“Menos da metade da população brasileira tem acesso à rede de coleta de esgoto”, foi com essa informação que o chefe da Divisão Técnica de Engenharia Química (DTEQ), Paulo Murat, deu início a um importante debate organizado pela DTEQ, em parceria com as DTEs de Engenharia do Ambiente (DEA) e de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS). Ou seja, estamos falando de um total de cem milhões de pessoas sem esgoto no país inteiro. “O esgoto não tratado acaba sendo jogado in natura todos os dias nos rios e mares, tornando-se um veículo transmissor de doença que atinge a todos”, concluiu Paulo. O presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, foi o responsável pela abertura do evento. Francis ressaltou a importância de um debate técnico nessa área, já que se trata de uma questão ambiental e de saúde pública.

Adacto Otoni, engenheiro civil especialista em engenharia sanitária e saneamento ambiental, falou sobre o funcionamento do tratamento de esgoto e frisou a importância do reuso da água. “Existem formas de viabilizar o reuso da água, é preciso entender que está tudo interligado: o uso da água, o esgoto, as chuvas e enchentes. O esgoto não tratado mata o rio e causa doenças, a solução clássica é o tratamento desse esgoto. É importante transformar tratamento de esgoto em política pública de fato, com vontade política para viabilizar o sistema. O esgoto tratado pode ser reutilizado para irrigação e recarga de água subterrânea, por exemplo”, explicou Adacto, que reiterou a importância do reuso, já que a água é recurso que caminha para a escassez em diversos países do mundo.

Para o gerente de Tratamento de Esgoto da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), Miguel Freitas, as maiores dificuldades para reaproveitamento da água estão no controle da qualidade da mesma. Ainda segundo Miguel, não há incentivo estatal. “Por não termos um rígido controle de qualidade, não fornecemos agua para irrigação e nada além do uso urbano, em nome da segurança da população”, afirmou. Freitas destacou que entre os objetivos da CEDAE estão a intensificação pela busca de novos clientes para consumo de água de reuso para aplicação em indústrias e áreas urbanas. “Pretendemos também buscar parcerias com universidades para avaliação de riscos no emprego da água de reuso em outras funções”, argumentou.

A ideia de que o Brasil seria uma “Belíndia” parece ainda estar presente na realidade do país. O conceito de que o Brasil tem questões de primeiro mundo, como a Bélgica, e problemas básicos de países em desenvolvimento, como a Índia, foi exposto pelo químico industrial especialista em engenharia e saneamento ambiental, João Marcelo Nascimento. “Quando falamos de saneamento, o problema às vezes não é nem de tratamento, mas sim de casas que sequer estão ligadas à rede, ou seja, não há nem vaso sanitário. É preciso colocarmos nossa produção de conhecimento a serviço dessas pessoas que não tem acesso a água e esgoto”, defendeu.

 

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