Rua da Carioca: debate levanta possibilidades para a revitalização

Cenário atual da Rua da Carioca: lojas fechadas e poucos pedestres. Imagem: Google Street View.

A Rua da Carioca, uma das mais tradicionais do centro do Rio, nasceu como Rua do Egito em finais do século XVII, já passou por reformas urbanas e tombamento de seus edifícios, abriga o mais antigo cinema em funcionamento da cidade – o Cine Íris – mas hoje se encontra em estado de abandono. Por isso, o Clube de Engenharia e o Centro Cultural da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SEAERJ) deram o pontapé inicial no Projeto de Revitalização Turístico-Cultural e Urbana da Rua da Carioca, com a elaboração de um documento preliminar de diagnóstico da região. Um diálogo aberto com os comerciantes e representantes de entidades interessados na revitalização foi realizado no dia 19 de fevereiro, com a mesa redonda "Rua da Carioca: potencialidades e problemas". A mesa foi mediada pela ex-diretora do Clube Carmen Lúcia Petraglia, na ocasião representando o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), Luiz Antonio Cosenza.

O evento teve a participação de presidentes e representantes do Clube de Engenharia, SEAERJ, Associação dos Antigos Alunos da Politécnica (A3P), Instituto dos Arquitetos do Brasil - Rio de Janeiro (IAB/RJ), Polo Rio Antigo, Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Programa Polos do Rio da prefeitura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Polo Novo Rio Antigo, Sociedade Amigos da Rua da Carioca e Adjacências (Sarca), Bar Luiz, Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) e Real Gabinete Português, além da ilustre presença de Saturnino Braga, ex-prefeito do Rio e atual diretor-presidente do Centro Celso Furtado.

A questão da Rua da Carioca não é simples, e nela uma coisa leva à outra. Envolve a crise econômica da cidade, a especulação imobiliária que se intensificou nos últimos oito anos, a má conservação de suas calçadas, ruas e praça, dentre outros fatores. Para o presidente Pedro Celestino, é um dos retratos do Centro da cidade, num contexto de fechamento de inúmeros estabelecimentos e aglomeração de moradores de rua e trabalhadores informais nas calçadas. O encontro de entidades, sócios do Clube e frequentadores da Rua da Carioca no projeto levantou algumas propostas iniciais em prol da revitalização.

A turismóloga Marisa Cardoso, analista do Sebrae, apresentou alguns projetos da instituição que visam a tornar pequenos negócios mais competitivos e atraentes turisticamente. Segundo ela, as demandas para a Rua da Carioca poderiam ser inseridas dentro do programa Investe Turismo Rio Antigo, um dos braços do Investe Turismo, programa federal que trabalha com acesso a crédito, inovação e apoio a marketing de novos negócios de modo a aumentar a atratividade. Por parte da prefeitura, também são pensadas novidades. Waldir Peres, coordenador do Programa Polos do Rio, acredita que uma saída para a Rua da Carioca está no decreto 31.473/2009, que cria polos gastronômicos e culturais para a cidade. Segundo ele, neste caso poderia ser desenhada uma Parceria Público Privada que fortalecesse projetos comuns de segurança, iluminação, organização de eventos, etc.

Mas olhar para o futuro não é suficiente para resolver as questões da Rua da Carioca; é preciso resolver problemas do presente. Um deles é a experiência que esta proporciona em termos de infraestrutura. Danielle Hoppe, Gerente de Transportes Ativos do ITDP, apresentou o Índice de Caminhabilidade da Rua da Carioca medido em 2016 pela instituição. Segundo ela, alguns dos pontos mais problemáticos são a segurança viária, incapaz de evitar atropelamentos; a "transparência" da rua, que significa o quanto pedestres conseguem ver lojistas e vice-versa, índice prejudicado pelo excesso de comércio fechado; e a segurança pública, uma vez que a Praça Tiradentes, num dos extremos da rua, é um local com grande número de furtos. "A questão da Carioca hoje não depende de obra que possa melhorar, é uma questão de planejamento e gestão. Temos que entender qual é a melhor circulação para aquele entorno, quais são os mecanismos que fazem a gente manter comércios vivos", afirmou.

Outro problema do presente é a especulação imobiliária. No ano de 2012, dezenove imóveis da rua foram vendidos para o banco Opportunity Investment Fund, que em pouco tempo dobrou o valor dos aluguéis. Para a loja Guitarra de Prata, por exemplo, o valor aumentou de sete para quinze mil reais mensais, o que causou a saída da loja de instrumentos musicais existente desde 1887, atualmente na Tijuca. Para Manoel Vieira Gomes Júnior, superintendente do IPHAN, uma forma de conter essa especulação é implantar na área o IPTU progressivo: o valor do imposto aumenta caso o imóvel seja subutilizado. Segundo Manoel Vieira, já existe uma lei sobre isso, atualmente "parada" na Câmara de Vereadores. Outro caminho que ele vê é aproveitar o título da cidade como Capital Mundial da Arquitetura, e a proximidade com o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, em julho, para lançar um edital de Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) voltado para a preservação do patrimônio. "A questão do ISS específico para patrimônio é fundamental para garantir investimento em projetos de qualidade para requalificar a cidade", defendeu.

Diante de tantas colaborações no evento, os organizadores se comprometeram a atualizar o projeto de revitalização e marcar outros encontros para traçar ações.

Acesse o documento preliminar aqui.

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