Setor produtivo une forças pelas empresas e pelo emprego

Momento raro na política brasileira aconteceu na sexta-feira, 27, na Firjan. O tema Os impactos da Operação Lava-Jato na economia e perspectivas de manutenção do emprego reuniu, no Teatro Sesi, empresários,  trabalhadores, parlamentares, Ordem dos Advogados do Brasil, poder público e um atento plenário de cerca de 150 pessoas, em debate de absoluto consenso nos pontos considerados centrais.

O encontro foi avaliado como um divisor de águas no cenário político. Segmentos sociais tradicionalmente em campos opostos deram início a um diálogo, que mesmo com divergências, os uniu no enfrentamento de questões cruciais: barrar o desemprego em massa e as linhas de ação da Operação Lava-Jato que podem quebrar as maiores empresas de engenharia do país. O modelo privado de campanha, ações jurídicas, o embate parlamentar para garantir uma legislação que permita o Acordo de Leniência, o papel do Estado, a disputa pelo Pré-Sal, as ameaças à soberania nacional e o jogo político internacional como pano de fundo foram alguns dos pontos em pauta.

Participaram dos painéis, em duas mesas, o Dep. Vicente Cândido, presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente do Sistema FIRJAN, Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia, Fábio Guimarães, superintendente da Secretaria Estadual de Trabalho e Renda do Estado do Rio de Janeiro, Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro, João Antonio de Moraes, secretário de Relações Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Dep. Valtenir Pereira, autor do Requerimento que originou o evento na CFFC, Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), José Antônio Garcia Lima, diretor de Administração e Finanças da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ), Augusto Lopes de Almeida Ribeiro, Secretário Municipal do Trabalho e Emprego da Cidade do Rio de Janeiro,.Alex Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgico do Estado Rio de Janeiro (Sindmetal RIO).


O tempo da economia não é o mesmo da política

Em defesa das empresas nacionais e apoio total à punição dos corruptos, o anfitrião, presidente do Sistema Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, registrou que 144 grandes obras estão em curso no país, em um investimento de 400 bilhões de reais, ameaçadas de paralisação, em especial setores de transporte e logística. O impacto vem se refletindo diretamente em todos os estaleiros.

“O risco é do conjunto da sociedade. Tornar a sociedade ética não pode justificar torná-la mais pobre. É preciso punir todos os corruptos e salvar as empresas. Grandes obras nacionais serão executadas por empresas sem experiência ou estrangeiras, com sérios riscos para a nossa economia. Estaremos diante de um risco sistêmico. Impossível adiar decisões. O tempo econômico é muito mais curto que o tempo jurídico e o político, alertou o presidente da Firjan”, concluindo que na praia só estamos vendo os coqueiros e não o tsunami que nos ameaça.

Na prática, o quadro não é mais de ameaça. A política de conteúdo nacional foi diretamente atingida com a paralisação da indústria naval. A média é de 300 homologações por dia, informou Alex Ferreira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro (Sindmetal RIO). Milhares de trabalhadores qualificados já estão desempregados, sem a garantia de que vão receber os direitos trabalhistas e sem perspectiva de emprego.

A urgência em buscar alternativas levou o deputado Vicente Cândido, presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados a criar uma subcomissão para ouvir trabalhadores, empresários, gestores públicos e demais segmentos sociais e estudar possíveis ações. Sob sua coordenação, com o vice-presidente da Comissão,  Valtenir Pereira, foi organizado o encontro na Firjan com a perspectiva de, em regime de urgência,  fazer audiências em outros estados que vivem hoje o mesmo problema.

Em paralelo, outras iniciativas são concretizadas, como a do Clube de Engenharia, que aprovou em seu Conselho Diretor o envio de carta ao presidente da Petrobras, Aldemir Bendine,  para “manifestar o parecer de que a Petrobras deva, urgentemente, assumir o gerenciamento direto das atividades relacionadas com os contratos de serviços em vigor”.

O objetivo é “evitar consequências danosas oriundas da interrupção injustificável dos contratos, a principal delas o desemprego em larga escala que abrangeria não apenas os trabalhadores das atividades-fim, mas também todos aqueles que operam nos sub-contratos delas decorrentes”. Conclui o documento: “o emprego do acervo de competência da Petrobras é uma saída inteligente e tolerável, ainda que excepcional, para que os episódios danosos à Nação não se expandam em prejuízo de inocentes”. A carta, com proposta concreta, foi apresentada pelo presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, que também informou sobre a organização na entidade de reuniões no âmbito do movimento Aliança pelo Brasil com a perspectiva de dar os desdobramentos necessários ao debate na Firjan.

Crises não nascem no abstrato

Com a intervenção do presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Olímpio Alves dos Santos, a discussão se estendeu para a necessidade de um olhar mais profundo sobre a Operação Lava-Jato,. “Da forma como vem sendo conduzida essa operação não vai resolver o problema da corrupção no país. O que estamos vendo é um jogo político-econômico de consequências devastadoras”.

O presidente do Senge-RJ faz sua leitura a partir de uma nova ordem mundial, lembrando que em 2000 o PIB do G7 era de 21 trilhões e do BRICS de 9 trilhões. Em 2014, o PIB do G7 (Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) é de 34 trilhões e o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de 32 trilhões. “As crises não se dão no abstrato, afirmou Olimpio. Existem as questões internas e externas. No cenário nacional a Petrobras, e toda a sua cadeia produtiva necessária à exploração do petróleo, leva o país a ter controle de tecnologias sensíveis. É um setor forte da nossa economia que se internacionalizou e disputa mercado com os países centrais. E é isso que estão tentando destruir. Estamos totalmente de acordo com o combate à corrupção, mas a paralisia e a inoperância da Petrobras, e outras empresas, traz um risco avassalador, com o.desemprego de trabalhadores altamente qualificados. Jogar o país em uma grande recessão é uma total irresponsabilidade.”

Os sindicalistas presentes deixaram claro que apoiam as propostas que visam desobstruir os canais de financiamento para as empresas, mas que isso aconteça com as empresas honrando os compromissos trabalhistas e garantindo os postos de trabalho. “ É extremamente oportuna a iniciativa do Congresso Nacional de promover a união dos setores produtivos e do Estado. Não há um setor mais interessado em extirpar a corrupção do que os trabalhadores. É o nosso suor, e às vezes, o nosso sangue que vai pelo ralo. Temos que fazer o exercício do diálogo visando a capacidade de união da nação em torno de um projeto. Aliás, se não fosse essa capacidade não existiria a Petrobras”, afirmou João Antonio de Moraes, secretário de Relações Internacionais da FUP.

A CUT, representada por José Antônio Garcia Lima, como todos os presentes favorável ao Acordo de Leniência, fez a crítica das ações da Operação Lava-Jato elencando diversos exemplos que, no seu entendimento, deixam evidente que é uma operação impregnada de decisões políticas. Entre os pontos que exigem reação imediata. José Antonio citou “os setores tradicionais da mídia e do judiciário que, juntos, tentam condenar e criminalizar a política”.

Ao final do evento, Felipe Santa Cruz, presidente da OAB-RJ foi taxativo ao afirmar que assinaria embaixo de 95% de tudo que ouviu, mas discordou dos que avaliam que vivemos uma crise e defendeu que o Brasil vive hoje  o desenvolvimento da democracia, com crises da adolescência deste processo.  “Em Itaboraí 39 mil trabalhadores perderam o emprego. O símbolo do futuro está se transformando em uma cidade fantasma. O Congresso Nacional tem nas  mãos a forma de conduzir e preservar o processo de amadurecimento político, colhendo sugestões para fazer o aprimoramento da legislação”, afirmou o presidente da OAB.

 

 

 

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