"A ética nas empresas e na formação profissional será cada vez mais valorizada e requerida pelas partes interessadas no negócio". Imagem: Pixabay.

Por Wagner Victer, conselheiro vitalício do Clube de Engenharia

Recentemente recebi no trabalho um grupo de alunos do primeiro ano de Engenharia da UFRJ, cursando a disciplina optativa “Humanidades e Ciências Sociais”, que tinham como tarefa preparar uma dissertação sobre “Ética na Engenharia”, e confesso que em um primeiro momento me surpreendi positivamente com o interesse de alunos de um curso da área das ciências exatas neste tema.

A dissertação teria como referência o livro “A Corrosão do Caráter”, de Richard Sennett, que traz uma reflexão sobre valores éticos, cada vez mais necessários, não somente pelos diversos procedimentos e práticas organizacionais, advindos das estruturas de “compliance”, mas, principalmente, pelos acontecimentos recentes no Brasil relacionados ao assunto, em especial em segmentos econômicos importantes, como a indústria do petróleo, onde notoriamente aconteceram práticas indevidas, não só institucionais, mas principalmente pessoais, tanto de profissionais das áreas técnicas quanto das gerenciais.

É óbvio que a postura ética, que é delineada nos códigos internos de cada organização, e que tornou-se uma exigência corporativa, além do seu cumprimento rigoroso, ou “compliance”, requer uma atitude fundamentada em valores que são parte fundamental da carreira de cada profissional, e mais, que devem ter sua origem na família, nos bancos escolares e ser desenvolvida desde os momentos iniciais da carreira profissional, tendo no trabalho a referência dos profissionais seniores, que traduzem a cultura empresarial e transmitem os valores organizacionais.

Podem ocorrer, nas práticas diárias, circunstâncias que induzem profissionais a cometerem desvios éticos, que muitas vezes sequer são percebidos como tal por muitos que atuam na Engenharia, pois acabaram se consolidando como vícios comportamentais.

No trato das matérias do cotidiano, que envolvem assuntos técnicos de engenharia, a mídia frequentemente recorre aos chamados “especialistas da engenharia” que assumem posturas assertivas e até em alguns casos condenatórias, sem estabelecer qualquer condicionante, sem o pleno conhecimento da situação, do projeto e até sem o domínio pleno do tema técnico relacionado.

Da mesma forma, posturas omissas de organizações e de profissionais, que não dependem de qualquer manual ou código, mas que podem levar a situações de grande risco e até graves acidentes, com impactos ao meio ambiente, à vida humana e com perdas materiais significativas, como o recente e lamentável conjunto de ocorrências que aconteceram na atividade de mineração do país, são questões percebidas por muitos profissionais como sendo uma consequência do processo decisório, de mera subordinação a uma hierarquia organizacional, e não como sérios desvios éticos.

A percepção pelas organizações, e por seus profissionais, de que realmente a sociedade está se tornando cada vez mais vigilante e exigente em relação aos princípios éticos deve estar materializada na definição dos valores formais da organização e claramente resolvida no seu Plano Estratégico.

Sendo assim, a reflexão que se impõe é que a ética nas empresas, e consequentemente na formação profissional, em especial das áreas tecnológicas, será cada vez mais valorizada e requerida pelas partes interessadas no negócio.

Neste cenário, perfis éticos de profissionais das áreas tecnológicas, como de engenharia, devem e serão avaliados a partir de diversas dimensões que extrapolam as relações comerciais das organizações, reconhecendo também como elas e seus profissionais se portam em relação ao meio ambiente, e como definem a sua responsabilidade social perante seus colaboradores e a sociedade, incluindo as fases dos Estudos de Viabilidade Técnica Econômica (EVTE) dos empreendimentos, agora já denominados de Estudos de Viabilidade Técnico Econômico Ambiental e Social (EVTEAS).

Essas mudanças de paradigma são só o começo, e na medida em que as organizações e relações sociais evoluem, todas as partes da sociedade deixarão de ver esse tipo de comportamento como um “plus”, e sim como o mínimo necessário para se estar atuando no mercado.

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