"Mobilidade Urbana, Uma Questão Simples", por Celso Franco

Comandante Celso Franco foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e
presidente da CET-Rio

"Mobilidade Urbana, Uma Questão Simples". Com este título audacioso, compareci à sessão ordinária do Conselho Diretor do Clube de Engenharia, realizada no dia 16 de abril. Além da honraria, fruto do carinho do presidente do Clube, engenheiro Pedro Celestino Pereira, era para mim, face à excelência da plateia, uma verdadeira defesa de tese. Estava ali defendendo o meu projeto de utilização racionada das vias existentes, face a oferta ser muito inferior à demanda. A minha responsabilidade era acrescida  pela existência, na plateia lotada, de diversas “cabeças brancas”.

Procurei, ao iniciar, definir a filosofia da solução proposta, citando a frase de sir Alker Tripp, quando disse na década de trinta que “no trânsito, todas as soluções que possam ser implantadas através de medidas construtivas não devem ser impostas mediante restrições legais”.

Ainda referindo-me à filosofia de ingleses, a opinião do autor G.C. Forrester ao dizer: “não me preocupam os que não enxergam a solução, mas sim os que não enxergam o problema.”

E, em seguida, a opinião do engenheiro Alexandre Gomide, diretor de regulamentação e de gestão do Ministério das Cidades, publicada na edição de 5 de agosto de 2005, da Folha de São Paulo, quando disse: “O espaço viário é restrito. O acesso é irrestrito. O resultado são os congestionamentos. Isso precisa ser racionalizado”.

Encerrei a introdução à palestra com o lema do grego Constantínos Doxiális -- que enquanto vivo foi o maior urbanista do mundo -- que também adotei para mim, nas soluções para o trânsito: “Com a razão e o sonho. O sonho é a fantasia, a imaginação, a intuição. A razão é a matemática, as estatísticas, e tudo que for necessário a fazer do sonho realidade”.

Em seguida, expliquei de maneira sucinta e clara como funciona o sistema URV (Utilização Racionada das Vias), com a utilização do transporte solidário entre donos de carro, e o incentivo de prêmios em dinheiro em sorteios semanais aos motoristas que utilizam este sistema, em obediência à recomendação de Sir Alker Tripp.

Enfatizei que a renda do sistema URV nos permitiria tornar gratuito o transporte por  ônibus, subsidiado totalmente pela Prefeitura.

Comentei que, segundo Dom Henrique Peñarosa, urbanista colombiano e entusiasta da solução do BRT como transporte de massa, a solução dependia mais da coragem política do que da ação do técnico. Aproveitei esta “deixa” do colombiano para criticar os políticos, comentando que não era certa a expressão falta de coragem política, mas a pior das covardias, a moral.

E, já que iniciara citando Doxiális, encerrei citando-o: “Se as nossas cidades agonizam, não são, nem a falta de tecnologia, nem a explosão demográfica, nem a sociedade de consumo, nem quaisquer outros pretextos comumente e comodamente invocados hoje, que são responsáveis por este estado de coisas, mas nós mesmos. A crise da civilização urbana é uma é uma crise de imaginação e de coragem.”

De minha parte, com o projeto URV, estou superando a crise de imaginação. Quanto à crise de coragem, esta cabe aos nossos péssimos políticos, que nos governam, superá-la.

Fui aplaudido com entusiasmo pela seleta plateia e, culminando, ao me retirar, recebi, com agradável surpresa, um forte abraço do engenheiro Roberto Saturnino Braga, nosso ex-prefeito.

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