Reunião da Frente Pró-Rio recebe o diretor geral do Hospital Universitário do Fundão e formaliza apoio ao projeto do novo hospital

Garantir que o Rio de Janeiro e seus municípios sejam contemplados de forma justa pelos recursos do Orçamento da União e receba a atenção que merece do poder público. Este é o objetivo da Frente Pró-Rio, movimento suprapartidário que congrega hoje 35 organizações, entre associações, sindicatos, federações e entidades de classe. Em sua última reunião, no dia 08 de novembro, no Clube de Engenharia, a Frente decidiu retomar a causa de defesa do hospital universitário na ilha do Fundão.

Somando o abandono da ala sul do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), com os anos em que a estrutura ficou exposta, foram seis décadas de infiltração da chuva que levaram duas colunas, no dia 21 de junho de 2010, a cederem 15 centímetros em juntas de dilatação. Com uma chance de desabamento iminente de 80%, com 15% de chances de atingir a parte do prédio em uso, houve um consenso de que a “perna seca” do hospital deveria ser demolida e de que um novo prédio deveria ser construído no lugar, ainda que as fontes dos recursos para esse projeto sejam incertas. “Há pouco tempo o Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais tomou forma legal e passou a haver a obrigatoriedade do Ministério da Saúde arcar com mais recursos do que vinha fazendo. Houve uma grande expectativa, mas quando a legislação se definiu, em setembro, o Ministério da Saúde se dispôs a investir 300 milhões. Até agora, só chegaram 100 milhões. Após a divisão com os outros 45 hospitais universitários, recebemos 3 milhões e 300 mil”, explicou o diretor geral do hospital, professor José Marcus Eulálio.

Contando com a presença do presidente do Clube de Engenharia e Coordenador da Frente, Francis Bogossian, do presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro e representantes de diversas entidades, como a Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SEAERJ), Academia Brasileira de Filosofia, Associação Comercial, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), Sindicato dos Trabalhadores, Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI), Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, Associação de Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ), entre outras, foi oficializado, durante a reunião, o apoio da Frente Pró-Rio na busca por recursos para a construção do novo hospital universitário.

Histórico de negligências e resistência

Popularmente conhecido por Hospital do Fundão, o HUCFF começou a ser construído durante o governo Getúlio Vargas após décadas de reivindicações da Faculdade de Medicina da então Universidade do Brasil por um prédio próprio. De acordo com o professor da UFRJ, Amâncio Paulino de Carvalho, naquela época, os avanços da medicina carregavam um conceito de grandes hospitais universitários que pudessem suportar a internação de todos os pacientes para cirurgias, diagnósticos, tratamentos, atendimento ambulatorial etc. Durante o governo Juscelino Kubitschek, as atenções – e os recursos – se voltaram para Brasília e o esqueleto da obra ficou abandonado por quase 30 anos.

Quando as obras foram retomadas, o conceito de grandes hospitais já era ultrapassado. O prédio de 220 mil metros quadrados, com capacidade para 1.800 leitos se mostrou muito caro para ser concluído e equipado e complexo demais para ser administrado e mantido. Por isso, no final da década de 1970, quando o hospital ficou pronto, decidiu-se pelo abandono da ala sul. Desde então, por 30 anos, aquela área foi totalmente negligenciada e saqueada.

A degradação da ala sul acontecia ao mesmo tempo em que, na ala norte, o hospital enfrentava seus próprios problemas. Em 1982 a crise se agrava com uma queda vertiginosa no orçamento do hospital. Anos depois, na transição para o Real, a única área que não é reajustada em relação à moeda anterior é a da saúde, ficando com uma defasagem de 25%. Por fim, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, há uma severa diminuição de despesas públicas e as universidades federais são escolhidas como alvo desse esforço pela diminuição dos gastos.

Até hoje, o hospital ainda não encontrou um padrão de financiamento que dê conta de sua necessidade. Desde 1990, o Ministério da Educação não encaminha recursos para os hospitais universitários, que passaram a viver principalmente do SUS. “Todos sabemos que a tabela do SUS é defasada e, mesmo em um hospital muito bem administrado, não dá conta nem de 60% dos custos. Vivemos, então, nessa situação de subfinanciamento”, explicou Amâncio.

Mesmo com todos os problemas enfrentados, a faculdade de medicina da UFRJ nunca deixou de cumprir seu dever social. “Desde 1999, nos cinco provões do ensino superior de medicina, a UFRJ ficou em primeiro lugar tres vezes, e em segundo, duas vezes, atrás da USP, cujo hospital universitário teve esse ano um orçamento de 1 bilhão e 400 milhões de reais contra menos de 200 milhões de reais da UFRJ. Nossa missão social de formar profissionais de qualidade foi heroicamente cumprida”, declarou Amâncio.

Apoio em diversas frentes

O apoio da Frente Pró-Rio se justifica não só pela tradição representada pela UFRJ, mas também pelo espaço de destaque que ocupa na educação e saúde. O Clementino Fraga Filho é o terceiro hospital em número de transplantes no Brasil. No início da década, ele só ficava em segundo lugar nas áreas de tratamento do câncer, ortopedia, sangue e derivados e cardiologia para os hospitais especializados, um padrão que não foi mantido devido à falta de financiamento. Além disso, os desafios e demandas do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho vão ao encontro de uma das lutas prioritárias adotadas pela Frente: a urgência do investimento de recursos do governo federal nas universidades Federal (UFRJ), Federal Rural (UFRRJ) e Federal Fluminense (UFF) e Centros Federais de Educação e Tecnologia (Cefet).

O projeto de construção de um novo hospital – com menor custo de manutenção e conceitos modernos de ocupação do espaço – e a destinação do atual prédio para a pesquisa, ensino e administração acadêmica, já está pronto, mas do ponto de vista financeiro, falta encaminhamento. “Há várias ações possíveis. Uma saída seria conseguir aprovar algumas emendas parlamentares para que pudéssemos licitar o projeto do novo hospital”, explicou Eulálio.

Francis Bogossian expressou o total apoio da Frente Pró-Rio ao projeto. “Estamos prontos para arregaçar as mangas porque não há nada mais importante para um estado que o destino da sua população. Por isso, não podemos perder tempo, que muito mais que dinheiro, é de vida que estamos tratando. Eu me proponho a levar o assunto aos ministros de Estado e ao governador Sérgio Cabral, que sempre foi muito aberto ao diálogo e sensível a estas demandas”, explicou. “Temos diversos caminhos e não vamos medir esforços. Podemos ir direto à presidência da República ou à bancada federal”.

Francis lembrou, ainda, da localização estratégica do HUCFF, fazendo com que ele atenda tanto a zona norte quanto a zona sul, principalmente aos menos favorecidos que ali encontram equipamentos e tratamentos de alta tecnologia.

O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, propôs aproveitar a presença de três grandes entidades da engenharia no Rio de Janeiro – Clube de Engenharia, o Crea-RJ e SEAERJ – e formar um organismo que pudesse acompanhar os passos do projeto, prioritariamente nas questões que dizem respeito à engenharia. “Essa seria uma forma da Frente Pró-Rio fazer repercutir esse assunto nas nossas instituições e, em conjunto, levar o tema a toda a sociedade”.

União de forças na luta pelo Rio

As lutas da Frente Pró-Rio, que tem o Clube de Engenharia na coordenação, ganharam novo impulso no dia 22 de novembro. Em reunião de emergência, representantes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET), Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) e Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj) receberam o deputado federal Hugo Leal.

O deputado se comprometeu a levar a carta compromisso enviada aos candidatos a deputado federal e senador nas últimas eleições à bancada parlamentar e articular ações efetivas em prol das questões nela apresentadas. Hugo Leal também encaminhará a questão do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão. “O importante agora é garantir que haja recursos e que eles sejam efetivamente aplicados”, ressaltou.

Entre os projetos listados pela Frente Pró-Rio na Carta Compromisso estão a conclusão do Arco Rodoviário, a construção do Metrô Gávea – Barra, a duplicação da BR 101, a conclusão do pólo petroquímico de Itaboraí, a criação de corredores turísticos, a ampliação da malha rodoviária, a luta pela defesa dos royalties, e os investimentos na recuperação dos aeroportos Galeão e Santos Dumont.

 

Jornal 502 – dezembro 2010 – páginas 06 e 07 – Desenvolvimento

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