Questão energética no Brasil: estratégias, modelos e dilemas

O modelo brasileiro de geração de energia elétrica é essencialmente hidrelétrico. Mais de 75% da capacidade de geração nacional é composta por usinas hidrelétricas de grande e médio porte. Os outros 25% são gerados por usinas termelétricas, nucleares e fontes alternativas. Este modelo, bem como os avanços e retrocessos em relação à geração de energia e ao aumento considerável da demanda do país foram temas do debate. O painel A Questão da Energia foi promovido pelo Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP) em parceria com o Clube de Engenharia, na última terça-feira, 29 de julho, com as presenças do presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian e do professor Roberto Amaral como coordenadores da mesa. Como palestrantes estiveram presentes Luiz Pinguelli Rosa, professor e diretor da COPPE/UFRJ, e Guilherme Dantas, pesquisador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (GESEL). 

O professor Roberto Amaral destacou que o Brasil é considerado o segundo país do mundo com maior potencial hidrelétrico, além de possuir excelentes características para produção de energia eólica e solar, duas grandes fontes alternativas. Amaral frisou, também, a disponibilidade de recursos energéticos de origem fóssil no Brasil, que aumentou consideravelmente após a descoberta do Pré-Sal. “Temos tudo isso, além de uma enorme reserva de urânio e tecnologia para explorá-la, somos um país privilegiado no que diz respeito à energia, mas ainda vivemos sob risco de apagão”, afirmou.

Apagão                                                                                                                                                                             

O risco de apagão foi tema do debate. Para o diretor da COPPE, Luiz Pinguelli, existem questões estruturais e conjunturais que formam o cenário energético atual. “Estamos mal de energia em função da conjuntura: chuvas escassas diminuindo a capacidade das hidrelétricas e aumento considerável do consumo de energia dos brasileiros impulsionado pelo maior poder de compra. Mas há, ainda, o problema estrutural que vem da forma como a questão energética é planejada”, afirmou. O professor criticou o corte na receita da Eletrobras, que chega a 8 bilhões de reais por ano e apontou este como um dos erros estruturais na gestão de energia no Brasil, além da política de preços de combustíveis.

Ainda sobre a ameaça de apagão, o pesquisador Guilherme Dantas destacou que o país está desde outubro de 2013 utilizando as termelétricas, mas o foco dos debates não pode ficar restrito a isso. “Há um risco sistêmico financeiro no mercado energético brasileiro. Desde 2008 já foram três sustos em relação à falta de energia elétrica. Estamos conseguindo construir novas hidrelétricas, mas o regime de operação sazonal é preocupante”, afirmou. Para Dantas, o problema financeiro deriva do modelo comercial brasileiro. “Temos analisado desde 2010 e lançamos um estudo chamado ‘O risco financeiro de um período seco prolongado para o setor elétrico brasileiro’, apontando justamente essas questões. Essas dificuldades sugerem, portanto, mudanças no setor energético”, defendeu. 

Meio ambiente

Pinguelli lembrou também que as hidrelétricas, embora gerem outros tipos de impactos, são pouco poluentes. “A maior parte do mundo usa carvão e combustíveis fósseis. Esse setor tem crescido no Brasil porque passamos a construir usinas sem reservatório e ficamos presos à vazão dos rios”, afirmou. Ele também destacou o potencial brasileiro para fontes alternativas como forma de complementar a demanda do país, mas que a indústria nacional precisa dar conta deste setor. “O Brasil disparou em geração de energia eólica, chegando a produzir o mesmo que as termelétricas recentemente, mas onde está a indústria nacional para produzir os aero-geradores necessários?”, provocou.

As dificuldades em torno das licenças ambientais e da construção das hidrelétricas também foram pontos abordados. Guilherme Dantas defende a necessidade de expor com clareza para a sociedade a dimensão dos impactos ambientais de todas as formas de geração de energia. “Precisamos explicar para a sociedade que qualquer opção que se faça para gerar energia terá impacto ambiental, e não apenas Belo Monte. É preciso colocar na mesa as diferentes alternativas”.

Olhar estratégico

Ponto comum entre os palestrantes foi a necessidade de enxergar de forma estratégica e integrada a questão energética no Brasil. Pinguelli ressaltou a competência da Petrobras neste quesito, não apenas pelo Pré-Sal. “O caso da refinaria de Pasadena, por exemplo, está incluído na tentativa da Petrobras de colocar em prática a estratégia de entrar no mercado americano de derivados de petróleo, o que só é possível se tais produtos forem provenientes de refinarias  lá  instaladas”, pontuou.

Dantas questionou o modelo de desenvolvimento que desejamos. “Nós estamos satisfeitos com o estágio atual de desenvolvimento socioeconômico? Se não, precisamos definir que modelos vamos adotar para garantir esse crescimento. Para isso, é necessário promover o que falta para o setor elétrico: uma visão estratégica”, concluiu. 

No encerramento da sessão o Presidente Francis Bogossian agradeceu a presença de todos e reafirmou o interesse do Clube de Engenharia na parceria com o IBEP para, em conjunto, promoverem eventos como este, tão importantes para o desenvolvimento soberano do Brasil e o bem estar de todos os brasileiros. 

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