Inovação e indústria 4.0: a Engenharia e seu impacto social

Após vencer concurso internacional, estudantes de graduação e mestrado do CEFET e UFRJ buscam viabilizar a comercialização do produto que poderá ajudar 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Foto: Equipe Tupã / Divulgação

O mundo vive a Revolução Industrial 4.0 e o Brasil é parte disso. Foi o que levou, entre outras razões, a Divisão Técnica de Manutenção (DMA) a propor um olhar para o futuro com base em um presente que, acreditem ou não, já é realidade. Conhecida como a “quarta revolução industrial”, a tecnologia 4.0 usa conceitos e inventos avançados para reinventar produtos e serviços, desde o design até a efeiciência operacional.

A engenharia tem um papel social que muitas vezes é esquecido e a tecnologia 4.0 pode ser o incentivo definitivo para que ela se volte para essa questão fundamental. Já está acontecendo: um concurso internacional, o Invent for the Planet (Invente pelo Planeta), realizado pela Texas A&M University, em 2019, que tem como premissa a invenção de tecnologias que melhorem a vida das pessoas. Participaram 25 universidades de todo o mundo, com representantes do Brasil, Bélgica, EUA, México, França, Grécia, Qatar, Paquistão, Índia, Myanmar, Tailândia, Vietnam e Austrália.

A equipe vencedora do concurso, a brasileira Tupã, composta por alunos de engenharia do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre a experiência na palestra “Revolução Industrial 4.0, Inovação e Networking”. O grupo criou um sistema que pode vir a substituir as bengalas usadas por deficientes visuais no seu cotidiano. O aparelho trabalha com sensores colocados tanto em um boné quanto em um pequeno bastão, do tamanho de um smartphone, que cabe na palma da mão, muito simples de carregar. Os dois dispositivos têm a capacidade de identificar obstáculos à frente do usuário e têm motores de vibração que servem como alertas. É uma espécie de bengala virtual.

Tecnologia à disposição da sociedade
Segundo Breno Ferreira, estudante de Engenharia Eletrônica no CEFET, a competição reuniu empresas do mundo todo que apresentaram problemas sociais que deveriam ser resolvidos pelos competidores, como a filtragem de água suja em regiões pobres, rastreio de animais marinhos, melhora da qualidade de vida das pessoas e inclusão de idosos na sociedade.

Breno explicou que o mercado de deficientes visuais é grande, mas ainda tem poucas soluções tecnológicas. “São cerca de 40 milhões de pessoas cegas no mundo. Nossa ideia foi desenvolver um dispositivo que ajuda na mobilidade dessas pessoas através da eletrônica e tecnologia. Nosso projeto teve como requisitos principais detectar proximidade com qualquer obstáculo ou pessoa, não comprometer outros sentidos do deficiente, ser discreto e barato”, explica Breno.

Felipe Macedo, também do CEFET, destacou que o que há no mercado hoje para o público deficiente visual é muito caro. “Há um óculos que lê placas para o deficiente. Ele custa R$ 20 mil. Há também um cão robô de R$ 10 mil. Em 48 horas, o tempo que o concurso define para a invenção, nós conseguimos criar um equipamento de apenas R$ 100 reais. Não bastava ser bom e com uma aplicabilidade relevante: tinha que ter uma venda potencial boa também”, destaca Felipe. O norte do concurso e do trabalho da Equipe Tupã, no entanto, era o impacto social. “A engenharia não está atrelada apenas à área técnica, mas também à área social. Esse é o principal papel dela: servir à sociedade de forma eficiente. Não é só lucro e maquinário. Ter um impacto social é fundamental”, finaliza Breno.

Integração Indústria e Universidade
Outro viés muito forte na Indústria 4.0, o trabalho conjunto entre empresa e universidades, foi destacado por Rafael Mello, especializado em Design Thinking, Design Estratégico e Inovação. Na ocasião, Rafael falou sobre sua experiência na Brunel University London, onde concluiu o seu doutorado. O projeto apresentado por Rafael foi financiado pela Samsung Eletronics, que abordou a universidade em busca de consultoria para desenvolver estratégias de futuros eletrodomésticos para o mercado europeu, principalmente geladeiras, aspiradores de pó e lava louças. O trabalho, que reuniu 8 pessoas, entre professores, estudantes de mestrado e de doutorado, durou cinco mesese os produtos seriam desenvolvidos nos anos seguintes.

Segundo Rafael, o projeto envolveu brainstorms e a participação direta de especialistas e usuários. “Trazer esses dois tipos de pessoas com mindsets totalmente diferentes é muito enriquecedor porque nesse momento acontece o encontro daqueles que têm problemas a resolver com pessoas que podem trazer soluções”, ressaltou. A pluralidade e multidisciplinaridade da equipe também foram apontadas como fatores determinantes para o projeto: “Éramos pesquisadores vindos do Brasil, Taiwan, Tailândia e Quênia, todos com perspectivas diferentes e um modo de analisar diferente, garantindo uma riqueza muito grande para os brainstorms”, ressaltou.

Respeitar características para tirar o melhor de cada mundo é muito importante nessas relações. Rafael destacou que, geralmente, consultorias fora de universidades sofrem pressão muito grande para terminar o trabalho muito rápido, algo que não acontece nas universidades. “A pressa tem relação com o concorrente da empresa contratante, que está sempre fazendo algo para ser lançado. Nossa abordagem, no entanto, era acadêmica, onde o tempo passa mais devagar com foco na geração de conhecimento da melhor forma possivel”, explicou, apontando que “a integração entre indústria e universidade, muito forte na Europa e quase inexistente no Brasil, possibilita o desenvolvimento de um conhecimento técnico muito grande que se transforma em soluções para a sociedade”.

A mesa de abertura do evento contou com a presença de Fernando Tourinho, diretor de Atividades Técnicas do Clube de Engenharia e, ao final do evento, o engenheiro Cezar Loroza, chefe da DMA, apontou a importância do networking e falou de sua experiência na área. O evento teve o apoio das divisões técnicas de Exercício Profissional (DEP) e Formação do Engenheiro (DFE).

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