Ex-presidente do INPE, Ricardo Galvão recebe prêmio internacional por responsabilidade científica

Ricardo Galvão na USP, onde leciona desde 1983. Foto: SEESP.

Com informações da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAS) e do Observatório do Clima.

O físico e professor da USP Ricardo Galvão será homenageado este ano por sua responsabilidade e comprometimento com a Ciência. Ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Galvão foi demitido pelo Governo Federal em agosto de 2019 após defender publicamente a confiabilidade dos dados científicos que comprovavam aumento no desmatamento da Amazônia naquele ano.

O Prêmio Liberdade e Responsabilidade Científica é oferecido pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) para homenagear cientistas que demonstraram responsabilidade e/ou liberdade científica em circunstâncias particularmente desafiadoras, às vezes colocando em risco sua segurança física ou mesmo carreira.

Quando o presidente Jair Bolsonaro atacou a legitimidade de dados do INPE que mostravam o aumento dramático no desmatamento na Amazônia, Galvão defendeu os números:

“O professor Galvão defendeu a ciência sólida em face da hostilidade”, disse Jessica Wyndham, diretora do Programa de Responsabilidade Científica, Direitos Humanos e Direito da AAAS. “Ele agiu para proteger o bem-estar do povo brasileiro e da imensa maravilha natural que é a floresta amazônica, um patrimônio mundial”.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tem reputação internacional como líder no uso de satélites para detectar extração ilegal de madeira e queimadas em florestas tropicais. O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) da agência pode detectar o desmatamento ilegal com rapidez suficiente para dar às autoridades policiais a chance de pará-lo.

Em julho de 2019, no entanto, ele começou a ser atacado pelo presidente, que o acusou de mentir e estar “a serviço de alguma organização não governamental”, após o INPE ter publicado um relatório mostrando que houve um aumento de 88% no desmatamento na Amazônia em comparação com o ano anterior. O relatório citou uma possível ligação entre a eleição de Bolsonaro e o aumento pronunciado da degradação da terra.

À época, os dados do INPE mostraram um total de 4.701 quilômetros quadrados de terra que haviam sido desmatados na primeira metade de 2019, um drástico aumento dos 2.809 quilômetros quadrados que haviam sido desflorestados na primeira metade de 2018. Galvão negou as afirmações de Bolsonaro, qualificando-o como não adequado para um presidente do Brasil.

Bolsonaro, porém, continuou o ataque. Durante uma conferência de imprensa em 1º de agosto, ele alegou que os números eram fabricados para prejudicar o governo e o Brasil. O INPE então publicou um pronunciamento para reafirmar sua confiança na qualidade dos dados, e Galvão foi demitido em 02 de agosto. Ele continua a atuar como professor de física aplicada na Universidade de São Paulo, onde trabalha desde 1983.

Desde sua saída do INPE, o professor não para de se pronunciar contra o que considera a hostilidade de Bolsonaro em relação à ciência. Um artigo da revista científica Nature o nomeou uma das “dez pessoas mais influentes na ciência em 2019”.

Em agosto de 2019, Galvão afirmou em entrevista estar muito preocupado com a taxa de desmatamento da Amazônia, não apenas como cientista mas como cidadão brasileiro. Afirmou ainda que o líder de qualquer país deveria estar ciente de que em assuntos científicos a autoridade é da ciência.

A cerimônia de premiação, que ocorre desde 1980, será realizada em 10 de fevereiro de forma virtual durante a 187ª Reunião Anual da AAAS. Em resposta ao anúncio do prêmio, Galvão publicou um texto de agradecimento:

“Estou profundamente grato à American Association for the Advancement of Science por me conceder o Prêmio de Liberdade Científica e Responsabilidade. Como latino-americano, receber este prêmio é bastante significativo não só para mim, mas também para muitos outros companheiros cientistas que, em diversas ocasiões, reagiram bravamente a políticas negacionistas de poderosos líderes políticos em relação à preservação da floresta amazônica. Muito obrigado”.

 

 

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