Um documento infame atribuído à ESG conclama ao golpe no Brasil

Aliança pelo Brasil

Por J. Carlos de Assis*

Circula na internet um monstruoso texto atribuído à ESG  (Escola Superior de Guerra) com uma espúria denúncia segundo a qual o Brasil vem sendo governado por um grupo “gramsciano” que quer nos impor uma ditadura comunista. É tão extemporâneo, tão eivado de Guerra Fria, tão claramente golpista que não valeria a pena dedicar uma única frase para repeli-lo não fosse a menção explícita à Escola Superior de Guerra, uma entidade que, depois do Governo militar, se tornou importante centro de pensamento político no país.

Creio que, nos últimos anos, fiz pelo menos cinco palestras na ESG em ambiente de franca discussão, liberdade de pensamento e total independência política. Seu corpo permanente de professores honra a tradição de liberdade que a Escola conquistou nas últimas décadas, valorizando a credibilidade adquirida depois do regime militar, e mesmo durante esse regime, quando seus pontos de vista críticos eventualmente desagradavam o general de plantão na Presidência. Os diferentes públicos a que me dirigi quando estive lá, formados por profissionais de alto nível, sempre se destacaram pela diversidade ideológica e política.

Entre conferencistas na ESG nos últimos anos, lembro-me,  apenas para destacar a diversidade, de Elio Gaspari, um jornalista de mais alta credibilidade no país, rigorosamente independente em termos políticos, ou de Reynaldo Gonçalves, economista, um dos mais radicais críticos dos governos do PT. O único ponto fraco da ESG é que, depois da ditadura, ela perdeu totalmente a cobertura da imprensa. A grande mídia que sempre lhe deu total atenção enquanto era, em parte, caixa de ressonância do autoritarismo calou-se diante da ESG democratizada.

A fraude colocada na internet em nome da ESG, por certo que para lhe dar alguma credibilidade, vem referida à ADESG de Mato Grosso do Sul (!), não se sabe se também de forma fraudulenta. A ADESG, Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, distribuindo-se por Estados, pode ser, no caso de Mato Grosso do Sul, um ninho de golpistas ou simplesmente um grupo de pessoas inocentes e manipuladas. Em qualquer caso, a seção local não tem legitimidade para falar sequer em nome da ADESG, que dirá da ESG.

A técnica do documento é a de Goebbels, o chefe do aparato de propaganda de Hitler. Cria-se um ente abstrato de razão, o judeu, atribuem-se a ele todas as mazelas e crimes do país e, com base nessas acusações falsas, liquidam-se, prendem-se e matam-se os judeus reais. No caso da ADESG, ou da falsa ADESG, o ente de razão abstrato é um suposto grupo “gramsciano” que estaria conquistando por meios democráticos  a hegemonia do Executivo, do Legislativo e do Judiciário para impor uma ditadura comunista no Brasil. Soa tão anacrônico, tão irrealista, tão idiota que não deveria merecer maiores comentários.

Contudo, merece. O fato de que a fraude esteja numa moldura de respeitabilidade, a ESG, pode dar ao leitor desatento, ou mal informado, a impressão de que está em curso um golpe contra instituições democráticas das quais, supostamente, os militares seriam guardiães. Aliás, o documento termina com um chamamento à ação “individual”. Dado que muitas instituições da República estão realmente fragilizadas, o apelo a uma solução golpista cai bem junto a milhões de brasileiros desinformados pela grande mídia.

Espero que o  major-brigadeiro Stefan Gracza,  comandante interino da Escola Superior de Guerra, limpe a honra da Escola e repudie publicamente o documento em nome da ESG e atribuído também a ADESG de Mato Grosso do Sul. E espero que a própria ADESG de Mato Grosso do Sul se pronuncie, para confirmar a autoria do documento ou repelir, também ela, a autoria  infame. As instituições democráticas são frágeis, sim, mas não por conta de seu funcionamento parlamentar regular. São frágeis por causa do golpismo ancorado na manipulação da mídia por brasileiros vendidos que não tem escrúpulos em incitar a discórdia entre mãos. Goebbels o ensinou!

*Economista, doutor pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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