Informe do Clube de Engenharia - 09 de setembro de 2015

Condições para crescer. 

Por Francis Bogossian

O encontro realizado no Clube de Engenharia, dia 17 de agosto, reunindo cerca de 40 grandes entidades e líderes da engenharia brasileira passou à sociedade brasileira mensagem clara, objetiva, direta e importantíssima: sem engenharia, não há desenvolvimento; sem desenvolvimento, não há emprego; e sem emprego, não há soberania. Não se trata de uma atitude classista pretensiosa, mas de um alerta de profissionais que ajudam a construir o Brasil.

As motivações para esse alerta são óbvias. Entre junho de 2014 e o mesmo mês de 2015, o Brasil perdeu 730 mil postos de trabalho. Destes, 348 mil, cerca de 48%, desapareceram na área da construção civil. Somente na construção pesada, responsável pela materialização da infraestrutura de que o país precisa para crescer, foram 175 mil postos, 24% do total de perdas do país.

À medida que grandes obras são interrompidas, o efeito das demissões se torna cumulativo e se move em ondas que levam à eliminação de empregos em diversas áreas. É hora de promover instrumentos de persuasão e de pressão junto ao poder público, a fim de evitar que as empresas geradoras do progresso venham a ser dizimadas por conta de uma política que coloca em risco a competência técnica e gerencial acumuladas há décadas pelo complexo construtor brasileiro e hoje presentes em mais de 40 países.

Conscientes de que esse papel de coesão constitui a marca do clube em toda a sua existência, tornamos públicas as nossas bandeiras: o restabelecimento das obras de construção pesada, das atividades da indústria de óleo e gás, dos complexos de refino e da construção naval, entre outras.

Protestamos contra a redução dos investimentos da Petrobras e contra as tentativas de mudança gradual do seu marco regulatório. Mas apoiamos as iniciativas voltadas para a moralização das relações contratuais e a punição dos que violaram os princípios éticos, ou seja, os corruptos e os corruptores, tarefa do Poder Judiciário.

Não concordamos que "os filhos paguem pelo erro dos pais", figura de retórica com a qual identificamos as centenas de milhares de empregados postos na rua pela falência imposta pelos fatos - crise econômica e na Petrobras - ao nosso complexo produtivo público e privado. Juntos, alertamos: há que se resguardar as empresas.

A união pelo Brasil, pela garantia de avanços sociais e econômicos indiscutíveis conquistados ao longo da última década, é hoje, para a engenharia nacional, uma prioridade. Da mesma forma, para que tal posicionamento alcance a projeção necessária, é de igual importância a criação de uma rede de comunicação orgânica, que busque entidades parceiras e diálogo com públicos internos e externos.

Só assim poderemos reconquistar o espaço que historicamente tivemos nas esferas de poder e mesas de negociação. Só assim será possível comunicar as mensagens de uma instituição que, embora situada no Rio de Janeiro, é, em essência, uma entidade nacional: o Clube de Engenharia do Brasil.

Artigo publicado no jornal O Globo, em 07 de setembro. Francis Bogossian é presidente do Clube de Engenharia do Brasil. 

  

Um mau negócio

Para o Instituto Francês do Petróleo, a integração e o porte são fundamentais para o sucesso de uma petrolífera.

Por Ricardo Maranhão

A Petrobras pretende vender US$ 58 bilhões em ativos. A justificativa é a necessidade de reduzir o endividamento. A política equivocada de combate à inflação causou prejuízo de R$ 60 bilhões, com preços de combustíveis defasados. Sacrifício inútil. A inflação voltou.

Agravando as dificuldades, os preços do petróleo caíram de US$ 120 para US$ 52/barril. Além de reduzir investimentos em US$ 90 bilhões, a empresa pretende vender ativos. Os ativos são patrimônio público e pertencem a centenas de milhares de acionistas.

A Petrobras é empresa estatal. Deve obediência aos preceitos constitucionais da publicidade e legalidade. O momento é inoportuno para venda. Crise mundial. Inflação. Preços do petróleo deprimidos. É incerto o que se pretende vender. São notícias, na imprensa, imprecisas. Especula-se: vendas no pré-sal? Navios da Transpetro? Participações no gás natural?

Não duvido das boas intenções dos dirigentes. Receio decisões equivocadas, fruto do pouco conhecimento do setor petróleo. A Petrobras não é banco. Tão pouco mineradora. A venda, sem cautelas, pode desintegrá-la.

Para o Instituto Francês do Petróleo, a integração e o porte são fundamentais para o sucesso de uma petrolífera.

Imagino empresa com US$ 300 milhões de capital. Iria à falência ao perfurar seis poços, secos, ao custo de US$ 50 milhões cada. A integração se justifica pelos investimentos e riscos, nos diferentes segmentos (exploração, perfuração, produção, transporte, refino, comercialização).

O futuro da Petrobras não pode depender de uma “visão de mercado”. Os interesses dos acionistas, embora importantes, não são objetivos únicos. A companhia tem compromissos inarredáveis com o desenvolvimento do país, apoio à indústria, independência tecnológica, segurança energética, emprego, meio ambiente.

A venda de navios da Transpetro é admitida por quem não conhece a atividade. O país tem déficit enorme na rubrica fretes. Vamos seguir o exemplo americano. Lá, os navios, são, por lei, projetados, construídos e operados por americanos. Subordinam-se ao Jones Act (1920). Os Estados Unidos consideram a frota mercante extensão da Marinha de Guerra.

Os ativos da Petrobras, bilhões de dólares, podem ser vendidos sem exame do Congresso? A venda é a única solução para o endividamento? Por que não indenizar a Petrobras pelos prejuízos causados? Por que cortar o braço petroquímico? Por que não examinar, com coragem, o fornecimento de nafta à Odebrecht, cancelando-o, se comprovadas fraudes, com prejuízos de US$ 6 bilhões?

Vamos nos desfazer de participações no etanol quando o consumo de gasolina cai e a demanda de álcool cresce com vigor? Vamos abdicar do gás e das térmicas, essenciais ao suprimento do país nas crises hídricas? Por que não cobrar do setor elétrico dívidas com a BR Distribuidora, superiores a R$ 14 bilhões? Por que não adotar política de preços que não cause prejuízos à Petrobras? Desejando o governo subsidiar combustíveis, use seus recursos. Não sacrifique sua maior empresa, com graves consequências para o país.

Artigo publicado no jornal O Globo, em 08 de setembro. Ricardo Maranhão é conselheiro do Clube de Engenharia


 

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