Por Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia
Publicado no Jornal do Commercio em 02 de julho de 2015

 

A engenharia brasileira está mais uma vez com problemas. Foram muitas crises nos últimos 50 anos e posso dizer isso de cadeira porque acompanhei todas elas. Sei que não nos serve de consolo, mas pelos resultados da última avaliação do PIB, a engenharia é apenas mais um setor da nossa indústria que vai muito mal.  Além disso, estamos em um momento delicado, em que o mercado se abre para a concorrência internacional e numa fase em que grandes empresas de engenharia estão sendo indiciadas em processos por relações supostamente ilegais com o governo e empresas públicas, reduzindo o ritmo de sua operações e demitindo.

A agropecuária continua a sustentar o país e traz alívio à conjuntura econômica. Com números positivos, emplaca mais uma safra recorde e garante também nossas exportações de carnes e frango. Diversos outros itens do nossa indústria de produção vão de mal a pior. Sua recuperação, dizem os economistas, depende do retorno da confiança dos investidores, não apenas no âmbito internacional, mas também no meio empresarial brasileiro que anda temeroso e não vê garantias de um futuro promissor. Há que se fazer o impossível para reconquistar os capitais estrangeiros e reanimar a economia nacional. 

A inflação persiste em curva ascendente. As medidas de ajuste fiscal estão em andamento no  Congresso Nacional para sua aprovação com toda a urgência, a despeito das divergências políticas.  Passou a ser uma necessidade histórica e política. Se  o barco afunda, estamos todos em risco. O consumo dos brasileiros, que despenca vertiginosamente, mostra retratos nítidos desde o setor de veículos até as áreas de vestuário e supermercados. Os esforços dos empreendedores para reduzir custos são evidentes  e as margens de lucro caem.

O Rio de Janeiro tem, porém, uma particularidade. Vive o ano pré-olímpico e batalha para manter em dia as obras vinculadas ao grande evento. Esperamos que haja mesmo recursos para honrar os pagamentos às empresas responsáveis. Quanto ao que se pretende deixar como legado, as melhorias definitivas para a cidade, sobretudo na área de mobilidade, devemos lutar para que os ambiciosos planos iniciais não sejam forçados a mudar de rumo ou sejam arquivados em função da crise. As Olimpíadas são no Rio, mas a nossa cidade se expande e representa toda a nação brasileira aos olhos do restante do mundo.

Este Brasil gigante garante um mercado altamente promissor para a engenharia, pelo tanto que ainda há a realizar no país em melhorias para a nossa população, com ênfase aos de menor faixa de renda. Estudos, projetos, construções e manutenções, apenas na área civil e em toda a cadeia dos setores energéticos já seriam suficientes para uma farta geração de empregos em todos os níveis. No entanto, nosso mercado hoje continua a demitir. Conforme a CAGED, do Ministério do Trabalho e Previdência, nos últimos 24 meses foram demitidos 105.071 engenheiros.

Cabe mencionar que o ensino da Engenharia apresentou, nos últimos levantamentos, dados desanimadores sobre evasão de alunos.  De cada 172 alunos que ingressam nos cursos, apenas 95 os concluem. A formação de novos engenheiros também cresce muito abaixo das necessidades do país. Tem sido inferior à formação em Direito e Administração de empresas. Acrescente-se que os graduados em Engenharia no Brasil são menos de 20% dos russos e de 8% dos chineses. 

Quero e preciso acreditar que isso é transitório e que sairemos rapidamente de mais esta crise. Afinal, Deus não é brasileiro?

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