
KC-390: avião para transporte tático/logístico e reabastecimento em voo, desenvolvido e fabricado pela Embraer Defesa e Segurança. Foto: Embraer.
A palestra "O Papel da Engenharia no Planejamento e Preparo da Defesa", que o Clube de Engenharia promoveu em 29 de julho, permitiu importante exposição e rico debate sobre política industrial e pesquisa e desenvolvimento, além de uma avaliação crítica da formação dos engenheiros no setor, entre muitas outras questões abordadas. O palestrante, Eduardo Brick, com graduação em Engenharia Elétrica/Eletrônica e doutorado em Engenharia de Sistemas, é professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), docente do Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa (PPGSID) da Escola Superior de Guerra (ESG), e membro da Academia Nacional de Engenharia (ANE). Em sua exposição, Brick enfatizou a necessidade de a sociedade brasileira entender que a Defesa de um país não se faz apenas com aparato militar. É necessário um grande investimento em desenvolvimento tecnológico.
Neste contexto, planejar em tempos de paz significa identificar as necessidades de base operacional para combate e também base industrial de média e alta tecnologia. É um planejamento que consome expressivos recursos financeiros e demanda décadas de dedicação, mas é essencial: "O planejamento é uma atividade complexa, vital e altamente estratégica para o país", afirmou.
São diversos os recursos estratégicos para a Defesa, que podem ser divididos entre os que competem às Forças Armadas e os que competem à indústria. Nas Forças Armadas os investimentos devem focar no desenvolvimento de recursos humanos, infraestrutura militar e outros meios de combate e apoio logístico. Em paralelo, faz-se necessária uma base industrial de Defesa, com a atuação das instituições de Pesquisa e Desenvolvimento. Eduardo Brick chama de Base Logística de Defesa (BLD) o sistema que deve ser estabelecido para criar e instrumentar amplamente a capacidade militar. É justamente na BLD que atuam engenheiros e outros técnicos e cientistas. Ele acrescentou que, embora a Defesa não tenha o papel de girar a economia, e sim de garantir a segurança nacional, é uma área com potencial de gerar emprego, renda e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Porém, só tem impactos relevantes quando seu orçamento supera 5% do PIB.

O professor Eduardo Brick apresentou as prioridades para o desenvolvimento da área de Defesa no Brasil. Foto: Jhonattas Santos.
Déficit tecnológico
Uma das críticas de Brick à política industrial no Brasil é o déficit tecnológico. A diferença entre o quanto se importa e o quanto se exporta em produtos de média e alta tecnologia é da ordem de 90 bilhões de dólares. Isso faz do Brasil apenas um montador, segundo o palestrante. Outro dado é que, dentro de todo o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, é ínfimo o valor destinado à Defesa. Enquanto no Reino Unido é de 25%, no Brasil não chega a 2%.
Em pauta, no debate que se seguiu à apresentação, a necessidade do corpo militar em seu conjunto, dos mais jovens aos veteranos, ter um pensamento estratégico e de haver maior mobilização da sociedade na reivindicação de mais investimento em tecnologia. Para Brick, falta ainda na classe política que comanda o país a definição de rumos e a tomada de decisões mais estratégicas, com uma visão clara das metas a atingir. Finalmente, em debate, a fraca formação de engenheiros no setor, como na área de Engenharia de Sistema, que conta com poucos cursos no país e tem um número mínimo de profissionais atuantes.
O evento foi promovido pelo Clube de Engenharia, Academia Nacional de Engenharia (ANE), Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e Divisão Técnica de Ciência e Tecnologia. Apoiaram a palestra as divisões técnicas de Geotecnia (DTG), Exercício Profissional (DEP) e Formação do Engenheiro (DFE).
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