O Estádio de Remo da Lagoa, desde sua fundação, nos anos 50, passou por diversos obstáculos para se tornar um ponto de referência para o esporte na cidade. A oportunidade mais recente foi o evento das Olimpíadas. No entanto, com parcerias entre poder público e iniciativa privada o espaço continua a privilegiar outras formas de lazer. E o mais grave: sem inclusão dos esportistas locais, o que levou o Movimento SOS Estádio de Remo a realizar palestra no Clube de Engenharia, em 23 de novembro, representado por Alessandro Zelesco e Luiz José da Silva Barros. O evento foi promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT), Divisão de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) e a Divisão de Ciência e Tecnologia (DCTEC).

Sem legado olímpico
Em 2009 o Brasil recebeu a notícia de que a cidade do Rio de Janeiro iria sediar as Olimpíadas de 2016. Logo surgiu o Caderno de Legado Rio 2016, com as promessas para a cidade, e, especificamente, para o Estádio de Remo da Lagoa. Além da consulta à comunidade local para definir os detalhes das obras, as promessas incluíam: 1. transformar o estádio de remo num complexo esportivo para treinamento desportivo e pesquisa de remo no Brasil; 2. destinar as instalações esportivas do evento para o treinamento de atletas brasileiros e da América do Sul; 3. tornar o Estádio de Remo da Lagoa um ícone brasileiro para o remo competitivo e uso comunitário.

Para a comunidade do remo seria o fim da degradação do local e a valorização do esporte. Em 2015, o movimento entrou com representação no Ministério Público Federal (MPF), apresentando o legado esportivo e social que o Comitê prometia, com o objetivo de que se fizesse cumprir o que haviam definido como ações em benefício da localidade. O MPF considerou a ação válida, o documento se tornou um Inquérito Civil e, por diferentes órgãos de poder, tramita até hoje. O ideal para a comunidade é que se torne um centro de treinamento de alto rendimento para uso comunitário. O chefe da DRHS, Ibá dos Santos Silva, lembrou o sucesso dos brasileiros nos jogos: “O remo brasileiro se destacou nas Olimpíadas e o esporte pode ser muito maior se houver usufruto da Lagoa Rodrigo de Freitas pelos remadores”.

Histórico de descaso
A má destinação do Estádio de Remo da Lagoa não é de hoje. Nem o projeto original, da década de 50, chegou a ser respeitado. Por lei, em 1957, o estádio foi destinado à Federação Estadual de Remo, com fins exclusivamente esportivos. Porém, logo em seguida, o governador Carlos Lacerda vendeu parte do estádio O espaço perdeu elementos do projeto original como um espelho d'água e grande parte dos boxes que abrigariam os barcos: em vez de 14 são oito boxes até hoje. O número é insuficiente para o remo e para os interessados na canoagem. Os anos seguintes contaram com abandono do poder público e novas soluções de privatização, iniciadas em 1997, quando o governo estadual entregou a administração, sem licitação, a uma empresa particular.

Em 2002 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) emitiu um documento indicando que a área não poderia receber as modificações da iniciativa privada. Deveria vir a abrigar um centro de referência do remo. Mas a decisão não vingou e a empresa responsável logo começou a planejar o Lagoon, um shopping com cinema, restaurantes, bares, casas de shows e centenas de vagas para estacionamento. A empresa implodiu uma arquibancada, e no local veio a ser construída outra em 2007, na época dos Jogos Pan-Americanos. Na mesma obra foi reduzida a área de assistência a regatas.

Desde então, a empresa vem tomando mais áreas destinadas ao remo, expandindo o estacionamento do shopping, ocupando arquibancadas com equipamentos, e limitando o acesso de barcos e atletas interessados no treinamento. Segundo Luiz José da Silva Barros, o espaço hoje não oferece liberdade de uso pelos praticantes de remo por conta de todo o ambiente e segurança do shopping: "Ninguém está preocupado em manter no Rio de Janeiro o único projeto de arquitetura moderna para um estádio de remo”, afirma.

Atualmente o espaço mantém atividades de remo olímpico, abriga a Federação de Remo e é a garagem de clubes de regatas. A esperança persiste: ter ali um Centro Náutico e atrair mais clubes. Representantes da Coordenadoria de Meio Ambiente e da Associação de Amigos e Moradores do Jardim Botânico (AMA JB), durante os debates, mostraram-se dispostos a somar suas energias na luta que combate ações e investimentos semelhantes na Lagoa.

 

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