Petróleo

 

Guilherme Estrella, Diretor de Exploração e Produção da Petrobras, abre o debate com o Conselho Diretor sobre os desafios que precisam ser enfrentados para que o pré-sal represente, de fato, um avanço para o país.

Os primeiros resultados concretos dos poços do pré-sal deixaram claro que o Brasil estava em um momento decisivo, diante de reservas petrolíferas extraordinárias. A descoberta, devido ao seu papel plenamente estratégico para a soberania do país, foi imediatamente abraçada pelo governo federal, culminando na modificação da legislação do petróleo, contemplando as reservas do pré-sal e o novo marco regulatório.

Diretor de Exploração e Produção da Petrobras, o geólogo Guilherme Oliveira Estrella vem apresentando à sociedade, sempre que possível, o processo vivenciado pela empresa, novamente alçada ao patamar de um protagonismo que, hoje, mais que em qualquer outra ocasião, convive com imensos desafios que precisam ser enfrentados e vencidos para que o país possa, efetivamente, usufruir do progresso que repousa em águas profundas. No dia 13 de junho, Estrella apresentou dados e re flexões ao Conselho Diretor do Clube sobre o tema que, segundoele, além de ser crítico para o desenvolvimento do Brasil, está intimamente ligado à engenharia.

Após anos de atuação tímida e inexpressiva nas rodadas de licitações de blocos de petróleo, a Petrobras assume a posição de uma verdadeira potência para a exploração do pré-sal. Décadas de monopólio estatal garantiram uma alta competência exploratória e um conhecimento profundo das bacias geológicas do país, aumentando consideravelmente a capacidade de novas descobertas. Com uma reserva/ produção de cerca de 20 anos e um salto de crescimento estimado até 2020 na produção de óleo e gás, o Brasil vive hoje um momento crítico. Escolhas relevantes precisam ser feitas.

Hora da decisão

“O pré-sal pode ser uma grande oportunidade de desenvolvimento ou uma gigantesca ameaça para o país. Estamos em uma encruzilhada que precisamos resolver nos próximos anos”. Esse foi o alerta de Estrella. Entre 2003 e 2010, a Patrobras instalou 33 unidades de exploração e produção, custando, cada uma, cerca de US$ 6 bilhões. De 2011 a 2020, serão instaladas outras 56 unidades. “O governo Lula assumiu o compromisso com o conteúdo nacional, de fabricação no Brasil. Isso é ótimo, mas é preciso lembrar sempre que a inteligência não está na construção, mas no projeto de engenharia”.

“Para acompanhar o salto de crescimento, a Petrobras investirá US$ 110 bilhões entre 2010 e 2014 no Brasil. Desse montante, 72% serão investidos em desenvolvimento da produção, 17% na exploração e 11% em infraestrutura – portos, áreas de apoio, heliportos etc. Ao analisar as empresas que serão as destinatárias finais desse investimento em exploração e produção, chega-se à conclusão de que 66% são de controle estrangeiro e apenas 34% de controle nacional”, informou Estrella.

Ao se comparar os investimentos feitos em pesquisa e desenvolvimento no que se refere ao percentual do PIB, o desempenho do Estado brasileiro não é muito diferente daqueles dos países desenvolvidos. Na questão do investimento de empresas privadas, no entanto, somos infinitamente menores. “Acontece que as empresas estrangeiras que atuam no Brasil não investem em planejamento e desenvolvimento aqui, mas nas suas matrizes. Já vimos, inclusive, empresas brasileiras serem adquiridas por empresas estrangeiras e seus departamentos de engenharia serem extintos porque os projetos vêm do exterior”, alertou Estrella. “Nós precisamos aproveitar o novo momento trazido pelo pré-sal para fortalecer as empresas genuinamente brasileiras. Caso contrário, vamos investir cento e tantos bilhões de dólares que irão sair do país e, ainda pior que isso, a inteligência, a engenharia vai ficar lá fora, financiada por nós”.

Participação nacional

Segundo Estrella, a partir de 2000, a participação da Petrobras nas licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) caiu vertiginosamente. No final de 2002, se a empresa não revertesse a tendência de não aquisição de blocos, só realizaria trabalho de exploração até 2008, quando passaria, então, a apenas produzir petróleo. Entre 1999 e 2001, por exemplo, a Petrobras adquiriu 14 campos, contra 64 campos arrematados por empresas estrangeiras. “A área exploratória é a raiz de uma empresa de petróleo. Uma em presa que não tem onde explorar está condenada ao desaparecimento, até porque os campos petrolíferos decaem de produção em uma média de 10% ao ano. Se novos campos não são adquiridos, a empresa vai para o buraco”.

A nova postura assumida pelo governo Lula mudou esse paradigma. A participação da Petrobras nas licitações, por pressão direta do acionista controlador da empresa, o Governo Federal, é hoje competitiva, adquirindo mais blocos: entre 2003 e 2008 foram 69 blocos adquiridos. “Lembro que, ainda em 2003, quando perdemos um bloco na Bacia de Santos, a presidenta Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, me ligou e traduziu em uma frase a de cisão do governo Lula de restaurar a presença da Petrobras co mo condutora do sistema petrolífero brasileiro: “Não me perca mais nenhum bloco”, conta Estrella.

Todo esse movimento que vem se desenhando graças ao apoio governamental ao papel do Brasil na exploração do pré-sal pode representar a recolocação do país na política mundial como um líder, mas o óleo extraído não faz a mágica sozinho. “Mais que construir, o Brasil precisa criar. Só assim teremos autonomia de decisão, sem depender da inteligência internacional. É preciso estabelecer instrumentos e políticas nacionais de segurança, uma ação qualificada do BNDES e um marco legal que abranja o aspecto da tecnologia nacional para garantir que levaremos a cabo as nossas prioridades: a proteção da Amazônia azul, o controle do espaço aéreo, a democratização da comunicação e o nosso pré-sal”.

Indústria genuinamente brasileira

O Clube de Engenharia tem em sua longa trajetória intensa participação nas lutas em defesa da soberania e da indústria nacional. O encontro com o diretor da Petrobras foi considerado histórico por membros do Conselho Diretor na soma de forças pela consolidação de políticas públicas que garantam e consolidem o mercado de empresas genuinamente brasileiras. “O convite que se faz, com freqüência, ao Clube de Engenharia para reunir a competência e a bagagem, tanto técnica quanto política, de seus associados para trabalhar, cada vez mais, em prol da formulação de uma política industrial que defenda os interesses da nação encontra hoje em pessoas como Guilherme Estrella aliados da maior importância”, afirmou o vice-presidente Manuel Lapa.

 

Jornal 509 – Julho 2011 – páginas 04 e 05 – Pré-sal

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