Por Aimone Camardella*

O acontecimento na Boate Kiss, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, dia 26/01/2013, deixa a população muito triste e seriamente preocupada com a falta de Segurança em Ambientes Fechados.

Faz-se mister, portanto, de providências, não só do ponto de vista da construção  estrutural do ambiente , como, e, principalmente, de todas as condições inerentes à possíveis fatos de mal funcionamento, relacionados com todos os equipamentos  instalados.

Obviamente, tudo começa com o PROJETO, feito por especialista, que abordará, inicialmente, a finalidade do ambiente, tais como teatros, cinemas, casas noturnas, clubes, salões e outros tipos de auditórios, que congregam muitos participantes. Cada um desses ambientes tem características próprias. Teatros, cinemas, casas noturnas e clubes, por exemplo, além das poltronas (ou cadeiras), adredemente distribuídas, eles apresentam o palco de apresentações ou tela de projeções para os seus espetáculos.

Como se vê, entradas e saídas de emergência devidamente projetadas são de extrema necessidade, não só de portas, como de janelas. Há de se prever, também, uma adequada altura do ambiente, tendo em vista o número de espectadores, considerando a quantidade de CO2 desprendido durante o espetáculo.

Ainda são partes integrantes do projeto a instalação de ar condicionado e o tratamento ou condicionamento acústico. Estas partes envolvem uma importante e indispensável instalação elétrica, com a potência devidamente protegida, com seus quadros de controle, não só para a iluminação, mas também para os aparelhos de som, e ventiladores, previamente distribuídos  e de potências variáveis.

No que tange ao condicionamento acústico,  há que haver soluções nem sempre compatíveis , não só do ponto de vista do material utilizado, como em relação à manutenção da temperatura, e a procura dos meios para evitar a reverberação acústica interior. Isto exige estudos, projetos e técnicas adequadas, que só especialistas podem fazê-los, de modo a evitar falta de conforto aos utilizadores do ambiente.

Esse dualismo, entre a instalação do ar condicionado e o condicionamento acústico, representa um fator muito importante não só para o conforto dos participantes, mas também como garantia de um funcionamento normal.

De acordo com o Engenheiro Químico Pedro Gondim, “as espumas são poliuretanas, que resultam da reação de isocianatos com compostos polihidroxi. Conhecem-se o (TDI) – toluenodiisocianato e o (MDI) – difenilmetanodiisocianato , o primeiro sendo mais comum. Por conterem o radical CN (cianogênio), ao se inflamarem, as poliuretanas liberam ácido cianídrico (HCN), o mesmo utilizado nos condenados à morte nos EUA.”

“Cianeto no sangue (intoxicação aguda) e tiocianato elevado na urina (não fumantes) são indícios de que havia HCN no ar”

Esses detalhes técnicos – químicos são importantes ao se verificar os efeitos e métodos de tratamento. Infelizmente, parece que, nos doentes que sobreviveram do acontecimento da Boate Kiss, ainda não se está levando em conta tais conhecimentos quanto aos “gases inalados pelas vítimas do incêndio”. O fogo, provocado pelo foguete lançado para o teto, certamente produziu essas reações nas espumas, exalando HCN.

Além dos aspectos relacionados, há um que, sem dúvida, é imprescindível à segurança contra fogo, qual seja a instalação de extintores de incêndio e de “chuveirinos”, acionados automaticamente com o aumento da temperatura do ambiente. A estes sistemas eletrônicos de segurança  deve-se adicionar um contato permanente, automático, com o Corpo de Bombeiros, para o caso de incêndio.

Durante da realização dos espetáculos, nesses ambientes, é muito importante a presença de um carro do Corpo de Bombeiros e outro da Polícia, nas imediações, para atenderem, de modo imediato, qualquer distúrbio interior e/ ou nas imediações.

Do ponto de vista da utilização do ambiente, há providências importantes, de caráter preventivo, em relação aos tipos de evento a serem realizados. O alvará  inicial , após a construção do ambiente, não prevê todos esses tipos, de modo que, para cada um, é preciso uma autorização específica, baseada em perícia prévia determinante das características do evento. A lotação de cada ambiente é um fator importantíssimo, porque exige providências preventivas inerentes a cada caso.

Do exposto, de modo sucinto, pode-se concluir que é muito grande a responsabilidade dos proprietários desses estabelecimentos, e, também, e, principalmente, das autoridades constituídas, que autorizam a realização de tais espetáculos. Como consta na nossa Bandeira, é preciso que haja Ordem e Progresso, sem os quais não se pode manter uma comunidade vivendo e convivendo em paz e com tranquilidade.

* Aimone Camardella é Conselheiro do Clube de Engenharia e da FEBRAE e professor da Escola Politécnica da UFRJ.

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