Desafios da estrutura de concreto do Museu do Amanhã

Localizado na região portuária do Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava e inaugurado em dezembro de 2015, fruto da parceria da Prefeitura do Rio com a iniciativa privada. Com projeto inovador em formato de nave, o museu traz importantes lições para a engenharia de estruturas. Em palestra no Clube de Engenharia, em 17 de maio, o engenheiro Júlio Timerman, diretor-geral da Engeti Consultoria e Engenharia S/S Ltda, empresa responsável por esse âmbito da obra, e vice-presidente da Associação Internacional de Pontes e Engenharia Estrutural, falou sobre alguns dos desafios do projeto da estrutura de concreto do museu.

Quem olha para o Museu do Amanhã e vê sua gigantesca estrutura de metal, com cerca de 340 m de comprimento e 20 metros de altura no ponto mais alto, pode não saber que abaixo de tudo isso existe uma audaciosa estrutura de concreto, de 190 metros de comprimento, que representou um grande desafio aos engenheiros. “Nenhuma parede do Museu do Amanhã é reta. Todas têm curvaturas nas três direções. Foi complicadíssima a arquitetura, porque gerou um projeto e uma execução complexa, principalmente na parte de formas”, explica Timerman. O museu está implantado no antigo píer da Praça Mauá, cuja execução básica data da década de 1930 e foi usado até 1997 para atracação de navios. Relatórios apontaram problemas nas estacas do píer causadas pelo impacto das embarcações e falta de manutenção. O local virou estacionamento e depósito de contêineres até ser designado para receber um novo museu. O Museu do Amanhã, dedicado a expor ideias sobre sustentabilidade e o futuro do planeta, fez parte do circuito de obras promovidas pela Prefeitura do Rio, na zona portuária, no âmbito do projeto Porto Maravilha.

Timerman conta que os softwares de mercado não estavam preparados para o projeto arquitetônico de Calatrava. As curvas exigiram da equipe técnica um esforço muito maior para se elaborar o modelo representativo das estruturas de concreto, essencial para que se executasse a obra. “Existem softwares que leem o projeto de arquitetura, montam o modelo e dão o resultado. Nós tentamos isso, e o software lia, mas, em função de tantas curvas, o modelo não era gerado”, explica. Um desenvolvedor de software veio dos EUA para tentar adaptar um dos programas, mas não conseguiu. “O que tivemos de fazer foi lançar a estrutura parede por parede, cada curva, manualmente. Nossa equipe demorou cerca de 40 dias para lançar o modelo”, disse o engenheiro. Ele conta que foi utilizado concreto protendido, que tem maior durabilidade, protegendo de fissuras áreas que recebem maiores tensões. Ao todo, foram 22 mil m³ de concreto em uma obra que, no pico, recebeu cerca de 1.300 trabalhadores.

Apesar da dificuldade em se transpor o projeto do papel para a realidade, Júlio Timerman acredita que foi uma grande experiência, destacando a importância da engenharia de estruturas em projetos como esse. E fez um alerta: “Temos uma responsabilidade muito grande e não somos reconhecidos no mercado. As pessoas só lembram do engenheiro de estruturas quando acontece um acidente”, critica ele.
 
A palestra foi realizada pelo Clube de Engenharia em parceria com o Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) e a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece). A promoção é da Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e Divisão Técnica de Estruturas (DES) do Clube.

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