Segunda-feira, 6 de junho, o Clube de Engenharia recebeu o biólogo Daniel Chamovitz, decano da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, apresentando a palestra “Como alimentar o mundo em 2050”. O evento foi promovido em parceria com a  Associação dos Amigos da Universidade de Tel-Aviv e a Câmara de Comércio Brasil-Israel.

A partir do conceito de segurança alimentar, Daniel focou sua palestra na situação da alimentação no mundo. Segundo definição da Organização das Nações Unidas (ONU), segurança alimentar significa ter, em quantidade suficiente, a comida que as pessoas precisam e querem ter. Hoje, somos sete bilhões de pessoas no mundo, e cerca da metade em insegurança alimentar: 11% da população faminta, 33% em subnutrição e 11% em situação de obesidade. Esses são números oficiais que, para Chamovitz, são otimistas. O mundo ainda tem 800 milhões de pessoas com fome, principalmente em parte da Ásia e da África Subsaariana.

O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, saudou o convidado e a oportunidade de receber o especialista israelense. “O mundo, nas últimas oito décadas, teve três revoluções na agricultura e na pecuária, com capital intensivo, que levaram o homem a um nível de produtividade inimaginável. E Israel teve uma contribuição extraordinária, um exemplo para a humanidade, com uma população mundial que cresce e ainda tem muita fome. O primeiro compromisso dos seres humanos é garantir a seus semelhantes uma vida digna, que começa por alimentar-se bem", afirmou.

Desafios de uma superpopulação

Em 2050, o mundo deve ter entre 9 e 11 bilhões de pessoas. Os países onde a população mais cresce são os em desenvolvimento, que também são os mais famintos. Ao mesmo tempo, a quantidade de terra arável diminui 100 mil km² por ano. Nesse ritmo, em 2050 menos de 20% da Terra será arável. E segundo critérios da segurança alimentar, para alimentar todos seria necessário aumentar os campos em 36% até 2050.

O professor israelense provou que a agricultura da qual vivemos atualmente não é sustentável. O Brasil, por exemplo, é um grande produtor de soja, o que é bom economicamente, mas não é sustentável. É preciso, e necessário, encontrar modos de fazer agricultura sustentável e ecológica. Estudos mostram que os preços de alimentos crescem muito rapidamente, e segundo Chamovitz a falta de segurança alimentar pode levar à insegurança social e política de um país.

A produção de comida no mundo não é equalizada e pouquíssimos países poderiam se alimentar sozinhos, mais especificamente alguns europeus, Austrália e Estados Unidos. Israel, por exemplo, produz 80% de suas necessidades de alimentos, mas esse número representa quantidade e não variedade: precisam importar cereais, legumes, açúcar e carne. A China, nas últimas décadas, adotou muito do mundo ocidental, inclusive a dieta. O hábito de tomar leite, por exemplo, é relativamente novo e sua produção no país segue um ritmo crescente. Pelo mesmo motivo, importam soja brasileira, para alimentar os bovinos.

Israel é um país que, em cem anos, conseguiu sair da miséria pelo investimento em tecnologia. Tem experiência extensiva em implantar agricultura em zonas áridas e semiáridas, produzir gêneros tolerantes à salinidade e tornar as vacas mais tolerantes ao calor. Os cursos universitários, hoje reconhecidos mundialmente, também fizeram experiências com agricultura na África e na Ásia. Na visão de Daniel Chamovitz, Brasil e Israel podem trabalhar juntos para promover a segurança alimentar, tendo, por exemplo, uma agenda conjunta para ajudar a alimentar países africanos. O Brasil poderia fazer mediação internacional a favor de políticas para agricultura e seria divulgada uma imagem positiva de Israel. Para ele, todos os esforços possíveis devem ser feitos: “Nenhuma mãe deve ir dormir preocupada porque seu filho não tem comida”.

Tecnologia e intervenção humana

O professor falou a favor do uso da tecnologia e dos transgênicos. Segundo afirmou, transgênicos são alimentos que foram mudados geneticamente, em laboratório, para se tornarem mais resistentes. A adição de um único gene de uma determinada bactéria, por exemplo, pode tornar um vegetal resistente às pragas locais. Chamovitz defendeu que a mudança genética nada mais é do que intervenção tecnológica, e que se fôssemos comer determinados alimentos “originais”, de centenas de anos atrás, morreríamos envenenados.

Um exemplo apresentado foi de um tipo de trigo, o “wild wheat”, uma planta difícil de ser exterminada e que pode ser adicionada, geneticamente, a diversas culturas, fazendo-as crescer e ter 12% a mais de proteína.

Se a produção, distribuição e consumo de alimentos continuar no ritmo em que está, em 2050 será mais difícil alimentar a população mundial do que atualmente. Mas o professor indicou dois caminhos. Um deles é acabar com o desperdício de comida. Esse fato nem sempre está relacionado a um desperdício deliberado, mas por diversos fatores, inclusive falta de refrigeração no transporte ou armazenamento de comida. Pelo menos um terço do que se produz de alimento não chega a ser consumido.

A outra solução é diminuir a quantidade de carne que se come. A produção de animais requer o uso de milhões de km² de terras cultiváveis para a produção de alimentos para esses animais - e não para as pessoas. Não há registros de que, em décadas passadas, as pessoas estivessem menos saudáveis por não comer tanta carne quanto se come atualmente. Além disso, a qualidade proteica dos alimentos sem origem animal é um problema menor: hoje é possível engenhar grãos para terem proteínas suficientes.

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