Publicado no Jornal do Brasil (03/05/2018)
Pedro Celestino é Presidente do Clube de Engenharia

Comecei a ouvir falar do JB ainda criança, pois um dos meus avós foi dele redator por muitos anos. Passei boa parte da infância em São Paulo, meu pai era oficial do Exército e lá serviu por duas vezes, totalizando quatro anos e meio, de modo que não tenho lembrança maior daquele tempo,  a não ser que era um jornal pesado, cheio de anúncios.

O JB passou a ser parte do meu cotidiano a partir de 59, quando a reforma gráfica, empreendida sob a direção de Janio Freitas, fez dele o mais moderno jornal brasileiro de então. O Caderno B, dedicado à cultura e entretenimento, em época de grande efervescência na área, pois vivíamos os primórdios da Bossa Nova e do Cinema Novo, logo tornou-se leitura obrigatória de todos nós.

Tristão de Ataíde, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Castello Branco, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Alberto Dines, Zuenir Ventura, Heráclio Salles, Newton Rodrigues, Mauro Santayana, Mario Martins, Wilson Figueiredo, Newton Carlos, Marcos Sá Corrêa, João Saldanha, Carlos Lemos, Barroso do Amaral, Odilo Costa Filho, Eli Azeredo, Reynaldo Jardim, Mario Pedrosa, balizavam, dia a dia, as nossas opiniões.

O jornal desempenhou papel importante na resistência à ditadura. No dia seguinte à edição do AI-5, sua primeira página é antológica: no canto  superior esquerdo, a previsão do tempo – tempo negro, temperatura sufocante, o ar está irrespirável, o país está sendo varrido por fortes ventos, máx. 38o em Brasília, 5o em Laranjeiras – no canto superior direito, a frase “ontem foi o dia dos cegos”. Driblou inúmeras vezes a censura, em notas de canto de página, informando sobre prisões,  o que possibilitou, não só assegurar a sobrevivência de presos, como evitar outras, delas decorrentes. Nascimento Brito, o genro da condesa, dona do jornal, equilibrava-se entre as suas atitudes favoráveis ao regime e a liberdade que dava à redação.

Infelizes decisões empresariais no início da década de 70, a construção de dispendiosa sede na Avenida Brasil e a ação do nylon print como processo de impressão, superado pouco depois pelo off set, que veio a ser adotado pelo O Globo, asfixiaram financeiramente o jornal, que passou a viver lenta agonia.

A sua volta às bancas é alvissareira, pois devolverá aos leitores fluminenses a possibilidade de fugir do monopólio midiático ao qual estão desde há muito submetidos, no momento em que o país vive a maior crise da sua história, quando estão ameaçadas conquistas econômicas e sociais das últimas seis décadas, que nos possibilitaram passar de simples exportadores de matérias-primas a uma das maiores economias do mundo.

Se o JB se mantiver comprometido com a defesa da democracia, da soberania e do desenvolvimento socialmente inclusivo, honrará suas melhores tradições e prestará inestimável serviço ao país. É o que todos desejamos.

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