Autovistoria predial de gás: uma nova cultura é necessária

O palestrante destacou a importância de realizar a manutenção das instalações, a fim de evitar acidentes. Foto: Pixabay

Em 2011 um restaurante na Praça Tiradentes foi pelos ares. Três pessoas morreram e 17 ficaram feridas. Na ocasião já havia uma crescente demanda social pela prevenção. As instalações de gás estavam na pauta do dia graças ao processo de conversão do gás manufaturado para o gás natural, iniciado em 1997. Em dez anos – o processo terminou oficialmente em 2007 –, ficou clara a necessidade de uma inspeção periódica para que fosse garantida a segurança. A primeira legislação sobre o tema, que entrou em vigor em 2007, a Lei 762, do deputado estadual Alexandre Molon, estabeleceu a vistoria obrigatória quinquenal. A partir dela a Lei 6890 garantiu a autovistoria predial de gás obrigatória.

Para contar essa história, apontar incongruências entre as legislações vigentes e destacar a importância da autovistoria na prevenção de acidentes envolvendo o fornecimento de gás, o Clube de Engenharia recebeu, no dia 17 de outubro, Maurício Gonçalves. Instrutor técnico do Senai há 13 anos, professor de autovistoria predial de gás, consultor técnico acreditado junto ao Inmetro e técnico em edificações há 17 anos, ele foi recebido pela Diretoria de Atividades Técnicas e pela divisão técnica de Engenharia Econômica (DEC), com o apoio das DTEs de Construção (DCO), Exercício Profissional (DEP), Manutenção (DMA) e Engenharia de Segurança (DSG).

A história das vistorias nasceu no Rio e não podia ser diferente. Maurício lembrou que o estado foi o pioneiro no setor. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, foi o responsável pela criação de uma malha de iluminação a gás na então cidade de São Sebastião. “Nesse primeiro momento, os funcionários passavam pelas ruas acendendo os lampiões. Mais à frente, em 1854, fundou uma companhia de gás para uso residencial. Sem o apoio imperial, o barão teve que ceder o setor aos ingleses, depois passado para outros poderes e, mais tarde, voltando para o governo”, conta.

Complemento e conflitos
A lei de autovistoria mais conhecida, a 6400 de março de 2013, nasceu de um esforço conjunto que incluiu a participação direta do Clube de Engenharia. Maurício destaca que as legislações, nesse caso, se complementam: “A lei 6400 estabelece uma inspeção mais ampla, com elevadores, instalações elétricas, infraestrutura predial como um todo. A Lei 6890, mais recente, trata do medidor a jusante e a Lei 6400 a montante e também as outras instalações: esgoto, água fria e quente, sistema de proteção por descarga atmosférica etc”, destaca. A matéria já foi muito debatida e mudanças foram propostas por parlamentares, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea –RJ) e Sindicato dos Engenheiros (Senge) com muitas contradições ainda sem solução.

O objetivo da legislação do setor é tentar implementar uma cultura de manutenção preventiva, algo que não faz parte do cotidiano no Brasil. “A cultura do brasileiro é fazer a manutenção quando o equipamento deixa de operar. O custo, porém, nesses casos, costuma ser muito maior. Podendo antever os problemas, diminuímos os custos”, explica o professor. Ele aponta, ainda, que as concessionárias não fazem fiscalização e, por isso, não é costume saber, por exemplo, se os clientes têm a ventilação necessária na casa, se o botijão está instalado em ambiente externo, se o regulador de pressão (click) e as mangueiras são substituídas a cada 5 anos.

Outro costume que precisa ser repensado pela sociedade é o dos reparos domésticos em algo tão importante e potencialmente perigoso. “Um caso que ficou bastante conhecido foi o do cliente que, na Estrada da Gávea, decidiu trocar ele mesmo os flexíveis do aquecedor. Nessa mudança ele não promoveu a adequação correta do tubo flexível junto ao aquecedor. Houve um vazamento e uma grande explosão de gás, fazendo desabar a laje do andar, por pouco não afetando a estrutura de todo o prédio”, lembra. Maurício destaca que o mercado de gás predial canalizado é muito restrito em relação a profissionais e, por isso, não é barato. Isso leva alguns clientes a fazerem seus próprios reparos. O preço pode ser uma tragédia.

 

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