As aplicações da tecnologia nuclear estão presentes no nosso cotidiano e, muitas vezes, sequer nos damos conta. Além, é claro, das usinas de geração de energia, o uso dessa tecnologia está na indústria farmacêutica, no desenvolvimento de ferramentas medicinais, na assepsia de produtos alimentícios e na produção agrícola, por exemplo. Esses e outros temas foram abordados durante a palestra do diretor do Clube de Engenharia e da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), Edson Kuramoto. O debate com o tema Energia Nuclear no Brasil, promovido pela presidência do Clube, aconteceu segunda-feira, 5 de maio.

Com o acidente nuclear de Fukushima, ocorrido em março de 2011, alguns órgãos da imprensa passaram a divulgar a informação de que os países pararam de investir em energia nuclear. No entanto, como esclareceu Edson Kuramoto, o mundo não parou de investir em usinas. “Os Estados Unidos, por exemplo, estão construindo quatro usinas neste momento. Entre outros países, Finlândia, Holanda e Inglaterra também estão investindo na área. A Inglaterra, para substituir usinas a carvão, fez acordo com a França com foco em investimento em reatores”, afirmou.

As pesquisas e a utilização da energia nuclear no Brasil começaram nos anos 1950 e ganharam fôlego com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “O Brasil era detentor de recursos minerais estratégicos, mas não tinha a tecnologia necessária para seu aproveitamento e para o manuseio de material radioativo, por exemplo. Então o CNPq foi criado principalmente com esta finalidade. Pode-se dizer que a energia nuclear acabou sendo um incentivo ao desenvolvimento de pesquisa tecnológica no país”, contou Edson. Entre as principais finalidades do órgão está o estímulo ao desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, investindo recursos em pesquisa e formação.

O palestrante fez um histórico do desenvolvimento das pesquisas em tecnologia nuclear no Brasil desde o seu surgimento até os dias de hoje, passando pela construção de Angra 1, em 1984, e Angra 2, em 2000. Ele destacou a importância de investimentos em recursos humanos, já que a área nuclear, apesar de muito específica, é multidisciplinar. “São necessários profissionais de várias áreas de conhecimento para desenvolver essa tecnologia, desde químicos, biólogos a engenheiros de várias especialidades. Tecnologia nuclear não se desenvolve da noite para o dia; os especialistas que trabalham em usinas, por exemplo, estudaram durante cerca de 30 anos”, afirmou.

Entretanto, mesmo com o desenvolvimento da área, somente 30% do território nacional foi prospectado em busca de urânico. Segundo Kuramoto, o Brasil pode ter a segunda maior reserva de urânio do mundo, ao lado da Austrália (primeira no mundo), do Cazaquistão, Canadá e África do Sul. “Estimamos que se aproveitasse todo o seu urânio o Brasil poderia produzir mais energia do que a prevista para o Pré-Sal, garantia para os próximos 300 anos. Mas sem prospecção não há como mensurar a quantidade de urânio existente e nem a energia a ser gerada”, arrematou.

Salvando vidas

Kuramoto falou sobre a energia nuclear no Brasil, mas não tratou apenas das usinas Angra 1, 2 e 3 (em construção), mas também sobre suas aplicações. “Ouve-se muito falar de Angra, mas é preciso lembrar que a tecnologia nuclear está no nosso dia a dia e muitas vezes nem sabemos dos usos dela, que vão desde a geração de energia até os radiofármacos e a produção de alimentos”, explicou.

Em 2009, uma crise na produção de radioisótopos atingiu o mercado de radiofármacos. Um dos principais elementos que geraram a crise de 2009 no setor foi o defeito de um reator nuclear da empresa canadense MDS Nordion, responsável, na época, por 40% do fornecimento mundial de molibdênio-99. “Este elemento é utilizado na fabricação de tecnécio, o radiofármaco usado em mais de 80% dos procedimentos adotados na medicina nuclear, principalmente no diagnóstico e tratamento do câncer”, explicou Kuramoto.

Investimento nacional

Desde então, o Brasil passou a investir no projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Estima-se que os equipamentos estejam em operação em 2018, propiciando a importante autossuficiência na área, já que o Brasil realiza mais de 3 milhões de procedimentos que dependem de radiofármacos por ano. O projeto do RMB, que faz parte do Plano Nuclear Brasileiro, inclui, além do reator de pesquisas nucleares, uma série de laboratórios e áreas de pesquisa. O complexo de pesquisas nucleares do RMB e toda a infraestrutura relacionada serão instalados em um terreno de dois milhões de metros quadrados, em Iperó (SP), ao lado do complexo de Aramar. Neste complexo a Marinha tem instalada a Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa) e está construindo os prédios do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgene), responsável pelos testes do reator do futuro submarino nuclear, também incluído no Plano Nuclear Brasileiro.

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