Artigo: A importância de um Centro Cultural da Engenharia Brasileira

Por Aimone Camardella*

Não é demais dizer-se que, da Engenharia, como um todo, nascem os projetos e as obras que fazem e enaltecem o progresso de um povo.

Não é demais dizer-se que os profissionais dessa Área são, portanto, os grandes vanguardeiros desse trabalho que, se caracteriza, não só pela fundamental parte técnica, inerente a esta profissão, como também pela parte científica, que forma todo um arcabouço do ensino da engenharia.

Não é demais dizer-se, pois, que esses profissionais, com toda esta responsabilidade, precisam e merecem um Centro de Atividades, não só Sociais, como também, e principalmente, para trocar idéias técnicas e culturais com seus Colegas, num ambiente descontraído, e com as facilidades nele encontradas.

Como nos demais povos do mundo evoluído, o Brasil também precisa  de um Centro Cultural da Engenharia Brasileira (CCEB)  que possa permitir , aos profissionais dessa Área, as atividades, acima apresentadas.

Vale acrescentar, outrossim, que um ambiente dessa natureza há de permitir grandes realizações profissionais, como decorrência do contato direto entre especialistas dos inúmeros assuntos desta Área, e, quem sabe, de outras a ela relacionadas.

O acesso a este Centro Cultural permitirá, também a oportunidade de Professores, Alunos, Empresários e tantos outros Interessados nessas atividades, conhecerem de perto esses profissionais.

Como se vê, muitos são os objetivos de uma Instituição desse porte, cuja implantação demandará um local apropriado, de acessibilidade fácil, e que possa e deva atender aos profissionais da engenharia brasileira, como uma verdadeira casa do engenheiro.

Como será visto adiante, esse local existe. Infelizmente, a falta de manutenção o fez perder aquela auréola, que tanto honra a Engenharia Brasileira.

A intenção desta mensagem é por em prática tão importante centro cultural da engenharia brasileira.

Prédio do Largo de São Francisco de Paula

A história da Engenharia Brasileira remonta a mais de duzentos anos, quando, em 1792, o Governo de Portugal no Brasil determinou que , na Real Academia  de Artilharia, Fortificação e  Desenho, se concretizasse a formação dos oficiais e civis “que quisessem seguir a profissão de Engenheiro”, conforme seus Estatutos.

Pela Lei de 4 de dezembro de 1810, do Príncipe Regente (futuro Rei D. João VI), foi criada a Academia Real Militar, que veio suceder e substituir a Academia de 1792, e de onde descendem , em linha direta, a Escola Militar(1839), a Escola Central(1858),  a famosa Escola Politécnica do Rio de Janeiro(1874), a Escola Nacional de Engenharia (1937), a Escola de Engenharia da UFRJ (1965), que, atualmente, passou a chamar-se novamente de Escola Politécnica.

A Academia de 1792 tinha sede  na Casa do Trem, o famoso casarão onde funcionou o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, e onde atualmente se encontra o Museu Histórico Nacional.

A Academia Real Militar de 1810 teve seu início também na Casa do Trem. Pelo Decreto de 22 de janeiro de 1811, foi designada como sede desta Academia o Prédio do Largo de São Francisco, construção inacabada, que tinha sido destinada à futura Catedral do Rio de Janeiro. Em março de 1812, a Academia se mudou definitivamente para o Edifício do Largo de São Francisco de Paula, tendo seu ano letivo sido iniciado a 1° de abril de 1812 nesse Prédio, Berço da Engenharia Brasileira.

Esta evolução, embasada pela real chancela do Príncipe Regente, futuro D. João VI,  à Carta de Lei de 1810, mostra quando a Escola de Engenharia da UFRJ passou a ministrar ensino técnico teórico de ciências matemáticas, físicas e naturais, sendo o curso de engenharia civil o mais tradicional e de maior renome.

Toda esta história da Engenharia Brasileira pode ser encontrada nos excelentes Trabalhos do Professor Paulo Pardal e de tantos outros ilustres Autores. “Este marco deve ser compartilhado por todas as Escolas de Engenharia do Brasil, direta ou indiretamente criadas por professores oriundos da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Mas, não esqueçamos que foi um marco do Governo de Portugal no Brasil, determinando que, na Academia de 1792, se concretizasse a formação dos oficiais e civis “que quiserem seguir a profissão de Engenheiros”, conforme seus estatutos” – “É urgente a recuperação do histórico prédio do Largo de São Francisco, o primeiro construído no Brasil para abrigar uma instituição de ensino superior, a Academia Real Militar. Na sua imperiosa destinação à memória de nosso ensino técnico e científico, almejo ver de novo reunidos os vultos dos eminentes engenheiros civis e militares ali  formados, no tributo que a Nação lhes deve, por suas contribuições nos campos tecnológico, político e cultural.” (Paulo Pardal- 1985)

Grande número de Professores e ex-alunos da Engenharia Civil e Militar deixaram marcadas as efemérides da Engenharia Brasileira,

como: Caxias, Deodoro, Visconde do Rio Branco, Paulo de Frontin, Benjamin Constant, André Rebouças e tantos outros.

Ao longo do tempo, a Academia Real Militar transferiu-se para Rezende, onde funciona até hoje, mantendo a tradição da primeira.

A Escola Politécnica, por sua vez, continuou funcionando nesse prédio, passando a fazer parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, que completa noventa anos.  Aqui, muitos outros nomes de Professores honraram e honram a nossa Engenharia, como: Maurício Joppert da Silva, Rufino Pizarro, Jurandyr Pires Ferreira, Antônio José da Costa Nunes, Dulcídio Pereira, Paulo Pardal, Sydney Gomes dos Santos  e tantos outros.

Em 1961, ela foi transferida para a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, estando provisoriamente este prédio ocupado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS).

Como se vê, este Prédio foi o berço da Engenharia Brasileira, não só civil, como militar, portanto há que se  manter esta tradição histórica, pois ela faz parte do nosso acervo nacional. Dessa forma, é , sem dúvida, o local apropriado, e, por direito, para a implantação do Centro Cultural da Engenharia Brasileira.

*Aimone Camardella é engenheiro, professor, sócio remido do Clube de Engenharia e presidente do Conselho Diretor da Associação dos Ex-alunos da Escola Politécnica.

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo