O futuro da inovação na indústria brasileira

Nanotecnologia, convergência tecnológica, setor energético, biotecnologia, Internet das Coisas. São esses os principais clusters (áreas de transformação) que um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) traça para o futuro das inovações na indústria brasileira para a próxima década. A pesquisa foi apresentada durante a 18ª edição dos Diálogos da Modernização Empresarial pela Inovação (MEI), evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para David Kupfer, coordenador geral do projeto e pesquisador da UFRJ, o Brasil está atrasado no que diz respeito aos incentivos à inovação. “As inovações, hoje, estão numa fase em que não transformam, não melhoram a competição. Mas há grande possibilidade de isso acontecer na próxima década”, disse ele à Agência Brasil. Além dos clusters, Kupfer destacou a importância da cibersegurança, do apelo ecológico e da capacitação profissional neste tema.

Os debates sobre inovação tecnológica fazem parte da agenda do Clube de Engenharia, que já tratou de algumas das áreas de transformação apontadas pelo estudo. Em agosto, a palestra do pesquisador Flávio Peixoto, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), trouxe a importância da visão sistêmica sobre o uso de nanotecnologia na economia. Segundo ele, na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo federal, vigente entre 2016 e 2019, a nanotecnologia foi considerada área prioritária, embora não haja dados sobre sua aplicação. “Notamos que as políticas estavam sendo pensadas e postas dentro de uma visão linear do processo de inovação. Supostamente se parte da invenção, a pesquisa é aplicada, ocorre produção e comercialização. Mas o que se nota é que o processo é muito mais complexo. Precisa-se de uma visão sistêmica para se pensar a inovação”, afirmou o pesquisador, que ainda reforçou a viabilidade desse ramo tecnológico nas áreas de biomedicina, energia, automobilística, cosméticos, entre outros. No estudo apresentado pelos pesquisadores da UFJR e Unicamp, há justamente a aposta de que a nanotecnologia deve amadurecer nos próximos cinco anos.

Com relação à energia, o pesquisador da UFRJ assinala que devem ocorrer apenas impactos moderados. No Clube de Engenharia, evento em setembro debateu as privatizações no Sistema Eletrobras e seu impacto na adoção de energias renováveis, uma das principais inovações no setor observadas ao redor do mundo. Ronaldo Bicalho, do Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IEI/UFRJ) e Instituto Ilumina, observou na ocasião que a privatização do setor vai na contramão do visto em países como Alemanha e China. “Quando olhamos para o mundo, vemos que o que caracteriza o setor elétrico hoje é uma mudança radical da matriz da geração de eletricidade em direção aos combustíveis renováveis, essencialmente energia eólica e solar. É uma transição em que Estados desempenham um papel importante”, disse ele. O evento reuniu acadêmicos, parlamentares, técnicos, sindicalistas e representantes de movimentos sociais, que ratificaram a importância de se manter o setor elétrico como público e planejado pelo Estado, de forma que seja possível investir em inovação e integração sem que se perca a visão social da energia como se tem tido até hoje.

Ainda tangenciando a questão da energética, são importantes discussões sobre políticas no setor de petróleo e gás, hoje essenciais à matriz do país. Um exemplo é o atual desmonte sistemático da política de conteúdo local. Classificado como motor de desenvolvimento por especialistas da Audiência Pública "O conteúdo local na cadeia de petróleo e gás”, realizado em setembro no Clube, a política que prevê obrigatoriedade de uso de tecnologia nacional na exploração do pré-sal está sendo extinguida, pouco a pouco, pelo atual governo. “Hoje há uma recentralização do debate da importância da engenharia e da atividade produtiva nos países centrais. Não se discute mais a distinção entre política de inovação, política tecnológica e política produtiva nos países centrais. o pré-sal representa um novo paradigma para o setor, com novas tecnologias, equipamentos e projetos de engenharia, que serão demandados no futuro”, afirmou na ocasião Bruno Araújo, engenheiro e representante da Associação de Funcionários do BNDES. Os convidados da Audiência Pública, representantes do setor privado, parlamentares, acadêmicos e sociedade civil, reafirmaram o papel da política como incentivo ao desenvolvimento de tecnologias nacionais. “Com conteúdo local, teremos empregos diretos e indiretos resultantes do efeito renda, aquilo que tem antes da produção e depois da produção de petróleo”, disse José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

No âmbito da Internet das Coisas, o especialista da Unicamp Antônio Bordeaux indica que a aplicação dessa tecnologia deve gerar ganhos de 20% a 30% em produtividade. O anúncio do Plano Nacional da Internet das Coisas, feito pelo governo federal no início de outubro, também foi destaque no portal do Clube de Engenharia: diante de estudo do BNDES que prevê 132 bilhões de dólares anuais movimentando a economia por meio desse setor, políticas públicas nas áreas de saúde, cidades, indústria e meio rural são promessas de desenvolvimento para o Brasil.

Os impactos colaterais dessas inovações no mercado de trabalho, apontados por Bordeaux principalmente no que diz respeito à necessidade de qualificação profissional, ganhou destaque no Clube de Engenharia com o seminário "O futuro do trabalho no Brasil", organizado pela COPPE/UFRJ e Laboratório do Futuro em outubro. Na ocasião, especialistas trouxeram reflexões sobre como a automatização na Indústria 4.0, entre outras transformações, será fator determinante de mudanças nas relações trabalhistas nos próximos anos.

Com informações de Agência Brasil

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