Nova abordagem sobre o fenômeno do desenvolvimento econômico

Em momento de mudança das centralidades econômicas no mundo, uma metodologia relativamente nova surge para tentar explicar as causas do desenvolvimento econômico nas nações ricas. O assunto da Complexidade Econômica foi explorado pelo professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP) Paulo Gala, em seminário de lançamento de seu livro "Complexidade Econômica: uma nova perspectiva para entender a antiga questão da riqueza das nações", no Clube de Engenharia, em 25 de maio. A palestra foi promovida pela Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), em parceria com o Clube de Engenharia. O primeiro vice-presidente do Clube, Sebastião Soares, abriu o evento, compondo a mesa junto a Paulo Gala, Carlos Pinkusfeld, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Thiago Leone Mitidieri, presidente da AFBNDES. O livro é uma produção do Centro Celso Furtado e da editora Contraponto.

A obra trata de uma forma de classificação dos países a partir de dados de exportação e utiliza uma metodologia que trabalha com redes, complexidade e Big Data. Paulo Gala se debruça sobre alguns estudos que surgiram de "econofísicos" - físicos que transformaram um compilado de dados de exportação em todo o mundo, desde os anos 60, em redes para relacionar países e produtos das diversas formas possíveis. "São ideias de suma importância no contexto do Brasil hoje e no BNDES especificamente", afirmou o autor, evidenciando a potencialidade das informações em transformarem-se em políticas públicas e planejamento do setor produtivo industrial. A ferramenta denominada Atlas da Complexidade permite descobrir os caminhos de importação e exportação de qualquer país ou produto nos últimos 50 anos.

 

Ranking de complexidade dos países

Um dos estudos desenvolvidos a partir dos primeiros econofísicos gerou o Algoritmo da Complexidade, que apresenta a ideia de rede produtiva para medir as capacidades produtivas dos países, e poder identificar o que levou à atual posição de cada um no sistema internacional. O algoritmo analisa a diversidade nos sistemas produtivos dos países e sua ubiquidade, que significa o quanto dos produtos exportados também o são por outros países. Um país com pouca ubiquidade é um país que exporta bens mais exclusivos. Quanto maior a diversidade de elementos exportados e menor ubiquidade, mais complexa é considerada a nação. Esta é a diferença entre Cingapura e Paquistão, cuja exportação de 2014 foi, em ambos, de 140 produtos, número que, no Paquistão, representou 26 bilhões de dólares, e em Cingapura 255 bilhões. Cingapura produz bens tecnológicos que poucos países no mundo são capazes de desenvolver, sendo, portanto, mais complexa.

Avançando nos estudos, o ranking de complexidade dos países foi comparado com a renda per capita, resultando na conclusão de que os países mais ricos são os de estruturas produtivas mais complexas, e o oposto no caso dos países pobres. De um modo geral, Japão, Alemanha e Suíça são alguns dos países mais complexos. América Latina fica em um nível médio, e os africanos são os menos complexos. "No fundo, a complexidade é uma ilustração da estrutura produtiva. Podemos olhar pelas capacidades produtivas medidas na pauta de exportações, pela estrutura de emprego e pela complexidade. O que estamos discutindo é o que todos os estruturalistas estavam discutindo em seu início", esclareceu Paulo Gala.

Fator geopolítico

O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Pinkusfeld adicionou dimensões históricas e geopolíticas à discussão. Segundo ele, o grande mérito do livro de Paulo Gala é fazer um recorte histórico dos dados, usando uma nova metodologia para retornar as afirmações dos estruturalistas. Pinkusfeld entende que os fatores geopolíticos e geoeconômicos são muito importantes dentro da trajetória de desenvolvimento dos países, de modo que as parcerias políticas, os favorecimentos e os embargos colaboraram para a complexidade que cada nação apresenta hoje. Cita como exemplo a Coreia do Sul, tantas vezes apontada por Paulo Gala como uma das mais complexas, que teve uma grande vantagem ao exportar ferro e aço para os Estados Unidos na Guerra do Vietnã, tendo sido, portanto, privilegiada pelo contexto geopolítico.

 

O caso do Brasil

Um dos objetivos de estudar tais redes é explicar, por exemplo, por que em 1980 o Brasil exportava 21 bilhões de dólares e a China 16,8 bilhões e 34 anos depois, em 2014, o Brasil exportou 225 bilhões, basicamente com os mesmos produtos, e a China 2,3 trilhões. A resposta está na transformação estrutural. Segundo o Algoritmo da Complexidade, o Brasil não é um país muito complexo, principalmente por não exportar produtos muito exclusivos, que são os mais tecnológicos. A pauta de exportações se diversificou muito pouco desde o governo Geisel. Foi quando o país realizou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), concentrado em audacioso programa de substituição de importações de insumos básicos e bens de capital. "Nós não passamos por uma segunda onda de progresso técnico, de investimento setorial", afirmou Pinkusfeld. O economista defendeu que o país agora deve se preparar para as mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial, com uma nova polarização, customização de produtos e centralização da produção pelas novas tecnologias.

O presidente da AFBNDES, Thiago Leone Mitidieri, comentou a importância do livro de Paulo Gala por trazer uma nova abordagem sobre o fenômeno do desenvolvimento econômico, que é a missão do banco. "Nós precisamos estar discutindo, lendo, nos informando, nos atualizando para que nosso trabalho possa ser mais eficaz e contribuir para o desenvolvimento do país", afirmou.

Os estudos da complexidade, afirma o autor, podem ser usados visando o planejamento industrial do país, especificamente para que o BNDES possa trabalhar: a dinamização da pauta de exportações; descobrir novas potencialidades da nação, articulando bancos de fomento, iniciativa privada e demais sujeitos que possam vir a ser necessários para o desenvolvimento. Na opinião de Gala, o planejamento de política industrial e sistema industrial de exportações deve ser totalmente integrado. "O sistema industrial de ponta, sofisticado e robusto é aquele que abastece o mundo e o mercado interno", conclui.

Saiba mais sobre o livro aqui.

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