Encontro de tecnologia reúne 500 participantes no Clube de Engenharia

Estudantes de engenharia na faixa de 20 a 30 anos transformaram o fim de semana do Clube de Engenharia em uma verdadeira festa do conhecimento tecnológico e da ação solidária. Foram 380 inscritos, que somados a interessados nos temas, convidados e familiares contabilizaram 500 participantes em palestras lotadas e disputados workshops que apontavam para o futuro profissional.  O que garantiu a entrada de cada inscrito foi a doação de 2 kg de alimento não perecível por pessoa. Resultado: 600 kg arrecadados para o abrigo Doce Morada, instituição com sedes em Sepetiba e Santa Cruz que vive de doações, acolhe 77 idosos, 220 crianças e ainda mantém uma creche que atende 60 crianças de comunidades.

Palestras e workshops ficaram lotados durante a sexta-feira, 9, e o sábado, 10, com grupos que vinham de diversas cidades do interior do estado, inclusive em ônibus fretado. Na programação, destaque para a Copa Rio de Robótica: o que se viu foi o Clube de Engenharia com energia totalmente renovada.  Ao longo de toda a competição o espaço era dos estudantes: música alta, grande animação dos que viam seus trabalhos em ação representando suas universidades e fortes abraços de comemoração.

Assim foi o I Encontro Nacional de Tecnologia (I Enatec), fruto da soma de esforços do Clube com o grupo de robótica da Universidade Federal do Rio de Janeiro MinervaBots e a Confederação Nacional do Comércio (CNC). A proposta, que se concretizou plenamente, visou garantir aos estudantes de engenharia um evento de alta qualidade sobre tecnologia, com acadêmicos e profissionais da área e foco tanto na teoria quanto na prática.

 

Presença institucional

Na abertura oficial recepcionaram os estudantes o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino; o Capitão Rodrigo Faillace Buxbaum, representando o Secretário de Estado de Defesa Civil e Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Robadey Costa Júnior; Marianne Hanson, representando a Confederação Nacional do Comércio (CNC), patrocinadora do evento; Lucas Mota, graduando de Engenharia de Controle e Automação da UFRJ e ex-capitão da equipe de robótica da UFRJ, denominada MinervaBots; e o coordenador do I Enatec, Fernando Tourinho, Diretor de Atividades Técnicas e Conselheiro do Clube de Engenharia.

Anfitrião, Pedro Celestino comemorou as iniciativas da CNC e da Associação Brasileira de Veículos Aéreos Não Tripulados (Abravant), responsáveis pelos primeiros passos no sentido de estimular a participação da juventude em iniciativas de inovação tecnológica. “Estamos no alvorecer de uma transformação industrial no mundo que terá implicação na atividade humana e, especialmente na atividade dos engenheiros, e vocês terão a oportunidade de ouvir ideias de professores, de especialistas que se dedicam a esse tema da inovação e da repercussão que essa inovação terá no dia a dia das nossas profissões”, afirmou, registrando ainda que o I Enatec estimula o Clube a propor à Confederação Nacional do Comércio que leve a proposta para outras capitais do País.

Atuando na Coordenadoria de Operações com Veículos Aéreos Não Tripulados (Covant) no Corpo de Bombeiros, o Capitão Rodrigo Faillace Buxbaum , ao relatar com visível orgulho o histórico da instituição na área, destacou que a Covant, desde 2015, “utiliza veículos aéreos não tripulados, RPAs, no uso de salvamento, buscas, atuação e combate a incêndios e outras atividades mais inerentes a nossa profissão de bombeiro militar. E logo no início fomos designados para uma das missões mais importantes dentro do CBMERJ: dar apoio ao grupamento marítimo nos eventos de afogados”.

Em nome da CNC Marianne Hanson declarou: “Vivemos um momento no País de grande desafio. Aumentar o investimento, aumentar a produtividade, inserir o País nas cadeias globais produtivas é uma questão chave, fundamental para o desenvolvimento econômico e social. Ao mesmo tempo que no mundo vivemos um período de intensa transformação tecnológica e o país precisa se inserir neste processo".

Lucas Mota registrou as vitórias da MinervaBots. O grupo nasceu em 2012 com seis alunos de engenharia eletrônica e atualmente são 48 membros de diversas engenharias, contando inclusive com pessoas de fora da engenharia. “A MinervaBots tem como missão alinhar o conhecimento técnico e teórico da faculdade junto com a prática, através de projetos de robótica para formar melhores profissionais, melhores pessoas, melhores cidadãos”, comemorou.

Na coordenação do I Enatec, Fernando Tourinho participou da organização em um longo processo de construção que reuniu empresas, universidades e o Clube de Engenharia, formando o time que deu o apoio e consolidou o chão para o percurso de sucesso.  Na abertura do evento Tourinho fez a retrospectiva do trabalho, das dificuldades e das alegrias. Registrou ainda a presença do conselheiro Stelberto Soares, coordenador da Secretaria de Apoio ao Estudante de Engenharia (SAE), que ao lado do Secretário-Executivo Fernando Taranto, é o responsável pelo projeto que tem como principal objetivo construir as pontes que aproximam os futuros engenheiros do Clube de Engenharia. 

 

Workshops para o futuro

Nos três minicursos, o futuro próximo era a temática drones e moedas eletrônicas. Eduardo Paes Leme, diretor técnico do Núcleo de Tecnologia Profissional (NTPRO) e instrutor em cursos de operação e montagem de drones foi responsável por dois dos três minicursos oferecidos pelo ENATEC. No primeiro, Paes Leme apresentou em detalhes o aplicativo oficial de voo e as configuração de Drone da DJI e Litchi. A ideia era introduzir os alunos nos conceitos de montagem e pilotagem das novas tecnologias, com exemplos práticos do conteúdo ministrado e a oportunidade de “colocar a mão na massa” com os drones que o NTPRO apresentou. “Trabalhamos a tecnologia e a aplicação de telemetria, que passa a imagem em tempo real do equipamento para o controlador. Tratamos dos voos automáticos, voos inteligentes e a configuração de sensibilidade, ganho, velocidade, altura, níveis. Qualquer operador, a partir de agora, sem esses conhecimentos não consegue trabalhar com drones”, explica Paes Leme, que também reuniu os participantes, em outro momento, para abordar a montagem e pilotagem de drones de corrida, um esporte milionário que vem ganhando espaço em todo o mundo.

Victor Maia, representante da Stone Pagamentos levou ao ENATEC o minicurso sobre o blockchain, que nada mais é que o sistema que garante a segurança das operações realizadas com criptomoedas, conhecidas como bitcoins. “Apresentamos algum conteúdo sobre o Ethereum, um tipo específico de criptomoeda, análoga ao real, dólar, etc – desmistificando alguns conceitos como mineração, prova de trabalho, assinaturas etc.”, explica Maia. Segundo ele, “o Ethereum permite que se instale e interaja com programas de computador dentro dele. Isso possibilita um leque de possibilidades que com o bitcoin não era possível. O pessoal interagiu bastante. Eu planejei uma hora de palestra e o resto de prática, mas foram tantas perguntas que tivemos só 30 minutos de prática. As pessoas se interessam muito”, informou Maia. 

Embate de máquinas

O amplo espaço do 23º andar ficou pequeno com a lotação máxima da arquibancada montada ao fundo do salão, atrás do ringue onde os robôs da Copa Rio de Robótica se enfrentaram. Na sala paralela ao salão principal, grandes bancadas de trabalho reuniam dezenas de alunos de engenharia das instituições concorrentes em uma grande troca de informações. Na plateia, mais alunos, professores, familiares e amigos, todos torcendo muito pelos seus favoritos. No ringue, máquinas que refletiam a capacidade de jovens brasileiros, futuras e futuros engenheiros que construirão o Brasil do amanhã.

As expectativas eram altas entre as equipes que trouxeram seus robôs – trabalhos de anos em constante desenvolvimento e evolução – para a disputa. “Trouxemos um robô novo para essa competição e os demais receberam melhorias após outras competições. Ano passado, no Sumô 3 Kg RC conseguimos o 4º lugar no Winter Challenge, uma excelente posição. Entre os Seguidores de Linha também estamos confiantes e no Mini Sumô  também”, explicou José Eduardo, da equipe UFFight Robótica, da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Volta Redonda.

Gabriel Dias, capitão da MinervaBots, da UFRJ, destacou que a equipe vive um bom momento, com diversos membros experientes. As expectativas dos organizadores do evento também eram boas, até pelo histórico de sucesso que a equipe vem vivendo nos últimos anos. “Fomos convidados a ir a Tóquio, para o maior torneio de Sumô Autônomo e Rádio Controlado 3 Kg do mundo em 2014 e 2016, por ter ganho a prata e o ouro respectivamente, no Winter Challenge, o maior torneio do Brasil”.  

Para algumas das equipes, as expectativas foram superadas. A MinervaBots levou o ouro nas modalidades Seguidor de Linha, Sumô LEGO 1 Kg (na qual também levou a prata), Sumô Rádio Controlado e Sumô Mini 500g. O ouro na categoria Sumô Autônomo 3 Kg ficou com o único competidor da categoria, a UERJBotz.

Ao avaliar os resultados finais do evento Lucas Mota, da equipe organizadora da UFRJ e mestre de cerimônias da Copa Rio de Robótica e da premiação, agradeceu. “Foi bom demais fazer esse evento, que era um sonho nosso há anos. Obrigado, Clube de Engenharia, por ter ajudado a gente a fazer tudo dar certo”, finalizou.

 

Indústria 4.0 e Inteligência Artificial

Ficou clara a importância da automação dos sistemas industriais no futuro de curto prazo. Segundo João Carlos Basílio, professor da UFRJ na área de Controle e Automação, os robôs substituíram o trabalho manual em fábricas já na Terceira Revolução Industrial. A diferença para a quarta revolução – conhecida como Indústria 4.0 – está nos robôs mais autônomos e móveis, que deslocam-se sozinhos na linha de produção e estão conectados a um ambiente digital. Nessa concepção industrial coexistem computação em nuvem, Internet das Coisas e outros componentes no “sistema ciberfísico”, tudo interligado em uma rede cujos dados podem ser acessados a qualquer momento de qualquer dispositivo.

O professor Ramon Costa representou o Grupo de Simulação e Controle em Automação e Robótica (GSCAR), composto de estudantes e professores que estuda e desenvolve soluções na área. Segundo informou, as principais tecnologias disruptivas – que vão mudar as vidas das pessoas nos próximos anos – são os sistemas autônomos e a robótica avançada.

Bruno Leão, engenheiro de controle e automação, abriu o painel tratando de ciência de dados e aprendizado de máquina na indústria. O trabalho do cientista de dados, na visão de Leão, é utilizar um modelo simples, mas suficiente para o que se demanda, e que possa ser facilmente explicado às pessoas que não são da área. Dados apresentados indicam que apenas 1,6% da indústria brasileira tem produção inteligente, e o campo da Inteligência Artificial tem tido mais oportunidades em setores como comércio eletrônico e desenvolvimento de aplicativos. O palestrante se mostrou confiante quanto ao potencial do Brasil e dos brasileiros: “A demanda e o potencial são muito grandes. Se cada um buscar inovação, daqui a uns anos teremos notícias melhores”.

Robótica na medicina e na educação

O painel "Robótica na Medicina: a utilização de robôs e algoritmos de controle para solucionar problemas na medicina" foi apresentado pelo médico cirurgião Romolo Guida e o engenheiro eletrônico Frederico Jandre. Há 22 anos, Frederico Jandre entrou na área, quando começou um mestrado em Engenharia Biomédica após a formação em engenharia eletrônica. Em sua apresentação comentou tecnologias já acessíveis, como micro e nanodispositivos, assim como Internet das Coisas e ainda tratou de desafios para o futuro, como órgãos artificiais que representariam o fim dos transplantes, nanomáquinas autônomas que poderiam, por exemplo, desobstruir artérias, e a regulação das tecnologias de modo que não invada a privacidade dos pacientes. O cirurgião urologista Romolo Guida contou ter tido contato com o primeiro robô em sua área há 12 anos e apresentou o salto qualitativo dos procedimentos cirúrgicos com uso da robótica, destacando fatores como a possibilidade de manter um robô completamente parado, diferentemente de um humano. Para ele, um dos entraves de se ter maior aplicação de robótica na medicina hoje está numa questão jurídica: a legalidade em inserir um robô autônomo no corpo humano, provido de inteligência para realizar procedimentos. Segundo Guida, a falta de regulamentação para isso impede o investimento das empresas nessa tecnologia. Com extensa experiência, ele também vê a área em constante evolução: “Nós não sabemos onde vamos parar. Existe uma revolução médica em curso”.

No painel "Robótica na Educação: como o ensino de programação e robótica pode melhorar o processo educacional no Brasil?",  o cientista da computação Rubens Queiroz, especialista em informática aplicada à educação, apresentou projeto desenvolvido em seu mestrado, para ensinar crianças do Ensino Fundamental I a programarem robôs com material acessível ou reciclável. “A nossa ideia era desenvolver uma ferramenta que nos permitisse ver se só com tecnologia livre, ou seja, trabalhando com material reciclável, com uma tecnologia também de fácil acesso de robótica, conseguiríamos fazer as crianças desenvolverem algumas habilidades cognitivas que fossem importantes para o aprendizado delas como um todo e não só como ferramenta técnica”, esclareceu.

Por fim, a palestra que fechou o primeiro dia do ENATEC foi “Drones e suas aplicações: a nova tecnologia milionária”, com Eduardo Paes Leme, diretor técnico do Núcleo de Tecnologia Profissional (NTPRO), acompanhado de Marcio Melo e Marcelo Melo da mesma instituição, além de Fábio Tauk, diretor da empresa SkyVideo Brasil, que presta serviços com drones. Paes Leme comentou o uso crescente de drones para trabalhos de fotografia e filmagem, com destaque para casos em que seria necessária a utilização de helicópteros.

 

Valeu a pena
Os dois dias de ENATEC culminaram na cerimônia de premiação no salão do 24º andar, dirigida por Fernando Tourinho e pelos alunos da UFRJ. Antes da entrega dos troféus, Carlos Cardoso, diretor da Doce Morada, instituição que recebeu a doação de 600 kg de alimentos, agradeceu. “É com muita alegria que estamos no Clube de Engenharia para ratificar que é possível sermos solidários. Cada um pode contribuir com um tijolo nessa parede de solidariedade e ajudar as cerca de 18 mil pessoas que estão nas ruas, desempregadas, desamparadas, vitimadas pelas drogas. Com gestos simples como esse é possível fazer a vida dessas pessoas melhor. Agradecemos ao clube e aos alunos da UFRJ por essa doação”, concluiu.

As últimas palavras oficiais foram do diretor Fernando Tourinho: “Valeu a pena!” afirmou emocionado dirigindo-se aos estudantes: “ Não tenho a menor dúvida que o futuro do Brasil passa por aqui. E se nós não tivermos a grandeza e a humildade de estendermos as mãos para vocês, esse país não vai para frente. Para vocês, eu peço, por favor, que não se deixem levar pela notícia ruim. Infelizmente, a mídia tem um prazer enorme em nos deixar cada vez menores. Também por isso, por obrigação moral, como brasileiro, peço que participem da vida do Clube de Engenharia. Aqui conheci pessoas, empresas, encontrei oportunidades, participei e hoje faço um trabalho voluntário por amor, em retribuição ao que o país me deu”. 


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