Clube e Aepet: mobilização em defesa da soberania nacional

Entidades da sociedade civil debatem a próxima rodada de leilões, que incluem o gás de xisto. Os riscos vão da degradação do meio ambiente à ameaça à soberania nacional

Em mais um passo na luta pela soberania nacional, o Clube de Engenharia e a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) realizaram ato em defesa da soberania nacional e do meio ambiente. O encontro, que contou com a participação de representantes de várias entidades da sociedade civil, debateu graves questões presentes na 12ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). As entidades acreditam que esta rodada representa um risco sério para o meio ambiente e para o futuro do Brasil por envolver leilão de reservas de gás de xisto.

Segundo o presidente do Clube, Francis Bogossian, o cenário promissor proporcionado pelo Pré-Sal, aliado à maturidade política do país colocam a engenharia brasileira no foco da atenção do mundo. “A engenharia nacional precisa ser abraçada por todos os setores para não acontecer como em países que tiveram a sua engenharia sucateada e hoje são totalmente reféns da tecnologia estrangeira”. Francis ressaltou, ainda, a falta de atuação do governo no sentido de garantir o desenvolvimento das empresas de engenharia nacionais.

Para Francis, esse leilão tem despertado interesse das empresas estrangeiras que já vêm operando com a nova matriz energética. “A prática está sendo contestada, no entanto, por causa dos riscos ambientais envolvidos. Os hidrocarbonetos, como petróleo e gás natural, são encontrados em reservatórios próprios. O Xisto permeia toda a formação geológica. O processo é invasivo e pode ocorrer a contaminação de aquíferos. Não podemos seguir sem que esse processo seja esclarecido e sem definirmos tecnicamente essa posição”, ressaltou.

O vice-presidente do Clube e da Aepet, Fernando Siqueira, argumentou no mesmo sentido. Segundo ele, o risco de contaminação da água e da atmosfera é alto, já que as trincas feitas na rocha de onde se extrai o gás de xisto fazem o metano se misturar a água. “É uma perfuração horizontal com a injeção de água para fraturar a rocha, que é mais compacta que o granito. Como tem uma permeabilidade muito pequena, a única forma é o fraturamento da rocha e a injeção de produtos químicos para facilitar o escoamento do gás. O metano impregna a atmosfera, a água com produtos químicos e compromete o meio ambiente”, explicou Siqueira, que também ressaltou a fragilidade da fiscalização ambiental.

O professor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli, defende a suspensão do leilão. “É preciso tempo para discutir com a sociedade e ambientalistas, fazer uma análise e uma previsão econômica”, afirmou. Pinguelli falou sobre o custo da exploração do gás não natural. Segundo ele, como não temos uma rede de gás compatível, é possível que a exploração seja economicamente inviável. “Nada impede que se faça uma pesquisa exploratória, mas abrir um leilão imediatamente é arriscado. Países sem outros recursos de hidrocarbonetos buscam agora esse gás não convencional, mas para nós, sequer economicamente, esse leilão é conveniente”, protestou Pinguelli.

As críticas se sucederam na mesma linha: o dirigente do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), Emanuel Cancella, acredita que a política do governo para o petróleo é um desastre. “O dinheiro do leilão de Libra serve pra pagar só 8 dias dos juros da dívida. Há um festival de privatizações. Até o que se considerou como avanço está ameaçado por quem agora está vendendo ativos da Petrobras de forma criminosa”.

O conselheiro do Clube de Engenharia, Paulo Metri, abordou a relação entre os leilões e as metas energéticas do governo dos Estados Unidos. De acordo com o engenheiro, a necessidade de energia barata faz com que os EUA decidam como ela será alcançada. “É um movimento para que o barril chegue a 40 dólares, o que permitirá aos EUA retomar as rédeas da economia mundial. O Brasil está cortando sua própria cabeça. Faz uma exploração alocada em seus recursos petrolíferos, que vão baixar de preço”, arrematou.

Na próxima quinta-feira, o Comitê em Defesa da Soberania Nacional, presidido pelo presidente do Clube de Engenharia, se reunirá para dar continuidade ao debate e definir os próximos passos em torno da questão.

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