As alternativas possíveis para que a construção de um novo autódromo para o Rio de Janeiro possa garantir a preservação da floresta de Deodoro

Grandes debates mobilizaram o Clube de Engenharia. Diversos representantes do poder público, movimentos sociais e técnicos estiveram presentes na atividade organizada pelas Divisões Técnicas de Meio Ambiente (DEA) e de Recursos Naturais Renováveis (DRNR) para debater o futuro da floresta de Deodoro. Isso porque a Secretaria de Esportes de Alto Desempenho, do Ministério dos Esportes, é responsável pelo projeto que pretende levar o novo autódromo da cidade para a região.

Representando o presidente do Clube de Engenharia, o diretor técnico Edson Kuramoto destacou que a entidade, desde a sua fundação, tem debatido e aberto portas para o debate. “Só através do debate transparente entre todos os setores é que podemos chegar a um caminho. Este é um tema importante para a cidade, as pessoas podem colocar suas posições para que cheguemos a um posicionamento acertado para o meio ambiente, para os jogos olímpicos e para o automobilismo. O Clube reafirma sua posição em defesa da floresta de Deodoro”, afirmou Kuramoto.

O presidente da Associação dos Engenheiros Florestais, Beto Mesquita, lamentou a ausência de órgãos importantes na área. A Secretaria de Esportes de Alto Desempenho e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) não estiveram presentes, apesar do convite. Além disso, Beto apontou cinco graves erros em torno do assunto. Para ele, o primeiro erro foi a retirada do autódromo de onde estava, o segundo foi, sem motivo exposto claramente, escolher para a construção de um novo autódromo uma área com remanescente florestal importante. “O próprio Plano Diretor da cidade aponta a área como sítio de interesse social e ambiental para a cidade”, destacou. Ele informou, também, que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou a área como sendo irrelevante ecologicamente e, segundo ele, este seria o terceiro erro grave de análise. “O quarto erro é o órgão ambiental do estado do Rio dizer que não é necessário o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Eles estão ignorando a Lei de preservação da Mata Atlântica. E, finalmente, o quinto erro é que o poder público está propositalmente ignorando o debate para que tudo se instale e, depois, não se possa fazer mais nada”, protestou.

O Ministério Público, diante do caso, interviu e solicitou EIA/RIMA para o projeto. Segundo a ex-vereadora Sonia Rabelo, essas ações são imprescindíveis. “Precisamos nos mostrar presentes para dar visibilidade e apoio às ações do Ministério Público, que tem feito tentativas para preservar os interesses da população. Sabemos que sem as ações do judiciário os políticos não modificam suas decisões e alegam a pressa devido aos megaeventos”, concluiu.

O consenso entre os presentes é de que não há como conciliar o uso dessa área para construção de um projeto tão impactante em detrimento da conservação ambiental. Segundo Rogerio Gabriel, diretor de pesquisas do Jardim Botânico do Rio, é preciso que se faça justamente o contrário: se preserve e amplie a área verde e o ecossistema local. “Um parque ser construído dentro de um autódromo seria uma decisão correta, mas um autódromo ser feito dentro de um parque é péssimo sob vários sentidos. Isso prejudicará o equilíbrio local, a vida de animais polinizadores que serão perturbados não só pelas obras, mas também pela poluição sonora, e isso é apenas um de vários exemplos”, explicou Rogerio.

José Alexandre Maximino Mota, do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) do MP do Rio de Janeiro, falou sobre as legislações vigentes para empreendimentos públicos. Ele apontou questões sobre a legalidade do estudo de impacto ambiental. Para ele, deve-se realizar uma análise séria das alternativas. “Só cumprindo a legislação, com estudos e bom planejamento, sem a pressa do projeto olímpico, essa área servirá ao ecossistema e nosso patrimônio será mantido. Tudo isso deve servir para o interesse público”, afirmou.

Plenário e convidados manifestaram-se no mesmo sentido. Para os presentes, a cidade precisa sim de um autódromo, mas deve estudar alternativas viáveis. Segundo Beto Mesquita, existem outros locais muito mais adequados e com impactos sociais e ambientais muito menores e que poderiam abrigar o autódromo. A conclusão é de que a floresta de Deodoro deve virar um parque aberto ao público, capaz de abrigar espaços para pesquisadores e áreas de lazer.

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