Aterro de Seropédica: avaliações técnicas e ambientais

Meio Ambiente

A cidade do Rio de Janeiro gera 9 mil toneladas diárias de lixo. Embora 40% desse montante possa ser reciclado, apenas 1% é de fato. Todo o resto é depositado no Aterro de Gramacho, que se aproxima do limite.

 

A partir de 2011, o aterro será gradualmente desativado. O novo destino do lixo, a Central de Tratamento de Resíduos de Seropédica, foi o tema da mesa redonda, realizada pelo Clube de Engenharia com apoio da Divisão Técnica Especializada de Engenharia do Ambiente (DEA), que reuniu, no dia 30 de setembro, um auditório lotado. Foram quatro horas de discussões que culminaram na publicação de um ato oficial da Prefeitura de Seropédica, suspendendo o alvará de localização do aterro sanitário.

Desde que foi anunciado, o projeto para a construção do aterro de Seropédica dividiu opiniões, devido à questão ambiental. A área escolhida para o empreendimento fica sobre o Aquífero Piranema, o terceiro maior reservatório subterrâneo de água potável do estado, e o risco de contaminação é incerto.

“Há estudos que mostram que, naquela área há um alto risco de enchentes, além de quatro cabeceiras de drenagem. Aquele não é o lugar certo para um aterro sanitário”, afirmou a geógrafa, Hilde de Barros Goes, professora da UFRRJ. Já Jorge Xavier da Silva, Chefe da Divisão de Engenharia do Ambiente do Clube de Engenharia questionou a escolha do terreno. “A UFRRJ preparou oito relatórios. São inúmeros os pareceres técnicos desfavoráveis. Por que não se buscou outro espaço para a construção do aterro?”.

Por outro lado

De acordo com informações da Ciclus, empresa responsável pela operação do aterro, o projeto é de alta tecnologia e conta com uma rede de sensores capazes de detectar vazamentos ou tremores em todo o terreno onde o lixo será depositado. Além disso, a impermeabilização do solo será feita por três camadas de polietileno e um sistema que drenará o gás e o chorume.

Para Adacto Ottoni, do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da UERJ, a tecnologia pode não ser suficiente para garantir a integridade do aquífero, uma vez que a história mostra que outros projetos não conseguiram prever acidentes. O Assessor Chefe da Diretoria Técnica e Industrial da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), José Henrique Rabello, admitiu que a construção de aterros não é a melhor solução, mas é a mais viável no momento.

Com a aprovação dos técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), representado na mesa redonda pelo coordenador de Estudos de Impacto Ambiental, e do Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro (DRM-RJ), Dyrton Bellas, e todas as autorizações, inclusive ambientais, as obras começaram em agosto e os planos da Ciclus apontam para o início das atividades em dezembro. As manobras políticas e legais, no entanto, continuam acontecendo em torno da obra.

No ano passado, a Câmara de Vereadores de Seropédica aprovou uma emenda à Lei Orgânica proibindo a instalação de aterros na cidade. A prefeitura, sob a gestão do então prefeito Darci dos Anjos Lopes, entrou na justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a proposta.

Com a decisão favorável, a prefeitura concedeu a licença para a obra. Dezoito dias após o início das obras, Alcir Martinazzo assumiu a prefeitura devido à cassação do mandato do prefeito anterior. Ademar Quintela, Secretário de Meio Ambiente, Tecnologia e Agronegócios representou a prefeitura na mesa redondae apresentou um ato oficial assinado pelo prefeito determinando a suspensão do alvará de localização do empreendimento e a instauração de sindicância para que sejam apuradas eventuais ilegalidades.

Em busca de soluções

Embora novas tecnologias estejam sendo estudadas, os aterros sanitários controlados ainda são a alternativa mais usada em todo o mundo para o armazenamento e tratamento dos resíduos gerados pelas grandes cidades por ter a melhor relação custo-benefício. Paralelamente a isso, as empresas buscam diminuir os danos por meio de compensações socioambientais que beneficiam as comunidades mais próximas.

Segundo a Diretora-Presidente da Ciclus, Luzia Galdeano, os lixões existentes em Seropédica e Itaguaí, totalmente sem controle ambiental, serão fechados e o esgoto da cidade, hoje sem tratamento, será tratado no aterro sanitário.

 

Jornal 500 – outubro 2010 – página 12 – Meio Ambiente

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