Linhas básicas do moderno pensamento nacionalista do comandante do Exército brasileiro

 

A pacificação nacional depende de programa de desenvolvimento nacionalista para o Brasil resolver suas atuais dificuldades econômicas e políticas, em graus de intensidade crescente, defendeu o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército Brasileiro.

Ao fazer exposição do tema central, ”O papel do Exército Brasileiro na vida nacional”, pregou necessidade de discussão, em profundidade, sobre a realidade, em vez de tangenciar o problema, centrando debate, apenas, em questão macroeconômica, limitada aos interesses do mercado, em torno da taxa de juros, da taxa de câmbio etc.

Isso, para ele, não resolve; fica, apenas, na superficialidade.

Faz-se necessário, destacou o comandante, ir ao essencial, ao profundo, aos alicerces da construção nacional, que não estão sendo considerados.

Villas Bôas exaltou o nacionalismo e a legalidade democrática:“Nós temos a mania de elogiar o nacionalismo dos outros, mas não fazemos isso em relação à necessidade de construir o nosso nacionalismo, para valorizar o que é nosso, o nosso potencial imenso, cuja exploração, em favor dos brasileiros, requer disposição para ir fundo, em vez de ficarmos na periferia dos problemas”.

Indiretamente, dirigiu-se aos economistas neoliberais, adeptos do pensamento único, que só pensam no curtíssimo prazo para resolução da crise econômica, em que os  interesses dos especuladores financeiros predominam sobre as questões mais centrais do debate nacional, deixando-as de lado.

Falta, para o general, espírito de coesão nacionalista, de modo a elevar como prioridade absoluta o interesse do país acima das firulas.

O Brasil, na avaliação dele, vive crise política, econômica e ética sob a ditadura do relativismo, um relativismo para menos, para baixo.

Nesse aspecto, as questões tanto econômicas, como jurídicas, se sujeitam a esse relativismo, adequado aos interesses antinacionais em jogo.

O país, disse, está feio, do ponto de vista ético, da visão da eficiência, da estética; isso, porque não se vai ao essencial, permanecendo no acessório, na superfície.

Insistiu na legalidade.

Para ele, as instituições estão amadurecendo, vencendo período em que elas era indefinidas, no aspecto dos pesos e contrapesos, necessários ao equilíbrio das tensões em suas horas intensas, de modo que dispensa tutela das Forças Armadas:

Estabilidade das instituições é fundamental

A preocupação central, ressaltou, é com a estabilidade das instituições, que estão funcionando.

Funcionam bem ou não, conforme a ditadura do relativismo que mencionou?

Diplomaticamente, Villas Bôas não entrou em maiores considerações, ao abordar o momento atual da vida nacional, sob o impacto do processo de impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff.

Por isso, seus alertas comportam diferentes apreciações, sabendo que há leituras a favor e contra, existentes para avaliar o impeachment, se tem ou não crime de responsabilidade para tipifica-lo, constitucionalmente.

Destacou que conversou com alto comandante do Exército argentino, nesses dias, quando ouviu comentário alvissareiro segundo o qual as instituições brasileiras, ao juízo do colega portenho, mostram-se em ações de equilíbrio admiráveis, configurando estabilidade relativa ressaltada pelo comandante do Exército nacional.

A realidade, porém, destacou, está em permanente mudança, o que requer atenção e vigilância, sempre.

País está à deriva em matéria de projeto nacional


Villas Boas analisou o Brasil dos anos 30, Era Vargas, até o momento atual, Era Lula-Dilma.

De 1930 a 1980, disse, o Brasil registrou avanços substantivos, na construção da nacionalidades, porque se ancorou em projeto nacional de desenvolvimento. 

Foi o período em que mais cresceu com solidez. 

Ocorreu, porém, nos anos 1970-1980, linha de fratura, proveniente das consequências decorrentes da guerra fria, cujos efeitos negativos se estendem até hoje. 

Permitiu-se quebra da ideologia nacional do desenvolvimento, perdeu-se o sentido de projeto, o País ficou à deriva, algo maléfico que precisa ser corrigido.

Na construção dessa ideologia nacional desenvolvimentista, cujo pontapé foi dado por Getúlio Vargas, o comandante Villas Bôas considera fundamental a política de defesa.

Lembrou que os governos Lula e Dilma foram importantes para as Forças Armadas(Exército, Marinha, Aeronáutica), ao priorizarem modernização das suas linhas fundamentais de renovação, especialmente, nas questões tecnológicas, configurando eficiência no avanço de projetos de defesa, essenciais ao desenvolvimento nacional.

“Gastamos, ainda, muito pouco em defesa; a França reserva 17% do PIB para esse fim; os Estados Unidos, muito, mas muito mais; a Rússia, idem; a China, também.” 

Os EUA, disse, não têm limite para investir em sua defesa e nem rival para contê-los, sendo seu problema maior, hoje, o de como processar tanto desenvolvimento tecnológico exponencial.

“Em determinas áreas, como aviação, gastamos menos em defesa do que a Venezuela, Colômbia e Chile; estamos carentes de recursos; temos uma demanda de 1,8 milhão de jovens interessados em ingressarem nas Forças Armadas, mas selecionamos, apenas, 80 mil.”

O general mostrou-se, claramente, temeroso de que se volte a um período[Era neoliberal de FHC] em que se tornou necessário reduzir até tempo de trabalho nas Forças Armadas; faltou dinheiro para gastos em alimentação da tropa: ”Tempos tristes”.

Tratados internacionais de defesa irrealistas quanto à realidade brasileira


O comandante do Exército reconheceu que, antes de Lula, descuidaram-se dos aspectos de defesa, no que tange à assinatura de tratados internacionais, sem cuidar do que considera absolutamente essencial, uma visão de Estado nacional de longo prazo.

As limitações impostas por tais tratados, frisou, não atenderam a essa visão, especialmente, nos tratados relativos à não proliferação nuclear e construção de mísseis, necessários à proteção do território continental.

Faz-se necessária outra política, reivindicou.

Ressaltou que, em prejuízo do interesse nacional, predominou, nesses tratados[ negociados na Era FHC, dominada pelo Consenso de Washington, pela orientação econômica neoliberal, ancorada no tripé econômico: metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávits primários draconianos, para priorizar pagamentos de dívidas aos credores], visão acanhada, irrealista do território brasileiro e sua complexidade relacionada à necessidade de sua defesa conforme interesses nacionais.

Consideraram, ironizou, o Brasil do tamanho da Suíça, para efeito de construção de mísseis: limitou o alcance deles em 300 km, quando se tem um País continental, território de riquezas incomensuráveis, que exige outra visão, outra perspectiva, outra ação.A Amazônia, para ele, requer tratamento quantitativa e qualitativamente diferenciado no que diz respeito à política de defesa, à geopolítica.

“A região amazônica, de riqueza incomensurável, que detém ativos reais estimados – por alto – em R$ 23 trilhões, dos quais R$ 8 trilhões em biodiversidade e o restante, R$ 15 trilhões, em riquezas debaixo da terra, reclama nova orientação geoestratégica.”

“Precisamos de uma política de defesa eficaz para nos proteger”.

Nova visão ideológica da sociedade impõe nova visão de defesa Estado


Tudo mudou, também, quantitativa e qualitativamente, de 1964 a 2016, no País, relativamente às questões políticas e ideológicas: 

“Temos duas diferenças básicas. Primeiro, em 1964, havia a guerra fria, o País não tinha instituições definidas, a legalidade se rompeu, no desequilíbrio entre pesos e contrapesos institucionais; emergiu violenta diversidade ideológica.”

“Hoje, temos um Ministério da Defesa, cujo titular é um político do PC do B, ministro Aldo Arantes; antes, éramos adversários ideológicos; hoje, comungamos sintonia fina, harmoniosa, identificando objetivos comuns, tendo por meta a Pátria.”

“Essa semana, por exemplo, semana preocupante[em meio ao processo de impeachment], as coisas estão ocorrendo, naturalmente.

Diplomaticamente, o general Villas Boas não fez afirmações peremptórias, no plano político, deixando entender que não se pode descartar variáveis que podem fugir do controle. 

O terrorismo político, por exemplo.

Lembrou, a propósito dos preparativos para a Olimpíada, quando perigos estarão no ar.

Trata-se de variável dificilmente administrada, ao ressaltar a figura do “Lobo solitário”, o suicida, cujas ações são incontroláveis.

Mas, no geral, em matéria de defesa, não há, na sua opinião, improvisação; por isso faz-se necessária visão de Estado, pois o Exército é um instrumento do Estado.

“Não se trata de assunto restrito ao Exército, às Forças Armadas, acrescentou, mas da sociedade como um todo, assunto nacional.”

A indústria bélica, argumenta, é parte do contexto essencial do desenvolvimento nacional; as pesquisas mais avançadas se desenvolvem, primeiramente, no campo da defesa, para depois democratizarem-se para toda a sociedade.

Nesse sentido, o pacto pela defesa nacional é próprio do pensamento desenvolvimentista, sintonizado com a soberania do País.

Tempo de nova Guerra Fria exige ação política para produzir disciplina desenvolvimentista


Na busca desse objetivo, frisou, o essencial é o projeto nacional, é o sentimento de ação coesa, capaz de produzir disciplina desenvolvimentista da qual se beneficia a sociedade como produto final dessa opção.

Não é fácil seguir essa meta, reconhece, porque quando se está a caminho dela, surgem interesses contrários, especialmente, nos tempos atuais, de ressurreição de nova guerra fria, no âmbito da geopolítica global.

Interesses contrariados, por sua vez, são encobertos, quase sempre, de argumentações dissipadoras, especialmente, de cunho ambiental.

Ele citou, como exemplo, a decisão do governo da Nicarágua de construir, com capital chinês, nova versão do Canal do Panamá, na América Central.

Logo, logo, disse, entronizaram-se argumentos dissipadores dando conta de que o meio ambiente seria afetado, vegetações raras seriam exterminadas, produzindo prejuízos para humanidade etc.

A quem interessa interrupção de obra de tamanho vulto senão aqueles que se sentem prejudicados, materialmente, entrando, aí, o argumento da preservação ambiental, apenas, para promover diversionismos?

O general se disse preocupado, em tempos de guerra fria, com  manipulação das informações.

Destacou que se alarmou com notícia dando conta de que uma dezena de ônibus de bolivianos estariam desembarcando em Brasília para participar de manifestações políticas, na semana de votação do impeachment, na Câmara; mandou investigar; não era nada disso; apenas três ônibus de participantes em encontro em Goiânia, para um congresso imobiliário.

Exemplificou com esse fato perigo de alarmismos falsos, como o de que se levou a sério, em intrigas nas redes sociais, de que haveria invasões de integrantes do MST, patrocinando quebra-quebras, depois que um deles, em tom irado, em solenidade no Planalto, de solidariedade à presidenta Dilma, prometeu retaliações às propriedades do agronegócio.

Outra notícia que deu calafrio na espinha dorsal do general se referiu a comentários, evidentemente, falsos, nas redes sociais, segundo os quais o presidente da Rússia, Vladimir Putin estaria interferindo em assuntos internos do Brasil, se colocando à disposição da presidenta Dilma, em caso de necessidade diante de dificuldades políticas e econômicas.

Tudo fofoca.

Da mesma forma, destacou, surgiram especulações de que a titular do Planalto havia conversado, reservadamente, com militares, para discutir decretação de eventual Estado de Sítio, no País, devido, também, à conjuntura política atual.

Nada de concreto, tudo invencionice, que não levou em consideração as complicações que tal iniciativa produziria, pois haveria que ser consultado o Congresso; no fundo, tentativa de criar confusão.

História gloriosa do Exército brasileiro

Pelo sim, pelo não, o general está ligadíssimo na conjuntura histórica presente e passada.

Iniciou sua palestra, aos alunos do Centro Universitário de Brasília (CEUB), sobre história do Exército, a partir da Batalha dos Guararapes, 1648/49, em Pernambuco, quando as tropas portuguesas expulsaram os holandeses.

A partir dali, pintou sentimento de nacionalidade que se sedimentaria na tropa pelos anos afora.

Surgiu, desde, então, consciência da necessidade de o Exército ser força permanente, expressão introduzida no Art. 142 da Constituição, não pelos constituintes, mas pela consciência que emergiu desde a Batalha de Guararapes.

Antes, em 1615, as tropas portuguesas já haviam posto para correr franceses em São Luís, Maranhão, homenagem ao rei francês.

Em 1716, eles criaram o forte do Presépio, em Belém; dali, Raposo Tavares e Pedro Teixeira, em nome de Portugal, traçaram a geopolítica da Amazônia.

Ao longo de cruzamentos entre rios amazônicos, fincaram-se fortes, tomaram-se posse das terras.

Rompeu-se o Tratado de Tordesilhas.

Essencialmente, debaixo do espírito da hierarquia e da disciplina, como fatores fundamentais para evitar violência do Estado contra cidadãos, o Exército cuidou, historicamente, de debelar crises em que estiveram em causa a autoridade.

Duque de Caxias, nas missões que desempenhou, disse Villas Bôas, cuidou, em seguida às vitórias, de promover pacificação.

Os derrotados eram chamados a se reintegrarem às forças vitoriosas, não como derrotados, mas como novos aliados.

Na segunda guerra mundial, disse, os soldados brasileiros, na Itália, ganharam notoriedade por serem generosos por onde passaram, produzindo, como consequência, muitos casamentos.

Ação oposta às das tropas estrangeiras, responsáveis por produzir, por onde passavam, arrasa quarteirões.

Emblemático, destaca, é o caso do Haiti, onde as tropas brasileiras estão há doze anos.

O espírito de camaradagem dos militares com a população é admirável.

Ao final do expediente, o soldado troca a farda e vai jogar futebol com a comunidade.

Isso, diz, espanta, por exemplo, os soldados americanos, que consideram impossível comportar-se dessa maneira em território estrangeiro.

Forças de Paz, necessária ação pacificadora de aproximação com a população

Villas Bôas enfatiza, especialmente, com emoção, o trabalhos das Forças de Paz, seja no exterior, seja no Brasil.

No caso do Rio de Janeiro, pacificação no Morro do Alemão.

Enquanto o Exército esteve presente, houve paz; bastou sair, para a guerra renascer, com a população reivindicando a volta dos soldados.

Nos mais de 500 municípios, no Nordeste, promove ação social intensa, como oferta de água e víveres para os mais necessitados, assistência à saúde etc.

A engenharia do Exército, ressalta, tem muito a realizar pelo Brasil.

Nesse caso, destaca, a qualidade dos serviços é de excelência.

Exemplo atual:  obras de transposição do Rio São Francisco.

Campanhas sanitárias, outro exemplo relevante, na avaliação do general: combate à dengue, ao zicavirus, ao chicungunha.

“Lamentavelmente, o País se retroage em 100 anos, relativamente, ao que aconteceu, em 1916, com disseminação da febre amarela.”

Lamentação sem fim: falta de dinheiro

O que chateia o general, como não poderia deixar de ser, é a falta de dinheiro, os orçamentos militares minguados, que levantam preocupação nas Forças Armadas sobre perigo de defasagem nos avanços alcançados, principalmente, tecnológicos.

Teme-se perigo de retrocessos por conta de cortes de investimentos, sem que se entenda, claramente, na avaliação delas, que o Exército, Marinha e Aeronáutica são partes da política de desenvolvimento nacional.

Gastos com as Forças Armadas não é despesa, é investimento, é receita, dá retorno desenvolvimentista, nacionalista.

Na tarefa de expansão da educação, da modernização tecnológica das Forças Armadas, promove-se a industrialização nacional, cria-se empregos de qualidade, contratação de serviços, emprego, renda, consumo, arrecadação e novos investimentos, essenciais ao progresso do Brasil.

Lamenta, sobretudo, o comandante do Exército que não esteja arrebanhando a totalidade dos jovens que se alistam para servir às Forças Armadas.

Dos 1.800.00 que apresentaram, foram requisitados, apenas, 80 mil.

Poderiam estar sendo educados para o espírito nacionalista.

Cerca de 85% dos jovens, nos grandes centros urbanos, estão expostos ao narcotráfico, submetidos às drogas, à expansão da violência; se estivessem sendo educados no Exército, com espírito de disciplina, sairiam de lá homens prontos para a nacionalidade.

No Exército, sob o regime de hierarquia, patriotismo, aprenderiam a essência do verso do roqueiro Renato Russo: “Disciplina é liberdade”.

O modelo econômico neoliberal não se preocupa com nada disso.

Fica na superficialidade no trato dos problemas reais, sociais, limitando a discutir taxa de juros, taxa de câmbio etc, sem mergulhar fundo nas raízes dos problemas nacionais.

Isso, na avaliação do comandante do Exército, não ajuda construir o essencial: o projeto nacional.

Eis o questionamento fundamental deixado aos jovens do CEUB, no Dia do Exército, pelo seu comandante em chefe, um autêntico, bem humorado e cordial nacionalista.

19/04/2016

Receba nossos informes!

Cadastre seu e-mail para receber nossos informes eletrônicos.

O Clube de Engenharia não envia mensagens não solicitadas.
Pular para o conteúdo