Dia 27 de novembro, no Clube de Engenharia, o tema Controle de voçorocas e consequente melhoria da água foi pauta central de duas palestras apresentadas por Luiz Bicalho, subchefe da Divisão Técnica de Manutenção (DMA), que promoveu o evento em parceria com a Diretoria de Atividades Técnicas (DAT). Foram palestrantes o pesquisador Alexander Silva de Resende e o professor Adacto Ottoni.
Alexander Silva de Resende, pesquisador de recuperação em áreas degradadas, especialista em Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), iniciou sua palestra abordando o contexto histórico das voçorocas e das plantações em declive dos cafezais no Vale do Paraíba. São plantações feitas em linha, morro abaixo, para um melhor controle do trabalho dos escravos na entrelinha da plantação e que favorecem hoje o processo de erosão na região.
As voçorocas são fenômenos geológicos provocados por condições naturais ou por intervenção do homem. O volume de chuvas, o tipo de vegetação do solo, o relevo em declive, além das ações antrópicas, são os principais causadores desses rasgos na terra. Solos do tipo “argissolo”, por exemplo, que é uma classe de solo de textura média a arenosa, impedem que haja uma infiltração adequada da água no solo e, em função disso, ocorre o escorrimento superficial dessa água.
Resende citou um estudo feito pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) em 2002, no qual o diagnóstico é que na Bacia do Paraíba do Sul, aproximadamente 1 milhão de hectares, encontram-se na área de alta ou muito alta vulnerabilidade de erosão. Um estudo de caso feito por ele no município de Pinheiral mostra que 88% da área do município encontram-se na mesma situação de degradação.
Estações Sedimentológicas, ao longo do Paraíba do Sul, RJ, medem a quantidade de sedimentos na água ao longo do tempo. Na área entre os municípios fluminenses de Volta Redonda e Piraí, é registrada a maior sedimentação do rio, só perdendo para a sedimentação que ocorre na foz, com cerca de 6 toneladas/ha ao ano de sólidos lançados no rio. A estimativa desse estudo é que aproximadamente 700 mil toneladas de solo vão parar dentro do sistema Light-Cedae.
O problema afeta diretamente o abastecimento da população da região metropolitana do Rio de Janeiro, que usa essa água. Quanto mais sedimentos na água, mais adição de floculantes é necessário para o tratamento. O que aumenta bastante no verão, demonstrando que o processo erosivo é mais intenso. A estação de tratamento de água do Guandu era, até 2013, a recordista mundial em quantidade de água tratada.
De acordo com Resende, com relação à recuperação das voçorocas, a saída é, em primeiro lugar, atacar a causa do problema, ou seja, a quantidade de água que tem acima desses rasgos usando bacias de contenção. Segundo, trabalhar dentro da voçoroca, montando barreiras físicas para reter esses sedimentos e permitir que apenas a água passe. O último processo seria o reflorestamento, a recuperação da vegetação do entorno.
Consequente melhoria da água
Professor Adacto Ottoni, engenheiro civil sanitarista, assessor de Meio Ambiente do CREA-RJ e coordenador do curso de pós-graduação Lato Sensu em Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), iniciou sua palestra esclarecendo que a melhor maneira para garantir a qualidade e quantidade de água dos rios é a partir de uma gestão sustentável da Bacia Hidrográfica.
Ottoni questionou técnicas como a da dessalinização das águas ou reaproveitamento de esgoto sanitário, como solução para o problema das secas, que, na sua opinião, passam muito mais por interesses econômicos que surgem em épocas de crise, como a que vive o estado de São Paulo este ano. “Não sou contra essas técnicas, mas elas não são investimento prioritário como solução”, reafirmou Ottoni, que considera que a melhor forma de produzir água doce é preservando o solo.
Outro ponto debatido pelo professor foi a recuperação das bacias hidrográficas e as soluções integradas de recuperação das bacias, preservação e saneamento, de maneira sustentável, como forma de combater a seca, por exemplo.
Os palestrantes lamentaram a falta de políticas públicas nessa área. “Quando a bacia hidrográfica está degradada, esses eventos das enchentes, inundações e das secas, são realçados e obviamente que, para os gestores negligentes, é mais fácil dizer que é aquecimento global, ou é culpa da natureza”, criticou Ottoni.
De acordo com o professor, a biodiversidade é um indicador da qualidade ambiental, e a partir do momento em que se investe visando recuperar a saúde ambiental da bacia hidrográfica e a biodiversidade hídrica, é possível combater os problemas da seca.