Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

O Conselheiro do Clube de Engenharia, José Luiz Alquéres*, publicou no Jornal O Globo, de 05/12/2020, artigo sobre a privatização da Cedae que, na sua opinião “contrapõe investidores no negócio de distribuição da água e os interesses corporativistas que há longo tempo dominam essa importante empresa do serviço público”. E alerta: “O público, um mero joguete nesta história, um dia cobrará pela mortalidade infantil e pelas doenças causadas por esta criminosa demora burocrática e corporativista”.  Leia a seguir o artigo O valor da água na íntegra.

 

A discussão sobre a privatização da Cedae está contrapondo investidores no negócio de distribuição da água e os interesses corporativistas que há longo tempo dominam essa importante empresa do serviço público.

O público, um mero joguete nesta história, um dia cobrará pela mortalidade infantil e pelas doenças causadas por esta criminosa demora burocrática e corporativista. Um número que cresce diariamente.

A água para o Rio de Janeiro teve enorme avanço ao tempo do governo Carlos Lacerda, quando estudos anteriores são retomados, e uma concepção ambiciosa (água até o ano 2000) é anunciada. Lacerda via longe. Imaginava que assim como Londres, com Tâmisa; Paris, com o Sena; e Nova York, com o Hudson; o Rio deveria ser banhado por um grande rio. E teve em Enaldo Cravo Peixoto um grande executor deste sonho. Não havendo um rio de porte à mão, captou a água no canal de fuga da hidrelétrica de Nilo Peçanha da Light – 120 metros cúbicos por segundo, oriundos do rio Paraíba do Sul – e a jogou no leito ampliado do rio Guandu, até então um riacho de vazão desprezível. Nele fez construir a Estação de Tratamento de Água do Guandu, com capacidade de tratar 60 metros cúbicos por segundo. Dela, saem as redes que servem à cidade. Contrariamente à obra concentrada de captar e tratar a água, a distribuição e a coleta de esgoto são as tarefas que exigem mais mão de obra, mais organização de cadastros, medições individualizadas, faturamento e controle das tarifas, intervenções rápidas nas ruas para corrigir vazamentos ocasionais etc. Aquela parte em que o consumidor é o principal interessado e reclama se fica sem o serviço.

Com a privatização, o consumidor passará a ter a quem reclamar. Ele se torna o ponto mais importante da longa cadeia que se inicia a centenas de quilômetros, quando uma gota de chuva cai na terra. Não mais a empresa ou o governo. Ele, o cliente, aquele que vai pagar a conta.

O governo do Estado do Rio de Janeiro parece resistir a um último obstáculo corporativo: fixar uma tarifa irrealisticamente alta para a água no atacado, a do Guandu, o que levaria a um valor exorbitante para os consumidores. Ele não pode permitir isso. Comparativos existem. Basta ver quanto pagam as empresas privadas que distribuem água em Niterói, em Alagoas ou em outros cantos do Brasil, para definir uma tarifa para água em grosso aceitável, algo no nível de R$1,70 por metro cúbico. Já seria a mais alta do Brasil. Mais é sustentar ineficiência, apadrinhamento, corporativismo e crime de responsabilidade contra as populações carioca e fluminense.

Que todos sejam razoáveis: a Cedae fica com o suprimento em grosso, e as empresas privadas com a distribuição. Ambas sujeitas à fiscalização que assegure qualidade e universalização.

 

*José Luiz Alquéres foi presidente da Light, da Eletrobras e da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

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