Semana da Geologia discute mercado, ensino e direitos trabalhistas dos geólogos brasileiros

Mercado, ensino, direitos trabalhistas, regulamentação profissional. Esses são alguns dos grandes temas em debate na Semana da Geologia realizada no Clube de Engenharia. Em destaque, os desafios da profissão para os próximos anos. As reflexões foram desde a análise dos cursos de geologia nas universidades brasileiras até a criação de um sindicato próprio para a área.

No primeiro dia de palestras a chefe do departamento de Geociências da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Angélica Cherman e o gerente geral da Universidade Petrobras, José Alberto Bucheb abordaram a mão de obra disponível no país, alocada, hoje, nos setores de petróleo e gás. Devido à grande diferença nos salários oferecidos pelas diferentes áreas, as universidades têm sido pouco escolhidas como alternativas de trabalho para esses profissionais. A dificuldade mais clara é a de manter professores e pesquisadores na academia. Isso porque há a promessa de ganhos muito superiores dentro e fora do país na área energética.

Educação e formação corporativa

Segundo Angélica, o curso de geologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), conta com 230 alunos matriculados e com a entrada anual de outros 45. Aos 43 anos de história, Geologia é o segundo curso mais procurado, superando, inclusive, os mais tradicionais, como veterinária e agronomia. “Até ano passado tínhamos só dez microscópios em laboratório. As instalações têm a mesma estrutura há 43 anos mas, de lá para cá, o número de alunos e professores dobrou. Temos que matar um leão por dia”, explicou. A coordenadora destaca a necessidade de discutir contextos, de forma a  garantir que as instâncias superiores entendam que o curso de geologia requer cuidados e alocação de recursos especiais.

José Bucheb apresentou a formação dos funcionários na Universidade Petrobras e destacou os desafios técnicos e logísticos que surgiram com o a descoberta do pré-sal em grandes profundidades. Segundo ele, a capacitação de pessoal e a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias têm caminhado juntas e mostrado resultados claros. “Junto com os desafios vêm as oportunidades. Muitos dos desafios já foram superados, como o avanço na sísmica de alta resolução, com maior sucesso exploratório (a média mundial de sucesso é de 30%, enquanto a média da Petrobras é de 60%, com 80% apenas na área do pré-sal) e a redução dos dias necessários para a perfuração de poços, de 134 dias em 2006 para 70 dias em 2012. Cada dia a menos de perfuração significa uma economia de 1 milhão de dólares”, explica.

A Universidade Petrobras é hoje parte do processo seletivo. Segundo o gerente, após passar no concurso, é preciso ser aprovado pela universidade, ou não há admissão. “Faz parte do processo seletivo de geólogos, geofísicos e engenheiros de petróleo, que são cargos críticos”, explicou.

Contexto político

A história formal da geologia, desde 57, caracteriza-a como profissão Estado, uma vez que a relação com os avanços do país é direta. Conselheiro do Clube e funcionário da Petrobras, Ricardo Latgé ressaltou a importância de também pensar o contexto político ao se falar de geologia. “Foi a criação da Vale e da Petrobras que alavancou a profissão no país. Nasceram ali os primeiros seis cursos de geologia. Em 1960 há a interiorização, com novos cursos em Brasília e Belém. No período militar surgem as entidades públicas de mineração, como a CPRM e há outro boom de criação de cursos. De lá pra cá, até o governo Lula, a profissão foi esquecida. Não havia emprego. Hoje o potencial e a relevância da geologia voltam a ser evidentes. O fundamental ao olhar para frente é atentar não só a boa formação do profissional mas também a luta política para a valorização das geociências e do profissional na busca de um país que se pretende soberano e próspero”, defendeu.

Por um sindicato dos geólogos

Durante a tarde de quinta-feira, os geólogos e interessados na área puderam debater sobre a necessidade da criação de um sindicato próprio. O palestrante João Vicente Loureiro Bastos falou sobre o salário mínimo profissional dos geólogos. Através de assuntos como a regulamentação da profissão e as leis de piso salarial, João Vicente tirou dúvidas dos ouvintes. “A jornada de trabalho do geólogo precisa ser de 6 horas diárias, e o piso salarial mínimo é de 6 salários mínimos”, explicou. Ele também falou sobre casos específicos, como o dos profissionais que trabalham em plataformas marítimas. “Existe regulamentação específica para quem trabalha embarcado, isso porque muitos geólogos acabaram indo para a área de petróleo e gás, daí a necessidade de se discutir e criar novas regras que fossem justas para esses trabalhadores”, afirmou.

João explicou que uma das tarefas importantes do sindicato é a negociação e o resguardo dos direitos trabalhistas através de acordos coletivos e deu ênfase à  necessidade de maior aproximação entre estudantes, associações e sindicatos. “É nesses espaços que as discussões se dão, essas discussões podem gerar leis. Por isso os estudantes precisam acompanhar desde cedo”, defendeu. O palestrante falou também sobre insalubridade e periculosidade, questões da maior importância para os profissionais da área da geologia.

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