Nossas instituições, os poderes independentes da República, a participação popular, a imprensa livre, todo este sistema é resultado de uma construção feita ao longo de décadas. Desde os anos 50 no mínimo. No período, ocorreram inúmeros acidentes institucionais: o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros, a breve experiência parlamentarista, a ditadura militar,
a trágica morte de Tancredo Neves no dia de sua posse. Todos esses traumas felizmente foram superados com a redemocratização nos anos 80, assegurada e consagrada com a promulgação da Constituição de 1988. Desde então, as instituições democráticas, embora por vezes arranhadas, até aqui têm sobrevivido.

Nesse cenário evoluímos e podemos afirmar que não há no Brasil forças significativas que se empenhem pelo fim do processo democrático. Vivemos um período marcado por conquistas permanentes, como a liberdade de expressão e políticas de inclusão social e de combate à discriminação de minorias.

Entretanto, o que vemos hoje? Uma crise de múltiplas características, cuja face mais visível é a econômica e a mais cruel, o desemprego. Mais do que uma recessão, tendemos à depressão, à falência das finanças públicas, a um colapso de iniciativas de boa qualidade e à dificuldade de atuação das empresas estatais.

Nesse quadro, a macroeconomia é o principal objeto de estudos e de trabalho de autoridades e da comunidade dos economistas. É claro que a correta condução macroeconômica é importante,
mas sabemos que não basta. A saída da crise depende da Política. A economia só funciona por autorização dos agentes políticos, com leis que embasem a atuação dos agentes econômicos.

E o que vemos nos dias atuais é inacreditável, gravíssimo e inédito. Conflito de poderes constituídos, ausência de autoridade e de um projeto claro de Nação levam à insegurança em diversos níveis. Os que têm a responsabilidade de decidir investimentos produtivos olham, em primeiro lugar, a estabilidade política, em segundo, a segurança jurídica e, em terceiro, as condições econômicas.

É certo que temos um enorme mercado interno que tende a desenvolver-se. O país, afinal de contas, irá crescer a médio prazo, e pode crescer muito. Com certeza, pode integrar-se de forma adulta e altiva na comunidade econômica internacional, modulando suas ações comerciais e na diplomacia, com presença firme em cada um dos mercados e organizações multilaterais.

Entretanto, no momento, face ao retrato do desgoverno, não só do Poder Executivo, mas do relacionamento institucional entre este, o Legislativo e o Judiciário, a decisão de investir é, no mínimo,
adiada. Hoje se discute, ao contrário, no ambiente empresarial como desistir de investir. O que é um absurdo, mas real. Como fazer para retirar unidades já prontas. Como adiar o funcionamento de
unidades de produção.

E a engenharia e a produção nacionais ficam gravemente afetadas no momento em que parece mais fácil simplesmente importar produtos industriais mais elaborados, em troca de produtos
primários possibilitados pela vastidão e qualidade do nosso território.

Tudo tem que ser feito, neste momento, pelos poucos líderes responsáveis que ainda atuam. Seria desejável que estivessem juntos num único encontro, de longa duração que seja, mas do qual surgisse uma solução altruísta, definitiva, que olhe para o futuro, tendo em vista a realidade do presente.

Não adianta culpar A, B ou C ou parte do processo que possa ser questionado. Governo e oposição, cientistas políticos e economistas, empresários e trabalhadores, todos nós enfim, precisamos saber que o problema é um só, que afeta a todos e que exige, para que a democracia seja preservada, uma solução Política.

A Diretoria

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