Especialista afirma que concreto brasileiro é um dos mais resistentes do mundo

Os mitos a respeito da má qualidade do concreto brasileiro foram quebrados na  apresentação de Paulo Helene, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), em 12 de julho, no Clube de Engenharia. Na palestra "Avaliação da resistência do concreto em estruturas existentes", o engenheiro civil utilizou as informações sobre os procedimentos de uso do concreto brasileiro para provar que nosso concreto é resistente e não oferece riscos à segurança das obras quando corretamente utilizado. O preconceito, “de fora do Brasil”, acaba por envolver empresas de serviço de concreto, fornecedores, projetistas e construtoras, entre outros segmentos da engenharia nacional. Muitos foram os argumentos utilizados, com destaque para as três principais normas brasileiras que regem o uso e aplicação do concreto nas obras: NBR 6118/2014, NBR 12655/2015 e NBR 7680/2015.

Helene esclareceu processos e procedimentos: o concreto sofre a ação do tempo - que é diferente em cada obra - e por isso o resultado final não é como o inicial, com mudanças na densidade e possivelmente na resistência. É diferente, por exemplo, da compra de uma barra de aço, que pode ser testada assim que comprada. O cimento, depois de aplicado, passa por 28 dias de secagem. Mas tudo isso é calculado antecipadamente. E não é possível aumentar a resistência do concreto, uma vez moldado e colocado para teste, muito menos no pilar, na laje, onde for aplicado. É por isso que, pelas normas brasileiras, sempre se calcula para mais alto o fator de resistência.

O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, confirmou a qualidade da engenharia e dos produtos da engenharia brasileira, lembrando que o concreto, no país, é jovem. “O concreto armado no Brasil não tem nem cem anos. Os países desenvolvidos já tinham grande experiência em estrutura metálica. Nós brasileiros fomos os maiores beneficiários do desenvolvimento do concreto porque temos muito o que construir, e por isso temos tão bons profissionais especializados em concreto. Esse patrimônio tem um componente público agressivo e é hoje ameaçado de ser destruído pela carência de verbas, pelo desmonte de equipes”.

Cautela brasileira

Para provar a cautela brasileira Paulo Helene comparou as normas estrangeiras com as do Brasil. Nos Estados Unidos e em outros cerca de 50 países valem as regras da American Concrete Institute (ACI). Na América em geral, somente o Brasil difere com normas próprias. A ACI 318-14 recomenda a medição de um exemplar de concreto a cada 14 caminhões; e um exemplar a cada 115m³ de concreto. Segundo ele, é como fazer uma pequena amostragem para medir a resistência de um andar inteiro. No Brasil, os números são menores, representando um cuidado maior. Além disso, "nós temos tecnologia equivalente a qualquer lugar do mundo”, garantiu. 

Já a Europa, incluindo cerca de 20 países, faz uso da norma Eurocode. A EN 206-1:2013 tem valores diferentes para medição de concreto com e sem certificação. Alguns dos detalhes da norma incluem a medição de duas amostras para cada 200m³ de concreto ou, em caso de concretagem contínua, um exemplar para cada 400m³. As normas brasileiras são mais seguras, garante.

Segundo Paulo Helene, a resistência de uma obra só pode ficar melhor com reforço estrutural: “Efetivamente, uma obra reforçada, se bem projetada, tem mais folga de segurança do que uma obra nova”. E resgatou em sua trajetória profissional tempos nos quais havia quantidade menor de tipos de cimento, e um cimento mais denso: “Hoje é necessário ter um nível maior de informações, fazer projeto de vida útil, entre outros procedimentos. E trabalhar com a questão da sustentabilidade, que não permite mais um cimento grosso, com folga de energia, em nome da sustentabilidade e do meio ambiente".

O encontro, com auditório lotado, foi promovido pela Diretoria de Atividades Ténicas (DAT), a Divisão de Construção (DCO), a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece) e o Instituto Brasileiro de Concreto (Ibracon).

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