O momento é extremamente delicado em termos de sobrevivência do Estado-Nação, afirma Pedro Celestino

A Assembleia de posse do Terço do Conselho Diretor, realizada nesta segunda-feira, 12 de setembro, teve o consenso como principal marca: é imensa a responsabilidade de todos em defesa da Engenharia Nacional. Publicamos, a seguir, o pronunciamento do presidente Pedro Celestino na ocasião:

“Vivemos um momento extremamente delicado em termos de sobrevivência do Estado-Nação. É muito mais sério do que uma simples crise política. É o rumo do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, que está em jogo. A crise financeira de 2008 não foi superada e provoca uma tensão crescente nos principais blocos de governo, entre eles, Estados Unidos, Europa, China e Rússia, colocando o mundo diante do perigo da guerra. Não é uma hipótese remota. É uma hipótese plausível. E nesse quadro, o Brasil é um protagonista importante, pelo peso da sua economia, pelo peso da sua população, pelas riquezas naturais de que dispõe. Por isso é alvo de uma operação que se destina a destruir o que foi produzido por sucessivas gerações de brasileiros, particularmente após a segunda guerra mundial, nos colocando na ponta em diferentes setores industriais. O que se quer hoje é nos devolver à condição de produtores de grãos, exportadores de óleo bruto e de minérios. É o Brasil que não cabe para os brasileiros. Nós somos obrigados a nos desenvolver, sob pena de sucumbir como Estado-Nação. Assim foi em sucessivos regimes desde a década de 30.

A possibilidade que se coloca de derrogar a legislação trabalhista, que data da década de 40, é um retrocesso inimaginável. O Ministro do Trabalho semana passada afirmou que a jornada de trabalho de 12 horas era uma possibilidade. Foi obrigado a recuar diante da pressão da opinião pública.

Essa Casa é a Casa da Engenharia, e a nossa engenharia está sendo destruída. A Medida Provisória 727, que semana passada o Senado Federal aprovou, como medida deste governo, proposta por este governo, que será com certeza transformada em lei nos próximos 15 dias, destrói o que resta da nossa engenharia. Seremos pasto de empresas estrangeiras. Não temos a visão xenófoba de não concordar com empresas estrangeiras aqui trabalhando. Não se trata disso, e sim de evitar que as empresas brasileiras sejam impedidas de trabalhar. A Petrobras tem hoje 85 empresas na “lista negra”. Sob a capa do combate à corrupção se impede empresas brasileiras de licitarem. Com isso vão empresas e empregos para o ralo. E isso se faz sem maior reação.

Os setores estratégicos da nossa economia estão ameaçados. O setor nuclear está totalmente paralisado. O setor petróleo é objeto de desmonte. Entregamos há pouco mais de um mês a maior reserva de petróleo que temos para a Statoil, estatal norueguesa. Carcará é uma reserva tão grande que não foi cubada ainda, porque não se chegou ao piso da camada de óleo. E entregou-se essa reserva com o petróleo a 1 dólar o barril, quando a mesma Statoil vendeu há cinco anos parte da participação que tinha no campo de Peregrino a 5 dólares o barril. E um petróleo muito pior, porque era um petróleo pesado e o petróleo de Carcará é o petróleo mais leve que nós já descobrimos.

Ao mesmo tempo, a Petrobras se desfaz da sua cadeia logística. Entregou semana passada os gasodutos do Sudeste para uma empresa canadense. E vai entregar os do Nordeste nos próximos meses. Vai entregar a distribuição! E vai se transformar em mera produtora de óleo bruto, como são as produtoras dos países que deixam seus povos na miséria. A Petrobras é a âncora do desenvolvimento industrial brasileiro e tem que ser defendida nessa condição.

É claro que nós somos contra a corrupção, mas não podemos abrir mão desse patrimônio, pela cadeia de empreendimentos que lidera. São mais de 5.000 fornecedores, nacionais e estrangeiros. Cadeia esta que está em risco. O presidente da Statoil veio ao Brasil na semana passada e encontrou-se com o presidente da República para dizer que o Brasil devia rever a sua política de conteúdo local, dizer que o Brasil devia abrir mão da operação exclusiva dos campos de petróleo. Por quê? Porque não interessa à Statoil o desenvolvimento brasileiro. Interessa a Statoil lucros para o povo da Noruega, porque a Statoil é uma estatal norueguesa. Mais estatal que a Petrobras, que teve quase dois terços do seu capital cedidos ao exterior há 15 anos e hoje tem 54% do seu capital cotado na bolsa de Nova York.

Há outro setor que vai entrar na linha de tiro nos próximos dias: o aeroespacial. A Embraer vai ser atacada! E no momento seguinte a Embrapa será atacada, para que tudo aquilo que aqui signifique desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento científico seja jogado fora. Por isso acabaram com o Ministério da Ciência e Tecnologia: não interessa mais o desenvolvimento tecnológico e científico do país.

É hora, pois, de unirmos a Engenharia para resistir ao desmonte em curso, para que o Brasil das próximas décadas seja democrático, soberano, desenvolvido e socialmente justo.

Muito obrigado”.

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