Por Eugênio Miguel Mancini Scheleder*
Publicado em Brasil e Energia Petróleo e Gás
Edição junho / 2017

Cresce a percepção de que os preços do petróleo permanecerão mais baixos por um período mais longo do que se esperava. O ambiente de preços elevados vigente até 2014 criou condições favoráveis para que os produtores de óleo de xisto dos EUA aumentassem a produção e se transformassem em uma ameaça real às quotas de mercado dos países da OPEP. Novas tecnologias conferiram ao óleo de xisto uma notável resiliência à variação de preços e as empresas de O&G norteamericanas continuaram a produzir mesmo com o petróleo em torno de US$40/barril.

Além dos EUA, a China, a Argentina e o Reino Unido vêm trabalhando na exploração dos seus potenciais de xisto. No curto e médio prazos, portanto, o mercado mundial permanecerá regulado pela disputa de “market share” entre os países da OPEP e os produtores de óleo de xisto. No futuro mais distante, a demanda de petróleo será reduzida pelas pressões ambientais, pela competição com a eletricidade gerada por energias limpas e gás natural e pela introdução do veículo elétrico no mercado. Neste cenário, as empresas de O&G enfrentarão grandes dificuldades para comercializar os seus produtos. 

As grandes petroleiras parecem mais conscientes das mudanças que virão e buscam se posicionar em modelos de negócios que permitam agregar maior valor ao petróleo, defender seu “market-share” e diversificar as suas atividades. A produção de petroquímicos e fertilizantes e o investimento em energias renováveis, captura de carbono e eficiência energética seriam alguns modelos a serem incorporados. Exxon Mobil, Shell, Total, Chevron e outras grandes empresas estão se movendo nessa direção, visando competir com os produtores que têm menores custos de produção.

Desde a sua criação, a Petrobras cresceu de forma integrada e buscou adicionar valor ao petróleo mediante a produção de derivados, lubrificantes, petroquímicos e fertilizantes. Nos últimos 20 anos, investiu em biocombustíveis, para preservar o seu “market-share” nos mercados de gasolina e diesel, e promoveu a diversificação de seus negócios, com usinas termétricas, eólicas e PCH. Alcançou, já em 2015, um posicionamento estratégico de causar inveja às suas congêneres multinacionais. O PNG 2017-2021, no entanto, desconsiderou essa trajetória de sucesso e optou por enfrentar o endividamento da companhia com a venda de seus ativos mais estruturantes. Foi o predomínio da visão financeira de curto prazo, que desprezou as orientações estratégicas da companhia e os riscos do mercado.

Os últimos resultados da Petrobras foram significativos. Em 2016, o endividamento líquido caiu 20%, passando de R$ 392 bi para R$ 314 bi. O Ebitda atingiu R$ 88,7 bi, mostrando a vitalidade da empresa e surpreendendo aqueles que previam o seu fracasso. A relação dívida líquida/Ebitda foi reduzida de 5,11, em dezembro de 2015, para 3,54, no final de 2016. No 1º trimestre de 2017, foi registrada nova queda do endividamento líquido, para R$ 300,9 bi e a relação dívida líquida/Ebitda caiu para 3,24, aproximando-se ainda mais da meta estabelecida no PNG, de 2,5 ao final de 2018. Muitos analistas consideram essa meta tecnicamente discutível e afirmam que a sua transferência para 2019 evitaria a venda de ativos importantes, como a BR Distribuidora. Abrir o capital da BR seria, na opinião desses analistas, uma alternativa muito mais inteligente.

A venda de ativos estratégicos é um equívoco monumental e coloca a Petrobras na contramão das grandes petroleiras em todo o mundo. Os sistemas de transporte e distribuição são estruturantes do abastecimento do mercado nacional, principal negócio da empresa e seu maior gerador de receita. As áreas de petroquímica e fertilizantes permitem adicionar valor ao petróleo e ao gás natural, enquanto o setor de biocombustíveis protege o “market share” da companhia nos mercados de gasolina e diesel. 

Transformar a Petrobras numa empresa de O&G, dedicada ao pré-sal, é um equívoco ainda maior. O petróleo produzido em águas ultraprofundas enfrentará, no futuro, enormes dificuldades de comercialização, em um mercado cada vez mais competitivo e mais restrito. 

*Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro aposentado da Petrobras. Também ocupou cargos de direção nos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento, de 1991 a 2005. Atualmente, exerce a função de Mediador Extrajudicial, capacitado pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem – CCMA/RJ. 

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