Sociedade civil se organiza pela gestão do Parque Estadual da Chacrinha, um paraíso natural em Copacabana de enorme valor antropológico e histórico

Parques urbanos foram criados para que a população dos grandes centros pudesse ter mais contato com a natureza. Mas não é só isso, os parques também ajudam a regular a temperatura e umidade das cidades, além de reduzir os níveis de poluição do ar. O Rio de Janeiro conta com parques conhecidos, como o que é abrigado pela Floresta da Tijuca, cercado de Mata Atlântica. Outro exemplo, nem tão conhecido pelo público, é o Parque da Chacrinha, localizado em Copacabana, um dos bairros mais populosos do Rio de Janeiro, Considerado um dos tesouros da Zona Sul carioca, o Parque da Chacrinha foi tema de uma série de eventos virtuais organizados pelo Clube de Engenharia, por meio de suas divisões técnicas especializadas de Recursos Naturais Renováveis (DRNR), Recursos Minerais (DRM) e Geotecnia (DTG).

A sociedade civil tem se organizado para garantir a preservação do Parque da Chacrinha, através de uma gestão horizontalizada e com atenção do Poder Público. O objetivo é solucionar questões preocupantes que foram, inclusive, debatidas nos eventos. As atividades virtuais também pretendiam apresentar o Parque para mais pessoas, somando esforços nas lutas pela sua preservação e gestão consciente. Foram, ao todo, cerca de seis horas de palestras, debates e apresentações artísticas divididas em dois eventos com lotação máxima nos dias 29 de abril e 13 de maio. A série comemorativa terminou com a publicação de dois documentários produzidos pela Embrapa Solos.

Riquezas naturais e registros antropológicos

Entre os destaques estão os aspectos geológicos do parque, cuja paisagem é dominada pelo costão do morro de São João, uma formação de gnaisse facoidal. A rocha que compõe todo o morro e oferece a base de sustentação para o parque é também predominante no morro da Urca e no Pão de Açúcar e, segundo o professor da UFRJ e presidente da Associação Profissional dos Geólogos, Renato Cabral Ramos, que coordenou o evento, “a mais carioca das rochas”.

Entre as formações rochosas naturais é possível encontrar diversas construções humanas que datam dos séculos XVIII e XIX. São plataformas de uso militar escoradas com muros de alvenaria de pedra seca, construídos por mão de obra escrava. “Há uma história humana por trás desses muros. Pessoas escravizadas quebraram aquelas pedras e construíram esses locais. São elementos de geodiversidade feitos com rochas locais. O parque tem um grande valor para diversos campos da ciência e da cultura, que precisam ser evidenciados sempre”, explicou Ramos.

Para Camila Agostini, professora do departamento de arqueologia da UERJ, a riqueza histórica do parque chama atenção. “Em 2015, eu e dois estudantes levantamos o potencial de pesquisa arqueológica na Chacrinha, incluindo o reconhecimento de materialidades, estruturas, vestígios de superfície, levantamento de documentação e arquivo, manuscritos, fotografia, iconografia, além do que aflora do chão, algo extremamente importante para a arqueologia. A porta para o passado daquele espaço está no chão, que revela vestígios de uso cotidiano e do desmonte do que havia ali no início da década de 1970”, afirmou Agostini.

Em abril de 2019, quando fortes chuvas causaram um deslizamento natural no Parque da Chacrinha, uma espécie de Jequitibá de Manta acabou pendurada em um penhasco a 90 metros de altura. A professora Patrícia da Rosa, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pesquisadora do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, destacou que esta espécie de Jequitibá está em perigo de extinção. A luta para salvar o exemplar vem sendo encampada por Ibá dos Santos, chefe da Divisão Técnica de Recursos Naturais Renováveis e ex-gestor do parque, desde que a encontrou em perigo na mata. “A presença de espécies em extinção ampliou a nossa visão do quão importante é cuidar do parque. Esse deslizamento de terra foi uma lição que aponta para a necessidade de uma gestão integrada, que busque cumprir as metas de desenvolvimento sustentável e preservar essas espécies”, destacou.

Ibá conta com o apoio do professor, biólogo e analista ambiental Leandro Cardoso. Ele vem trabalhando com a flora de Copacabana desde 2007, quando conquistou uma bolsa de iniciação científica na área. Seu trabalho de conclusão de curso propôs a ampliação do parque, englobando a Área de Proteção Ambiental (APA) do Morro de São João. Dados levantados pelo professor e apresentados no evento são preocupantes: o parque abriga 26 espécies ameaçadas de extinção (11% das encontradas ali), 18 delas com distribuição restrita ao Rio de Janeiro. Para Cardoso, uma solução possível seria a ampliação do parque, englobando a Área de Proteção Ambiental (APA) do Morro de São João. O trabalho do pesquisador ajudou a sustentar a criação do Parque Natural Municipal Paisagem Carioca, considerado uma vitória para a preservação desses remanescentes de Mata Atlântica.

O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, falou sobre o que um movimento tão amplo e plural representa hoje para o país. “Em tempos de tragédias continuadas, uma pandemia que já ceifou a vida de mais de 500 mil pessoas, encontrar pessoas solidárias, tão diversas entre si, mas que se unem em benefício da preservação do meio ambiente, traz alegria. Essas mobilizações me fazem acreditar na humanidade”, destacou o Celestino.

O evento teve o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj) Sindicato dos Engenheiros no Estado Rio de Janeiro (Senge-RJ). Contou também com a participação ativa de diversas entidades profissionais, da sociedade civil organizada e do Poder Público, como a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado do Rio de Janeiro (Aearj), Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Estado do Rio de Janeiro (Apeferj), Associação Profissional dos Geólogos do Estado do Rio de Janeiro (APG-RJ), Embrapa Solos, Associação de Moradores da Praça Cardeal Arcoverde, entre outros movimentos, entidades e grupos organizados.

Você pode assistir os vídeos do evento na íntegra no YouTube do Clube de Engenharia:

1º dia de evento

2º dia de evento

Curta comemorativo 01

Curta comemorativo 02

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo