Alagamento na Rua Jardim Botânico após as chuvas que atingiram o Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Por Washington Fajardo, arquiteto e urbanista
Publicado em O Globo (10/04/2019)

O número de mortos é a evidência científica que expõe como a prefeitura do Rio não está preparada para lidar com os paradigmas urbanos do século XXI.

O desgoverno Crivella não apenas não compreende a cidade e suas complexidades, como não empenha recursos — humanos, materiais e financeiros — na boa condução do cotidiano, a chave mestra para as grandes soluções urbanas.

A gestão de uma grande cidade é o acúmulo de pequenos detalhes atrelados a uma visão compartilhada com a população. Falta tudo a Crivella. Dedicação, inspiração, energia, gerenciamento, comunicação e liderança. Em breve faltará aos cariocas uma cidade. Para alguns, hoje, a vida já faltou. É revoltante.

Cariocas, vamos nos organizar! Faço algumas sugestões.

Medida Zero: eliminar risco.

Prioridade máxima para quem vive em área de risco. A prefeitura sabe quem são e onde estão. Aja agora! Reassente, leve para aluguel social, proteja as crianças, faça a contenção de encostas. Contrate uma liderança local e ouça a população. Não use intermediários políticos. As famílias sabem resolver, mas não vacile em exigir segurança.

Primeira ação: comunicação.

E engajamento.

Se há uma temporada de chuvas notória, logo a prefeitura deveria liderar um esforço cívico, onde TODOS assumiríamos hábitos novos. Desde não jogar lixo nas ruas, encostas e rios, até nos comprometermos com a segurança uns dos outros, dentro das realidades locais e sociais. Equidade de segurança. Faça reuniões também fora da época de chuvas. Estabeleça a Semana da Segurança Para Todos. Igrejas e principalmente as escolas são a base dessa mudança. Crianças são sábias. Prestemos atenção nelas.

A cidade tinha um Plano Verão, mas foi descontinuado.

Segunda ação: urbanização tropical.

Cidades inteligentes priorizam tradições urbanas. Não haverá futuro no Rio sem árvores. O programa de reflorestamento precisa ser retomado, e a arborização urbana precisa ser encarada como uma infraestrutura crítica. Chega de podas burras que desequilbram árvores. Precisamos irrigar e cuidar. Quem investir em árvores hoje irá colher sombras para os filhos. E uma cidade com menos ilhas de calor e menores choques térmicos de massa de ar.

Combater a impermeabilização do solo urbano. Não priorizar asfaltamento. Estimular tetos verdes. Organizar espaço público, pois lixo e confusão pioram situações de estresse. O Centro de Operações deve obedecer a seu foco principal. Lixo em encostas requer atenção, e multas devem ser aplicadas após ação educativa. Manutenção e limpeza de drenagem devem ser constantes, e seu orçamento deve ser transparente. Vereadores também são responsáveis. Canais de escoamento devem ser dragados com prioridade e seu leito, renaturalizado. Sirenes em toda a cidade. Devemos ter pontos de reunião de segurança em espaços públicos, como existem em lugares com terremotos, assim como integração do mobiliário urbano para avisos de emergência.

Terceira ação: planejamento urbano eficaz.

Crescimento de favelas deve ser controlado urgentemente. Política habitacional já. Planejar e projetar com as bacias hidrográficas. Controlar expansão urbana. Aplicar outorga onerosa na Barra e investir na Zona Norte. Mudar códigos de edificações em áreas alagáveis para que tenham porões mais altos, como se fazia no passado.

Sempre teremos chuvas, mas não precisamos ter mortes. Sempre teremos prefeitos, mas não precisamos de incompetentes.

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