Barragens: acidentes deixam lições sobre gestão

Os acidentes com barragens são históricos no Brasil, e, apesar dos danos, conferem a áreas de estudo e atuação como a engenharia civil e a geotecnia grandes lições. Em palestra no Clube de Engenharia, em 25 de outubro, foram lembrados alguns casos emblemáticos: barragem de Algodões, no Piauí; Barragem Açu, no Rio Grande do Norte; Camará, na Paraíba; e Santa Helena, na Bahia.

Participaram do evento “Segurança de barragens” os palestrantes Alberto Sayão, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e Carlos Henrique Medeiros, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e presidente do Comitê Brasileiro de Barragens/Núcleo Rio de Janeiro (CBDB/NRRJ), além do debatedor Geraldo Magela Pereira,engenheiro e membro do CBDB/NRRJ, e do coordenador Jorge Rios, professor do CEFET-RJ e conselheiro do Clube.

Decisões equivocadas
Segundo Alberto Sayão, entre 2002 e 2009 cerca de 800 acidentes com barragens aconteceram no Brasil. Um dos casos que o engenheiro apresentou foi o da barragem de Algodões, no Piauí, que sofreu ruptura em 2009. O empreendimento tinha precedentes: em 1997, durante a obra, o canal do sangradouro já se mostrava instável, com deslizamento de solo e blocos para o interior do canal. Dali em diante, por 12 anos ocorreram deslizamentos, movimentos de solos e obras de reparação. Apesar dos reparos, no início de maio de 2009 acontece o sangramento e erosão do canal do vertedouro e interdição do acesso à barragem. As obras emergenciais ficaram impedidas. Um detalhe grave na história foi a formação de uma comissão mista de socorro à cidade, que tanto em ata quanto em entrevista afirmou não haver possibilidade de rompimento da barragem. Foi liberado o retorno dos moradores ao local, mas em 27 de maio a barragem rompeu, atingindo mais de 600 famílias e causando 9 mortes. Um relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PI), um ano depois, diagnosticou projeto deficiente, uma vez que seus estudos geotécnicos não previram a instabilidade das encostas, e falta de manutenção.

Já a Barragem Açu, no Rio Grande do Norte, teve sua ruptura durante as obras de construção, em 1981. Foi causada por mudanças no projeto original, de modo que se juntou o núcleo com a trincheira de montante para formar um reservatório. A ruptura fez a barragem voltar ao ponto zero, e ela foi reconstruída. A Barragem de Camará, na Paraíba, rompeu com seu reservatório cheio em 2004, alagando várias cidades e causando cinco mortes. A ocorrência foi precedida por chuvas, com erosão e fraturas na estrutura, e também nesse caso é considerado um grande erro a mudança de projeto, além de falhas em investigação local e tratamento dos problemas.

Já a Barragem Açu, no Rio Grande do Norte, teve sua ruptura durante as obras de construção, em 1981. Foi causada por mudanças no projeto original, de modo que se juntou o núcleo com a trincheira de montante para formar um reservatório. A ruptura fez a barragem voltar ao ponto zero, e ela foi reconstruída. A Barragem de Camará, na Paraíba, rompeu com seu reservatório cheio em 2004, alagando várias cidades e causando cinco mortes. A ocorrência foi precedida por chuvas, com erosão e fraturas na estrutura, e também nesse caso é considerado um grande erro a mudança de projeto, além de falhas em investigação local e tratamento dos problemas.

Carlos Henrique Medeiros, presidente do CBDB/NRRJ focou no caso do acidente da barragem de Santa Helena, na Bahia, que rompeu em 1985. Construída entre 1976 e 1979, era uma barragem importante para o abastecimento de Salvador. O problema se deu na atenção da equipe a uma determinada seção vulnerável da estrutura, enquanto a barragem começou a ter problemas em outra parte, no muro do vertedouro. Também foi um caso precedido por anomalias, como fissuras, afundamento do maciço de terra e desalinhamento do meio fio.

Falta gestão para funcionar e transparência para ensinar
Um apontamento reforçado por Medeiros foi que umas das lições que se tem com os acidentes é que nem todos são causados por engenharia deficiente; em muitos casos é a gestão do empreendimento, como na ocasião de mudanças de projeto. O representante do CBDB aproveitou para criticar a falta de transparência nas perícias e outros procedimentos após acidentes de barragens, que tornariam mais fácil ao cidadão comum, engenheiros e demais interessados acessar os dados e informações. Medeiros atribuiu esse silêncio a uma “blindagem jurídica” dos envolvidos. “Poucos acidentes são documentados, infelizmente. O que nós pretendemos é romper essa barreira, disponibilizar as informações”, afirmou.

O assunto levantou o debate sobre responsabilidade dos engenheiros e as “barragens sem pai nem mãe”, que oficialmente não contam com um responsável técnico. Em depoimentos, participantes do evento que já trabalharam na área afirmaram que as construtoras, por ordem de executivos sem conhecimento técnico, forçam o cronograma deixando a obra vulnerável. A engenheira Roberta Soares opinou: “Nosso papel é de preservação da vida em primeiro plano".

O assunto levantou o debate sobre responsabilidade dos engenheiros e as “barragens sem pai nem mãe”, que oficialmente não contam com um responsável técnico. Em depoimentos, participantes do evento que já trabalharam na área afirmaram que as construtoras, por ordem de executivos sem conhecimento técnico, forçam o cronograma deixando a obra vulnerável. A engenheira Roberta Soares opinou: “Nosso papel é de preservação da vida em primeiro plano".

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