Há cerca de dez meses o país tem vivido uma situação dramática em sua infra-estrutura aeroportuária. Greve de controladores, equipamentos e pistas inadequados, falta de transparência, informação e comando têm resultado em longas esperas, superlotação e caos nos aeroportos brasileiros.

Nesse contexto, o acidente com o vôo 3054 da TAM em Congonhas deixou o país, que ainda não tinha se recuperado do acidente anterior com o avião da Gol, em estado de choque. Dois acidentes aéreos em menos de um ano causaram 350 mortes, conseqüências de uma engenharia que foi deteriorada nas áreas de consultoria, equipamentos, aeroviária, de abastecimento, de software, de controle e de logística, entre outras.

As razões da colisão entre o Boeing da Gol e o Legacy norte-americano, origem da crise, trouxe ao debate outra questão onde a engenharia deverá se pronunciar: a inexistência de comunicações entre o controle aéreo e as aeronaves voando nas zonas de transição da Amazônia, entre o Sindacta I, de Brasília, e o Sindacta IV, de Manaus.

Dirigentes de mais de dez órgãos oficiais e das empresas que atuam no setor continuam trocando acusações, mas até hoje não conseguiram apresentar uma solução para a crise. 
Alguns apontam que as obras realizadas pela Infraero nos aeroportos cuidaram mais da estética e menos da segurança. A própria reforma da pista principal do aeroporto de Congonhas só começou após a decisão judicial que proibiu o seu uso em dias de chuva.

Depois de uma reforma inacabada, a pista foi entregue sem as ranhuras (grooving). As razões do acidente ainda estão sendo apuradas, mas as primeiras análises apontam que a solução do problema estaria na falta de gestão profissional e técnica. Ou seja: houve política de mais e engenharia de menos.

Outro aspecto da crise também afeta as empresas de engenharia e de consultoria brasileiras: a "mordida do leão". Na passagem aérea estão embutidos 38% de tributos, sem contar a taxa de embarque. A regulação e fiscalização do setor cabe à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que sucedeu o antigo Departamento de Aviaçção Civil (DAC). Cabe à agência também zelar pela infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária. O serviço é caro mas a qualidade não tem conseguido garantir condições mínimas de segurança nos vôos.

A redução de parte do tráfego concentrado em São Paulo e em Brasília não saiu do papel. Os aeroportos Tom Jobim, no Rio de Janeiro, Tancredo Neves, em Belo Horizonte, e Guararapes, em Recife, continuam subutilizados.

O transporte aéreo é parte importante da logística de escoamento das exportações no Brasil, considerado na geopolítica, por sua extensão territorial, como um país "baleia". O transporte aéreo constitui-se, às vezes, no único meio de suprimento de algumas regiões isoladas da Amazônia e interliga centros industriais, comerciais e de serviços separados por grandes distâncias. O deslocamento de passageiros pelos aeroportos brasileiros, é bem verdade, apresenta evolução acima das expectativas mais otimistas.

O crescimento do mercado de passageiros não acompanhou a qualidade do serviço prestado. Com o apoio da sociedade, os grandes desafios nas áreas de logística e de alta tecnologia, acreditamos, serão respondidos pela engenharia brasileira. Afinal, o país de Santos Dumont e da Embraer, que está entre as quatro maiores fabricantes de avião do mundo, não pode desistir de voar.

A Diretoria

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