Quebrando paradigmas na engenharia de fundações


Na 13ª edição da Palestra Milton Vargas, realizada anualmente pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), o engenheiro civil e professor universitário Luciano Décourt questionou a eficiência de métodos enraizados na engenharia de fundações. Na abertura, o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, expressou a honra de sediar o evento e ter na casa um grande teórico e profissional da mecânica dos solos no Brasil: “É muito grande a nossa satisfação de receber um dos nomes emblemáticos da engenharia geotécnica, o professor Luciano Décourt, que ao lidar com o tema das fundações tem métodos próprios e vai nos atualizar em relação a essa questão tão importante que é a base de tudo que se faz da nossa engenharia de construção”.

O evento “Quebrando Paradigmas na Engenharia de Fundações” aconteceu em 14 de novembro, no Clube de Engenharia, promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT), Divisão Técnica de Geotecnia (DTG), e ABMS-Rio.

Questionamentos: SPT, capacidade de carga, método RDZ
O primeiro paradigma questionado por Décourt na palestra foi o uso do método SPT (Standard Penetration Test) para sondagens e estudos de resistência do solo. Segundo Décourt, o SPT não é capaz de dar valores corretos para a efetuação da obra, e é melhor utilizar a versão com torque, conhecida como SPT-T (Standard Penetration Test with Torsion), com o Índice de Bósio, que se aplica bem para qualquer solo não laterítico, assim como o método sísmico S-SPT. A deficiência do SPT vem sendo demonstrada por Luciano Décourt e Arthur Quaresma desde os anos 70, com método próprio já amplamente reconhecido: o método Décourt-Quaresma.

O engenheiro também questionou a aplicabilidade da teoria de capacidade de carga do famoso engenheiro austríaco Terzaghi. Apoiado por outros nomes de destaque da área desde os anos 90, Décourt foi enfático ao afirmar que a metodologia deve ser abandonada, tanto na prática quanto na academia, tirando o foco da possibilidade de ruptura – base da teoria de Terzaghi – para os recalques nas fundações. “Por que insistimos em calcular a capacidade de carga de uma fundação que não rompe?”, questionou.

O engenheiro fez questão de falar da exceção: o método pode ser ideal para solos lateríticos, com características favoráveis a rupturas. Ele apresentou método mais confiável para os estudos, conhecido como Curva Básica. Segundo o acadêmico, é a expressão mais correta, simples e eficiente para determinar a relação tensão/recalque de qualquer fundação direta, de qualquer tamanho, em qualquer profundidade, e vale para 90% dos solos brasileiros.

Décourt ainda apresentou o método RDZ (recalque diferencial zero), que objetiva a obtenção de valores de recalque diferenciais de zero entre todas as sapatas da fundação. Por fim, ele criticou o conceito de “tensão admissível”, considerado uma grande falácia: “Um bom projeto de fundações deve almejar recalques iguais e não tensões iguais em todas as sapatas”, afirmou.

Reunião anual de renomados geotécnicos
Fizeram-se presentes ilustres nomes da engenharia geotécnica, como os professores da Coppe/UFRJ Ian Schumann Martins, Fernando Danziger e Willy Lacerda, os professores da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) Alberto Sayão e Sandro Sandroni, além de Ana Cristina Sieira, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e presidente da ABMS-Rio, e Manuel Martins, chefe da DTG do Clube de Engenharia.

O  Ciclo de Palestras Milton Vargas da ABMS todo ano conta com um palestrante de destaque na engenharia nacional, que faz sua apresentação de forma itinerante em diversas partes do país. Criada em 2005 como Palestra ABMS, desde 2011 é chamada de Palestra Milton Vargas, em homenagem a um dos fundadores da ABMS, Milton Vargas, um dos primeiros acadêmicos de mecânica dos solos no país, falecido em 2011.

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