se faça uma ponte com o aspecto ideológico que, nesse caso, se reflete na questão da soberania nacional. No entanto, optei por uma palestra técnica e não ideológica, por mais que ela seja óbvia no caso desse metal. Não posso, por exemplo, entrar em detalhes sobre determinados acordos internacionais que, na minha opinião, ferem o interesse nacional. Então, vou falar de aspectos técnicos que vão se somar ao panorama de grande valor que tem esse metal e o minério correspondente”, afirmou.

Usado como ingrediente indispensável para a construção de turbinas de aeronaves, tomógrafos, subconjuntos de foguetes e pela indústria nuclear, o Nióbio é uma das grandes riquezas do Brasil. O país possui 98% das reservas conhecidas em todo o mundo e o Ferro-Nióbio ocupa o terceiro lugar na pauta brasileira de exportação, perdendo apenas para o minério de ferro e o ouro. Em 2012, a exportação chegou a 71 mil toneladas. A partir desses dados básicos, o professor Edson falou sobre a importância fundamental do ferro-nióbio na metalurgia. Em palestra profundamente técnica e teórica sobre os fundamentos da metalurgia física e a importância do nióbio nesse contexto, Edson explicou que “a utilização do nióbio leva à redução de massa, de emissão de CO2, do gasto energético e de custo na estrutura para construção. Isso é provocado exclusivamente pelo fato do Nióbio ser capaz de inibir o crescimento de grão da austenita. Se nós olharmos em um livro de metalurgia quais são os mecanismos de aumento de resistência dos materiais, veremos que são raríssimos aqueles identificados como inibição do crescimento do grão de austenita. Em se tratando de estrutura física, construção metálica, é incomparável o benefício do nióbio, cujas jazidas estão nas Minas Gerais”, declarou.

 

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