Francis reafirma a importância de inspeções e manutenções para o Conselho de Tecnologia da Firjan

A inexistência de uma cultura de manutenção preventiva deixa na gaveta leis, normas e manuais de alto valor técnico e condena o poder público a gastos vultuosos em obras realizadas em momentos críticos ou após tragédias 

“A importância da manutenção no bom desempenho das construções faz parte do conhecimento da engenharia civil e está consolidada através das normas técnicas nacionais e internacionais e práticas consagradas. Entretanto, a manutenção não vem sendo adotada de forma sistemática”. Esse foi o tom da apresentação de Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia, na última reunião do Conselho Empresarial de Tecnologia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro /Centro Industrial do Rio de Janeiro (Firjan/Cirj), dia 17 de abril, na sede da entidade.

De forma didática, Francis levou aos membros do conselho - do qual é vice-presidente – conceitos e exemplos práticos para evidenciar a inexistência de manutenção preventiva em obras públicas e privadas, o que vem transformando em rotina interdições e tragédias em todo o país. Citando a regra de Sitter, o presidente destacou que o fator financeiro não pode ser usado como desculpa para a falta de manutenção: “Com boas práticas construtivas gasta-se uma unidade de dinheiro. A manutenção preventiva custa cinco vezes o preço da construção. Se há falha, sintomas claros de queda de desempenho e é necessário o reparo, a manutenção corretiva, gasta-se dez vezes mais. Na última fase, quando é urgente intensa reparação, os gastos são 125 vezes maior”.

Acompanharam a apresentação o presidente do Conselho Empresarial de Tecnologia da Firjan, Fernando Sandroni; Roberto Aroso, da Associação Brasileira de Telecomunicações (ABTelecom); João da Jornada, presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Francisco Pais, da Petrobras; Regina Lago, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Nelson Brasil, da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), entre outros membros do conselho.

Segurança de forma ampla
Francis escolheu quatro vertentes para falar do tema central, a segurança garantida pela manutenção: as barragens; a autovistoria em edifícios; pontes e viadutos; e as encostas. No caso das barragens, o presidente destacou a Lei 12.334, promulgada em setembro de 2010, que normatizava a segurança das barragens. “Temos uma lei, mas os problemas não estão sendo resolvidos. O assunto exige uma atenção permanente e engenheiros especializados capazes de avaliar corretamente o comportamento dessas estruturas em função das mudanças contínuas as quais são submetidas. A lei existe, mas nada está acontecendo”, denunciou.

Já a Lei 6.400, ou Lei de Autovistoria, a norma de manutenção de edificações foi apontada como um avanço. Uma vitória do Clube de Engenharia e entidades parceiras que redigiram e entregaram o projeto à prefeitura e Câmara dos Vereadores, a lei deixa em aberto aspectos importantes, como a especificação dos métodos a serem empregados para a elaboração dos laudos que serão o ponto de partida para o plano de prevenção corretiva ou preventiva das edificações. “Agora temos uma lei. Há também uma norma técnica brasileira, a NDR 5674 de 2012, que estabelece todos os requisitos para o sistema de manutenção de edifícios. Proponho que o relatório de inspeção da norma seja utilizado como base para o laudo técnico exigido pela lei. Seria um primeiro passo para a aplicação prática”.

Sobre a manutenção de pontes e viadutos, Francis esclareceu que, mais uma vez, há documento que deixa claro o trabalho que precisa ser feito. O Manual de Inspeção de Pontes Rodoviárias do IPR-Denit, revisado em 2004, busca formar os profissionais que executarão inspeções de pontes e viadutos e detalhar procedimentos. “O que resta é perguntar se esses procedimentos são seguidos. Eu acredito que não”. Francis citou o viaduto do Joá como “um exemplo claro de uma herança de descaso com a manutenção pelas autoridades responsáveis desde a sua construção, algo que está sendo enfrentado pela administração atual”. Sobre os deslizamentos de encostas e os alagamentos, Francis citou a norma NBR 11682, que determina a periodicidade de visitas, orientação sobre aspectos críticos etc. Segundo ele, essa é mais uma recomendação que não tem sido seguida. “Precisamos de uma entidade como a Geo Rio em âmbito federal, ligada à Presidência da República. Algumas prefeituras não têm recursos para manter um corpo técnico e realizar as obras preventivas”, propõe.

“O material existente, normas, lei e manuais, são completos, atualizados e de alto valor técnico. O que nos falta claramente é implementar a utilização do que já está aprovado e definido. Precisamos criar a cultura da inspeção e manutenção no Brasil a fim de garantir que as nossas construções se mantenham com o desempenho e a durabilidade desejadas, com funcionalidade e segurança ao longo da sua vida útil”, finalizou o presidente.

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