Impactos do Porto Maravilha para a atividade portuária em debate

O Porto Maravilha tem sido foco de grandes investimentos no Rio de Janeiro. O projeto prevê diversas mudanças para a região, algumas delas já em andamento. Discute-se sobre os impactos das modificações estruturais e um dos olhares que não se deve perder é o da própria atividade portuária. Através da Divisão Técnica de Transporte e Logística (DTRL), o Clube de Engenharia debateu tema dia 12 de maio. A falta de integração entre o projeto do Porto Maravilha e a atividade portuária foi o ponto crucial dos debates. Segundo a chefe da DTRL, Uiara Martins, alguns empresários falam da dificuldade de encontrar novo espaço para implementação dos negócios e da falta de apoio do poder público em revitalizar as áreas que seriam ocupadas por essas empresas. “A modificação do cenário da atividade é visível, os contratos antigos não previam um impacto dessa dimensão e não vejo o município preocupado com esse cenário”, afirmou.

A ideia de que a atividade do porto e sua revitalização devem ocorrer de maneira harmônica foi ponto comum entre os palestrantes e a plateia, que lamentou a ausência de representantes do poder público. Segundo Uiara Martins, foram convidados diversos órgãos que coordenam e decidem sobre o projeto, entre eles a Companhia Docas do Rio de Janeiro, a Secretaria de Infraestrutura Portuária e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAC), mas nenhum deles respondeu às solicitações.

Para o presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Rio de Janeiro, Luiz Henrique de Vasconcellos Carneiro, é preciso primeiramente destacar a importância do Porto do Rio de Janeiro para o estado e para o país, para que a visão sobre ele seja transformada. “Tem-se a visão de que o porto é um local sujo e violento, mas a movimentação do porto é essencial para o Rio e para o Brasil. Não precisamos abrir mão de nenhuma atividade. É preciso planejar para que o transporte de carga, o turismo e o lazer convivam. Isso é um projeto de engenharia, é possível equacionar”, enfatizou. Carneiro destacou também que, para medirmos a importância do porto do Rio de Janeiro não se pode adotar somente o método utilizado pelo comércio exterior. Segundo ele, o critério de tonelagem não serve para o porto do Rio, já que ele não movimenta minério de ferro, carvão e nem graneis agrícolas, que possuem peso elevado. “Ele é um porto de ‘carga limpa’, então quando se mede sob a régua do comercio exterior, o Rio fica 4º ou 5º posto no Brasil. Mas o porto movimenta um bilhão e 300 milhões de ICMS por ano, se ele fosse um município seria como Campos dos Goytacazes”, explicou.

Ainda de acordo Carneiro, costuma-se comparar as obras do Porto Maravilha com as do Porto Madero, na Argentina, uma comparação, na sua opinião, equivocada.  “O Porto Madero nunca foi utilizado de fato, a atividade de porto de Buenos Aires nunca aconteceu ali. Era uma área degradada que foi devolvida ao município. Há exemplos em Barcelona e Nova Iorque, mas neles primeiro se retirou a atividade portuária e depois se revitalizou. Os operadores entendem que a revitalização é importante, desde que se mantenha a atividade portuária”, esclareceu.

Outra questão levantada foi a necessidade de transformação da mentalidade brasileira em relação à infraestrutura. De acordo com o Diretor Executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima e Atividades Afins do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Carvalho, não considerar o planejamento do entorno de um porto é algo que nunca aconteceria na Europa. “Esperamos que nossos netos tenham mais mentalidade marítima e menos praiana”, afirmou. Outro ponto levantado por Carvalho foi o fato de o porto do Rio estar no centro da cidade traz vantagens e desvantagens, tanto para o turismo e o transporte de cargas quanto para o planejamento do entorno. “Fica mais complexo operar, mas é preciso ter mais cautela. Por mais que se faça uma obra desse tamanho ignorando o porto, as forças que estão do outro lado investindo o dinheiro reagem”, frisou. Carvalho também afirmou que o porto será cada vez mais necessário para o futuro do país. “Estamos no ponto mais próximo do Campo de Libra, e estamos chegando ao ponto em que o que vai limitar a atividade portuária é a quantidade de navios chegando. O navio vai ter de entrar rápido, descarregar rápido e sair rápido”, afirmou.

Os problemas no trânsito, a relação com os trabalhadores da região e a falta de diálogo com o poder público também foram alvo de críticas. Segundo os debatedores, o bairro do Caju será um dos grandes prejudicados pela falta de planejamento no trânsito, já que só possui uma via para entrada e saída do bairro, que são engarrafadas normalmente. Para eles, o Caju não comporta o trânsito que está por vir. O arquiteto Tomás Ribeiro, presente ao debate, questionou a eficácia do novo projeto para a Rua Rodrigues Alves. “Ele prevê uma via expressa até a rodoviária Novo Rio e isso prejudica o acesso a todos os armazéns. Todos os que acreditam no papel do cais da Gamboa deveriam lutar por uma via paralela para acesso a esses armazéns”, defendeu.

Mas não são apenas os moradores do Caju que sofrerão com o impacto das obras. O presidente da Associação da Guarda Portuária do Rio de Janeiro, Dejacir da Conceição, que estava na plateia, afirmou que os trabalhadores podem ser prejudicados com o fechamento de alguns portões de armazéns. “Questionamos diversas vezes e a prefeitura mesmo assume que não levou em consideração os trabalhadores ao elaborar o projeto do Porto Maravilha. O secretário de habitação do estado, por exemplo, disse que não pensou em projetos de habitação para os trabalhadores do porto. Ou seja, faltou a comunidade portuária participar desse debate. Não é só o pessoal do Caju que está sofrendo com esse fluxo para dentro do bairro, nós também estamos”, protestou.

 

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