Falta de manutenção coloca em risco vidas e patrimônios

Presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, fala sobre a importância da inspeção e manutenção de obras civis para a prevenção de desastres

Dúvidas sobre a qualidade dos projetos de engenharia e execução de obras têm gerado forte repercussão na imprensa e redes sociais. Os danos à imagem da engenharia nacional são inevitáveis. A palestra realizada pelo presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, e pelas divisões técnicas de Estruturas (DES) e Engenharia Econômica (DEC) abordou esse e outros assuntos relacionados à manutenção e inspeção de obras. O evento ocorreu na última terça-feira, 11/06, na sede da entidade. Segundo Francis, não é preciso buscar novos estudos e nem criar novas normas. Estaríamos livres de acidentes, se o que já existe na legislação brasileira fosse aplicado.

“Os jornalistas Zuenir Ventura e Artur Xexéu já publicaram que é evidente o perigo que oferecem as nossas obras públicas e que o Rio de Janeiro estaria maquiando problemas graves de engenharia para preservar a sua imagem. Nós não podemos ignorar esses alertas. Temos que tomar para nós o assunto e levar à frente o debate”, defendeu Francis. Em um país que demonstra enorme descaso com a manutenção e inspeção, Francis destaca que o arcabouço teórico está à disposição, mas que não é aplicado na prática. De acordo com o presidente, a importância da manutenção no bom desempenho das construções faz parte do conhecimento da engenharia civil e está consolidada através das normas técnicas nacionais e internacionais e práticas consagradas. Entretanto, a manutenção não vem sendo adotada de forma sistemática.

Francis apresentou ao público presente e aos telespectadores da Web TV alguns conceitos e exemplos práticos para evidenciar a falta de manutenção em obras públicas e privadas. Segundo afirmou, estamos colocando em risco o patrimônio e a vida das pessoas por falta da manutenção. “A manutenção não tem visibilidade junto à opinião pública como ocorre com novas obras, e isso não traz retorno eleitoral. Precisamos propor questões importantes: A responsabilidade por um empreendimento se encerra no período de responsabilidade civil contratual? Será que os serviços de manutenção incomodam o usuário e o administrador não quer estar associado a esse fato? A imprensa precisa ser esclarecida de que esse incômodo é para o bem da população”, explicou o presidente.

Citando a regra de Sitter, de 1984 – que aborda a evolução dos custos de intervenção em função da fase da vida da estrutura -, o presidente destacou que o fator financeiro não pode ser usado como desculpa para a falta de manutenção: “Os gastos com a manutenção são, muitas vezes, vistos como desperdício. Mas com boas práticas construtivas o dinheiro gasto é mínimo comparado com consertos urgentes. A manutenção preventiva custa cinco vezes o preço da construção. Se existem sintomas claros de queda de desempenho e é necessário o reparo - a manutenção corretiva – temos um gasto de vinte e cinco unidades. Já na última fase, quando é urgente uma intensa reparação, os gastos são 125 vezes maiores”.

Bogossian falou também sobre a Lei 6.400, ou Lei de Autovistoria. A norma de manutenção de edificações foi apontada como um avanço e uma significativa vitória do Clube de Engenharia e entidades parceiras. Seu conteúdo foi redigido e entregue em forma de projeto à prefeitura e à Câmara de Vereadores. A nova lei traz aspectos importantes, como a especificação dos métodos a serem empregados para a elaboração dos laudos que serão o ponto de partida para o plano de manutenção corretiva ou preventiva das edificações.

Francis propôs que o relatório de inspeção da norma seja utilizado como base para o laudo técnico exigido pela lei. Para ele, este seria um primeiro passo para a aplicação prática, já que nada ainda está sendo feito. “Não vejo engenheiros sendo chamados para inspeções. Se não houver ações práticas já, a lei acabará sendo engavetada”, alertou o presidente do Clube de Engenharia.

 

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