Não é exatamente a falta de recursos que impede os projetos, mas sim, a burocracia para conseguir os financiamentos

O investimento em inovação e as garantias para o incentivo ao empreendedorismo foram alguns dos temas de discussão do evento “O vale da morte das empresas inovadoras”. Com o objetivo de debater os problemas e as estratégias para vencer as dificuldades encontradas pelas empresas inovadoras, o encontro teve início com o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, que destacou a importância do tema. “Tive um emprego e depois abri minha própria empresa, que hoje tem 40 anos. Sei dos esforços necessários para garantir a sobrevivência dos negócios. Ainda existe o temor de que investidores como nós tenham prejuízo, mas agora o desenvolvimento no Rio de Janeiro foi retomado, depois de anos de estagnação”, declarou Francis.

A mesa, conduzida por Miguel Angelo Gaspar, chefe da Divisão Técnica de Ciência e Tecnologia (DCTEC) contou, entre outros, com a presença de Eduardo Melo, empresário criador da Fictix, que falou sobre os grandes desafios enfrentados para desenvolver novos projetos. Eduardo contou que chegou a abrir cinco empresas, mas nenhuma delas foi adiante, apenas a Fictix. “Sinto que sou representante de muitos empreendedores que gostariam de participar desse evento, que é de extrema importância para nós. Gostaria de agradecer a oportunidade de falar sobre o assunto. Eventos assim são raros”, destacou. A Fictix é uma empresa de engenharia aplicada à comunicação. Baseando-se nas experiências da empresa, Eduardo lembrou o  refinamento de estratégias para conseguir investimentos. Segundo Eduardo, devido à falta de investimento em inovação, hoje ele oferece ideias inovadoras para os clientes sem antes desenvolver e testar. “Não temos recursos para desenvolver a ideia e apresentá-la pronta. Temos que convencer o cliente de que a ideia é boa”, explicou. 

O estudo de caso da Fictix foi seguido da explicação de Sérgio Ricardo Yates, professor do Instituto Gênesis, da PUC-Rio, sobre o comportamento do universitário brasileiro. Para Sérgio, é difícil despertar nos estudantes o desejo de empreender. “Fazemos cursos, palestras, treinamentos, e no final, quando perguntamos o que os alunos vão fazer, a maioria responde que tentará um concurso público. Poucos são os que querem empreender”, contou. Já Maurício Guedes, diretor do Parque Tecnológico do Rio de Janeiro demonstrou ter outra opinião. Ele acredita que o jovem brasileiro está sim aberto a empreender, mas falta incentivo e a criação de um ambiente propício para isso. “As empresas inovadoras sobrevivem, mas não rendem o que deveriam porque o ambiente não é fácil”, defendeu. Maurício falou sobre o Parque Tecnológico e as possibilidades que se colocam graças ao ambiente criado.

Propostas e Soluções

Na busca de solução dos problemas uma das questões apontadas foi o dinheiro investido em pesquisa e que termina por aí. Para Maurício Chacur, subsecretário de Desenvolvimento Científico, hoje no Brasil há muito recurso nas pesquisas. No final da curva temos fusões aquisições, os recursos também aparecem, mas no momento da inserção no mercado as políticas precisam ser melhoradas. “Foram 24 bilhões em fusões e aquisições no Brasil, um volume de recursos bem significativo. Nas extremidades do processo, temos recursos. Quando os projetos saem da fase de pesquisa e vão acessar o mercado, não há recursos. Com protótipo, a InvestRio, do governo, provê recursos às empresas que estão começando, as startups”, resumiu.

Em pauta, o financiamento pareceu ser uma preocupação comum entre os palestrantes. A dificuldade de obter financiamento no Brasil, principalmente de bancos públicos, se dá pela quantidade de requisitos necessários. Os palestrantes apontaram que não é exatamente a falta de recursos que impede os projetos, mas sim, a burocracia para conseguir os financiamentos. “O vale da morte precisa ser olhado com um investimento de alto risco. Você tem indícios e indicações do sucesso, mas certeza de retorno não há. A natureza do Investrio é financiamento. Para evitar alguns problemas, quem deveria atender as empresas inovadoras são as agências de incentivo à inovação: FINEP, Faperj, as FAPs para impedir que as empresas morram no vale”, explicou Maurício Chacur.

O índice de empresas que fecham as portas  no vale da morte é alto. Cerca de 90% das startups morrem nessa fase. A proposta dos especialistas é estudar como ajudar as empresas que, em geral, têm projetos muito interessantes, com produtos factíveis para o mercado, mas faltam recursos para o plano de negócios, protótipo etc. Ainda segundo os palestrantes, a razão para o fim dessas empresas não é o produto em si, mas a necessidade de aumentar a presença da FINEP e das FAPs.

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo