A importância de estudos geológicos-geotécnicos para obras civis

Por Francis Bogossian*

É com imenso prazer que atendo ao honroso convite da ABGE para dar meu depoimento durante a comemoração dos 45 anos desta importante associação. O Clube de Engenharia, entidade nacional que presido, foi fundado em 1880 e luta para promover o congraçamento entre os profissionais da engenharia e da geologia, dentre outras funções, em prol das grandes questões do desenvolvimento nacional.

Minha satisfação é igualmente grande por estar aqui na qualidade de engenheiro civil que atua ha quase meio século na área de geotecnia. Ao longo deste período, tive múltiplas oportunidades de trabalhar em estreita ligação com geólogos de engenharia, quer em atividades acadêmicas, como professor de mecânica dos solos e de investigações geotécnicas da UFRJ, quer no exercício da carreira de engenheiro, ou mesmo como membro de associações como a ABMS da qual fui presidente por dois mandatos.

Tenho me manifestado com frequência em favor desta importante complementaridade: o engenheiro geotécnico não deve prescindir do geólogo de engenharia, assim como o geólogo de engenharia precisa da colaboração da engenharia geotécnica. Apesar de tal afirmação parecer desnecessária aos estudiosos de ambas as especialidades, tenho observado que este trabalho conjunto ainda não se tornou prática consagrada na maioria dos empreendimentos no Brasil. Na área de barragens, entretanto, e salutarmente, esta interdisciplinaridade vem sendo praticada ha muitos anos com sucesso nos objetivos de redução dos custos, do aumento da confiabilidade e da segurança das estruturas.

Gostaria de falar também sobre o caso específico da engenharia geotécnica offshore voltada para a indústria do petróleo, área em que tenho atuado desde o momento em que a Petrobras iniciou suas atividades no mar, nos idos dos anos 70.

A programação, execução e interpretação corretas das investigações geotécnicas dos solos marinhos são de importância capital para o sucesso da implantação de estruturas submersas. Isto se enfatiza quando se trata de grandes lâminas d’água, onde carências de conhecimento detalhado do subsolo marinho podem levar a erros de concepção que por sua vez podem gerar elevados prejuízos financeiros e atrasos nos cronogramas, sem falar sobre a segurança de vidas humanas e riscos de desastres ambientais.

Nos empreendimentos em águas profundas, a multiplicidade de estruturas sofisticadas, tais como plataformas flutuantes ancoradas, equipamentos submarinos diversos e dutos para o transporte de óleo e gás produzidos, confere uma complexidade equivalente aos carregamentos e solicitações, inclusive dinâmicas, a serem respondidas pela interação solo-estrutura.

Além disso, a geologia destas regiões e altamente complexa, incluindo taludes de grande inclinação que sofreram escorregamentos pretéritos, topografia acidentada, falhas ativas, erosões causadas por correntes de contorno e sismos dentre outras. As estruturas necessárias a produção dos hidrocarbonetos estão muitas vezes localizadas junto a grandes taludes submarinos que precisam ter sua segurança a escorregamentos avaliada, após criteriosas analises dos riscos envolvidos, os chamados geohazards.

A programação global das investigações de campo engloba, necessariamente, o emprego de métodos diretos como sondagens especiais, coleta de amostras e ensaios “in situ”, como também dados geofísicos e geológicos de alta-definição. A análise conjunta destes resultados permitiria um entendimento mais completo do perfil geotécnico levando a otimização do projeto de fundações ou a maior segurança na análise de estabilidade dos taludes.

Avanços tecnológicos têm logrado disponibilizar equipamentos e métodos geofísicos cada vez mais eficientes e interpretação mais apurada levando a uma aplicação mais direta e intercâmbio mais amigável com a geologia de engenharia e a engenharia geotécnica.

Penso que, para o futuro, a integração entre as áreas de geologia e geotecnia deverá se dar de modo crescente com ganhos técnicos, econômicos e de segurança de enorme relevância para os empreendimentos.

Lembro-me que cheguei a propor, quando vice-presidente da Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica- ISSMGE, que esta formasse apenas uma associação junto com a Sociedade Internacional Mecânica das Rochas - ISRM e a Associação de Geologia de Engenharia - IAEG. Hoje a Federation of Internacional Geo-Engineeering Societies- FedIGS coordena as atividades das três instituições.

Hoje me arriscaria mesmo a dizer que em um futuro próximo, a engenharia geotécnica e a geologia de engenharia irão se fundir para formar um novo especialista na área das geociências.

*Participação de Francis Bogossian na comemoração dos 45 anos da ABGE no Clube de Engenharia, no dia 19 de setembro. Artigo disponível na publicação sobre a história da ABGE.

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