Uma peça rara do Brasil do século XIX, marco da industrialização que se iniciava no país, guardada no Clube de Engenharia por mais de um século, agora integra o acervo histórico em exposição na Sala dos Conselheiros. A bandeira do Brasil imperial ornou a locomotiva Baroneza na viagem inaugural da primeira ferrovia do país, Estrada de Ferro de Mauá, em 1854. Tornou-se um presente para o Clube de Engenharia, doado pelo Comendador José Correia de Aguiar, um dos responsáveis pela linha férrea. Após dois anos de restauração, no dia 07 de maio, o Clube comemorou a abertura da exposição. Presentes, além de conselheiros e diretores, Isabel Cristina Junqueira de Andrea, presidente da Associação de Engenheiros Ferroviários (AENFER), e Lilian Ramos, tetraneta do Barão de Mauá.
Um brasileiro pioneiro
O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, prestou homenagem a Barão de Mauá, banqueiro e pioneiro da industrialização no Brasil. “Um homem que empreendeu notavelmente com realizações que foram marcos. Esta casa é uma casa que valoriza o passado, valoriza o trabalho de um brasileiro que tornava possível transformar esse país, ao longo dos 200 anos de independência, numa das maiores economias do mundo”. Ele lembrou que o momento atual também se coloca como um desafio para os que acreditam no desenvolvimento do país: “Hoje, ao alvorecer do século XXI, vemo-nos novamente diante de desafios semelhantes ao que Mauá enfrentou. Passamos por um sistemático desmonte de conquistas econômicas e sociais conquistadas ao longo dos últimos 80 anos. Mauá é a nossa busca”, afirmou Pedro Celestino.

Bandeira agora se encontra na Sala dos Conselheiros, no 20º andar da Sede Social do Clube de Engenharia.
Foto: Fernando Alvim
O Diretor de Atividades Culturais, Cesar Drucker, responsável pelo evento, afixou ao lado da bandeira o documento “A engenharia brasileira e os saltos tecnológicos no passado, no presente e no futuro”, sobre a história do desenvolvimento industrial no Brasil. O quadro traz um resumo de cada revolução industrial, desde a primeira, marcada pela indústria a vapor e as ferrovias, com destaque para o Barão de Mauá, até a quarta revolução industrial, vigente hoje, caracterizada pela informatização, robótica e outros elementos.
Vitalização da memória
Drucker comentou a honra de ter na Presidência do Clube uma homenagem ao Barão de Mauá: “Em muitos ambientes de poder sempre há nas paredes símbolos dos antepassados, daqueles que tiveram feitos importantes e que nos iluminam nas ações e nos pensamentos”. Segundo ele, agora a Sala dos Conselheiros se encontra agraciada com a memória de um brasileiro que valorizava inovação e que teve “a coragem extraordinária de trazer novas tecnologias para implantar aqui no Brasil”.

Lilian Ramos, tetraneta do Barão de Mauá. À direita, retrato de perfil de Mauá, que foi sócio do Clube. Foto: Fernando Alvim
Lilian Ramos, tetraneta do Barão de Mauá, que em 2017 lançou, no Clube de Engenharia, o livro "Mauá, muito além da família", falou do apreço do industrial pela engenharia: “Ele mesmo só estudou dois anos do ensino formal. Mas era uma pessoa muito inteligente, estudou por conta própria, e tinha um profundo respeito pelos engenheiros. Ele dizia que se fosse escolher uma profissão seria a de engenheiro. Foi um estimulador, porque sendo um homem muito rico, podia bancar suas iniciativas. Mas antes de iniciar uma nova empreitada estudava livros de engenharia, convidava engenheiros para fazerem estudos. A ligação entre Mauá e a engenharia é forte”, concluiu.

Da esquerda para a direita: Isabel Junqueira, Cesar Drucker e Lilian Ramos. No retrato ao centro, de perfil, Barão de Mauá, que foi sócio do Clube. Foto: Fernando Alvim
Isabel Junqueira expressou a honra de representar a AENFER, Associação que, segundo informou, conta com uma Diretoria Cultural e de Preservação da Memória Ferroviária, participando da preservação do patrimônio material de inestimável valor para a história das ferrovias, dos ferroviários e do país.